Embalado pelos muitos anos de bonança, o mercado brasileiro de gestores de fundos cresce sem parar. Nem mesmo a recente crise financeira conseguiu brecar essa onda de expansão e, por que não dizer, de otimismo. Levantamento do Valor com base nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) aponta que o setor ganhou mais de cem novas assets desde 2006, passando de 217 em dezembro daquele ano para 334 em fevereiro. Ao longo de 2008 - ano mais impactado pela turbulência global -, foram abertas 43 gestoras, entre elas assets importantes na cena internacional, como a americana
Os avanços do Brasil no campo macroeconômico - com controle de inflação, solidez fiscal, queda da taxa de juros - e, consequentemente, no mercado de capitais, estão no pano de fundo da forte expansão das assets. Os gestores enxergaram na busca crescente do investidor por alternativas de aplicação mais rentáveis uma oportunidade de negócio.
No ano passado, segundo relatório da
Outro fator que estimulou o aumento dos gestores, segundo o executivo, foi a consolidação bancária, com o consequente enxugamento dos quadros de funcionários. "Sobrou muita gente boa no mercado." E, diga-se de passagem, com dinheiro no bolso. Esse é o tipo de profissional que não delega a gestão de seus recursos para terceiros, afirma Moratelli. "Se vão cuidar do dinheiro próprio, montar uma asset é um passo natural."
A barreira de entrada nesse mercado é nula, o que contribui para o surgimento de novos participantes, ressalta Gilberto Faiwichow, sócio da
Já a
E foi essa expertise que motivou a criação da asset, diz Pinho. "Apostamos na nossa capacidade de implantar um negócio bem estruturado, com pessoas experientes." O primeiro fundo da Kapitalo, que começa com nove profissionais, é um multimercado multiestratégia, com foco nos segmentos de moedas e juros. A carteira começou com recursos dos sócios e acaba de ser aberta para captação de terceiros.
No universo da renda variável, outra casa nova é a
Ricardo Kovach, sócio da AguasClaras responsável pelas áreas financeira e de operações, enxerga um futuro bastante promissor para o segmento de fundos, especialmente de renda variável. "Olhando para o longo prazo, a tendência do juro é para baixo, o mercado de capitais vai crescer e o brasileiro vai passar a ter uma parcela maior de sua poupança em ações", afirma. Na visão dele, há espaço para butiques de investimento especializadas e tudo é uma questão de nicho. "São pouquíssimos os fundos quantitativos, e mesmo o segmento de ações tem oportunida-des." Disputar um mercado consolidado é mais difícil, observa.
Novos gestores vão continuar surgindo, especialmente os de nicho, acredita o diretor de investimentos do
Mas ele faz uma ressalva: "não é certo que dois gestores pensando a mesma coisa consigam maximizar os ganhos juntos, alguma consolidação pode acontecer, mas mais no nível operacional e comercial". Para o diretor do Credit Suisse, o que pode acontecer é uma asset independente complementando sua prateleira de fundos, acrescentando uma carteira quantitativa, outra de crédito privado.
Há quem olhe essa onda de crescimento com um pé atrás. "No período de bonança para os mercados, entre 2003 e 2007, houve um crescimento exagerado de novas assets, com característica de bolha", afirma o sócio da
Para ele, é possível esperar um movimento de concentração de gestores nos próximos anos. "Vamos ver muita gente fechando as portas ou sendo comprada." Ele cita a volta do apetite de gestores estrangeiros por Brasil, interrompido pela crise.