27 de Outubro de 2008 - 14h:55

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Fazendas de cafés especiais atraem capital estrangeiro

Por: Valor Econômico - Mônica Scaramuzzo

Quando os primeiros imigrantes, sobretudo italianos e japoneses, chegaram ao Brasil, entre o fim do século XIX e início do XX, boa parte deles foi absorvido pelas lavouras cafeeiras do país. Os estrangeiros, àquela época, começaram a substituir os escravos como mão-de-obra nos cafezais, que eram a principal atividade econômica do país. Hoje nas fazendas, principalmente de grãos especiais, os estrangeiros também estão presentes. Mas não mais como força de trabalho, e sim como investidores.

Faz tempo que o café deixou de ser um negócio rentável no país. Pelo menos esse é o argumento de boa parte dos cafeicultores brasileiros, que afirmam que os baixos preços da commodity no mercado internacional e os altos custos de produção no país comprometem a rentabilidade da cultura. Essa máxima não vale para os grãos especiais. E nessas fazendas cresce o interesse de investidores estrangeiros no negócio, que também são atraídos pelo conceito de sustentabilidade da produção. 

A Ipanema Coffees, de Alfenas (MG), foi uma das primeiras do país a atrair capital internacional. Quando o grupo Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, resolveu vender a participação na empresa em maio, a norueguesa Friele, a maior torrefadora daquele país, entrou como sócia, com participação de 20% nas fazendas e nos negócios do conglomerado. 

Em São Sebastião da Grama (SP), cidade que faz divisa com Poços de Caldas (MG), uma das maiores regiões produtoras de cafés especiais do mundo, os noruegueses também são sócios da fazenda Lambari, uma das quatro propriedades que pertencem a Astro Café, torrefadora brasileira que comercializa e exporta cafés especiais. A Astro possui cinco sócios, quatro da família Mariani, controladores do banco BBM, e a Ipanema Coffees. "A companhia [Friele] deverá negociar maior participação na Ipanema", diz Raymond Rebetez, um dos diretores do grupo. As negociações ainda estão em andamento e devem demorar mais por conta da turbulência financeira global. 

Fundada em 2001, a Astro Café tem uma produção de cerca de 25 mil sacas de 60 quilos de café, dos quais cerca de 70% são exportadas, diz Rebetez. O negócio de cafés especiais da Astro é a "menina dos olhos" do grupo, que também tem pomares de laranja e é um dos fornecedores da multinacional Louis Dreyfus. 

A presença de capital estrangeiro nas fazendas de café tem crescido aos poucos no país. Hoje eles dominam a produção de café torrado e moído do Brasil. A gigante Sara Lee, com seis marcas no país, é a líder, seguida pela Santa Clara, que tem como sócia a israelense Strauss-Elite. A alemã Melitta é a quarta. 

O cafeicultor Gabriel de Carvalho Dias, um dos maiores produtores do grão arábica bourbon amarelo, top de linha para a produção de cafés especiais do país, acabou se rendendo aos sócios internacionais. Sua trading, a Bourbon Specialty Coffees, tem parceria com a Eisa, dos irmãos espanhóis Esteve, que são tradicionais traders de café e algodão no país. 

A participação de capital estrangeiro nas fazendas de cafés ainda está restrita aos grãos de qualidade superior. Segundo Gilson Ximenes, presidente do Conselho Nacional dos Cafeicultores (CNC), as fazendas de cafeicultores convencionais são controladas por capital nacional. A exceção é a trading alemã Stockler, uma das maiores comercializadoras de cafés do mundo. No Brasil, a trading, com sede em Santos (SP), também possui duas fazendas de café em Minas Gerais. 

A presença de estrangeiros na produção de café não é exatamente um movimento novo no país. Com a chegada dos primeiros imigrantes ao Brasil, os cafeicultores resolveram seu problema de falta de mão-de-obra, escassa após o fim da escravatura. "Mas as condições de trabalho naquela época não eram das melhores", lembra Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP), e diretor do Museu do Café, também localizado na mesma cidade. 

"Muitos fazendeiros tratavam os imigrantes como escravos. Com isso, parte desses imigrantes voltou para sua terra natal. Uma parte dos imigrantes que decidiu ficar economizou para comprar suas próprias fazendas e dar início à produção de café. Isso aconteceu sobretudo a partir de 1930, após a quebra da bolsa de Nova York", diz Carvalhaes. 

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