19 de Junho de 2018 - 13h:26

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Saques do Fundo PIS-Pasep não devem impulsionar o PIB como FGTS inativo, dizem analistas

Economista estima que a medida ajude o PIB deste ano em 0,15 ponto percentual, enquanto impulso do FGTS no ano passado foi de 0,4 ponto em 2017.

Por: Karina Trevizan, G1

 

A liberação do pagamento de recursos do Fundo PIS-Pasep pelo governo pode ter um impacto positivo sobre o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, mas ele deve ser menor que os saques de contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em 2017. Pelo menos essa é a expectativa de analistas ouvidos pelo G1.

 

Começou na segunda-feira o pagamento dos recursos do Fundo PIS-Pasep para quem tem a partir de 57 anos. Têm direito a esse dinheiro os trabalhadores de organizações públicas e privadas que contribuíram para o PIS ou para o Pasep até 4 de outubro de 1988 e que não tenham resgatado todo o saldo. Quem passou a contribuir após essa data não tem saldos para resgate.

 

Em 2017, o consumo das famílias foi, ao lado do agronegócio, um dos puxadores do crescimento do PIB. E o avanço do consumo foi mais intenso no segundo e no terceiro trimestre do ano, indicando a influência dos saques do FGTS. Para as retiradas do PIS-Pasep, no entanto, a estimativa é diferente.


O economista Rodolfo Margato, do Santander, aponta que a liberação dos recursos do FGTS teve um impacto positivo de 0,4 ponto percentual sobre o crescimento de 1% do PIB em 2017. Enquanto isso, a liberação dos saques do PIS-Pasep, se for sacado o montante previsto pelo governo, será de 0,15 ponto percentual.

 

“É um impulso, mas não é algo que vai mudar o cenário do PIB neste ano”, diz Margato.

 

Os números levam em conta a previsão do governo de que os saques somem R$ 15 bilhões. No entanto, mesmo se o cálculo for feito com o montante total disponível para saque, de R$ 34 bilhões, o impacto sobre o PIB deve ser menor que a liberação das contas inativas do FGTS: 0,3 ponto percentual.

 

Montante menor na economia

 

Em 2017, a liberação de R$ 44 bilhões das contas inativas do FGTS beneficiou 25,9 milhões de trabalhadores, de acordo com a Caixa Econômica Federal. Já os recursos do Fundo PIS/Pasep poderiam beneficiar cerca de 28 milhões de pessoas, em um total de R$ 39 bilhões. Porém, desse montante, somente R$ 5 bilhões foram sacados desde 2017, e, dos cerca de R$ 34 bilhões restantes, o governo prevê que apenas R$ 15 bilhões sejam realmente retirados pelas pessoas.

 

O motivo para que esse dinheiro fique para trás é, segundo o próprio governo, a dificuldade das pessoas em buscarem as contas onde os recursos estão depositados. Isso porque os beneficiários que não têm conta na Caixa ou no Banco do Brasil precisam buscar seu dinheiro pessoalmente.

 

De qualquer forma, se a projeção se confirmar e a medida injetar R$ 15 bilhões na economia, ela não será suficiente para cobrir ao menos a estimativa do governo de impacto negativo da greve dos caminhoneiros, de quase R$ 16 bilhões de prejuízos à economia.

 

Confiança pesa


Mas os economistas apontam que o volume menor de dinheiro injetado na economia não é o único motivo pelo qual a liberação do Fundo PIS-Pasep deverá ter menos efeitos que o FGTS. Para os analistas, com a confiança das pessoas na economia piorando em relação a 2017, fica mais difícil apostar em aquecimento significativo do consumo.

 

“Não é verdade que vai dar o estímulo que estão imaginando”, diz o economista João Luiz Mascolo, professor do Insper, que diz que a confiança do consumidor em queda não permite que seja projetado um aquecimento significativo do comércio.

 

“Quando se tem um conjunto de incertezas, sejam políticas ou econômicas, as pessoas não vão levar para o consumo”, diz Mascolo.

 

Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), a confiança do consumidor perdeu força em maio, com o índice passando de 89 pontos no mês anterior para 86. Em maio do ano passado, o indicador havia crescido de 82 pontos para 83.

 

Os analistas citam como fatores que pesam sobre a confiança a redução das estimativas do crescimento do PIB e a dificuldade que ainda permanece sobre a recuperação do mercado de trabalho, além do quadro político e das incertezas após a greve dos caminhoneiros.

 

“O ambiente em 2017 era outro, o clima era bastante favorável no começo do ano. Se comparar [a liberação do PIS/Pasep] com a liberação do FGTS, o clima de confiança agora é muito menor”, comenta Mascolo.

 

“Mesmo com a retomada em curso da economia, há dúvidas sobre a velocidade. A percepção é de lentidão”, complementa Margato. “A dinâmica da confiança do consumidor perdeu fôlego.”

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