01 de Agosto de 2018 - 13h:37

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Fitch mantém nota do Brasil, e país segue sem grau de investimento

O rating do Brasil está 3 degraus abaixo do grau de investimento; classificação é a mesma dada pela Standard&Poor's (S&P) em janeiro.

Por: Marta Cavallini e Luísa Melo, G1

 

A agência de classificação de risco Fitch manteve a nota de crédito soberano do Brasil em "BB-". Com isso, o país segue longe do selo de país bom pagador de sua dívida. O rating do Brasil está 3 degraus abaixo do grau de investimento. A agência manteve o Brasil em perspectiva estável - ou seja, sem previsões para novo corte no curto e médio prazo.

 

Em fevereiro, a agência havia rebaixado a nota de crédito soberano do Brasil de "BB" para "BB-".

 

A Fitch é uma das três maiores agências de classificação de riscos, instituições que avaliam as contas de países e empresas e atribuem uma nota de crédito. Quanto melhor a nota, mais seguro é o investimento - e consequentemente menor será o juro cobrado pelos investidores para, por exemplo, investir em títulos de dívida de um país.

 

A classificação é a mesma dada pela Standard&Poor's (S&P) em janeiro, quando anunciou o rebaixamento do rating do país.

 

Em abril, a Moody's melhorou a perspectiva de nota de crédito do Brasil de negativa para estável. A nota do Brasil foi reafirmada em Ba2, em um movimento que surpreendeu os economistas.


Incertezas eleitorais

 

Na carta, a Fitch citou as eleições presidenciais em outubro. "O ambiente político continua desafiador em meio a uma corrida eleitoral fragmentada e imprevisível. A disputa continua aberta a numerosos candidatos e é incerto quais serão os dois a avançar para o segundo turno".

 

Na visão da Fitch, há incerteza quando ao ritmo, alcance e qualidade das políticas de ajuste após a eleição. Os candidatos que lideram estão propondo várias opções para o ajuste fiscal.

 

Outra incerteza está relacionada à base do Congresso, que será importante para garantir uma boa governabilidade e suportar o progresso de importantes reformas que serão necessárias para melhorar a perspectiva para as contas públicas e crescimento".

 

Déficit fiscal

 

Para a Fitch, o déficit fiscal do Brasil continua grande e é esperado que diminua apenas gradualmente, aumentando a vulnerabilidade a choques.

 

A agência considera que uma recuperação mais forte do que a esperada nas receitas está ajudando os esforços do governo a alcançar a sua meta de déficit fiscal para 2018, apesar da não aprovação de várias medidas fiscais que visavam apoiar o desempenho fiscal este ano.

 

Contudo, a Fitch projeta que o déficit geral do governo continuará elevado, a cerca de 8% do PIB em 2018, o que é significativamente pior do que a atual mediana de 3% do PIB.

 

A Fitch informou ainda que a "capacidade do país de absorver choques externos é sustentada por sua taxa de câmbio flexível, baixos desequilíbrios externos, robusta posição de reservas internacionais, uma forte posição credora externa soberana líquida, mercados de dívida interna profundos e desenvolvidos, e uma baixa parcela da dívida em moeda estrangeira no total da dívida pública".

 

Para a agência, a trajetória de consolidação fiscal do Brasil no médio prazo vai depender de quão bem-sucedida será a próxima administração em atacar os desafios fiscais, incluindo o crescente déficit da Previdência Social, alta rigidez nos gastos e constante flexibilidade para cortar despesas discricionárias.

 

“Uma reforma da Previdência, que foi arquivada pela administração Temer no começo do ano, juntamente com várias outras medidas de despesas, serão importantes para tornar o teto de gastos (outra importante âncora fiscal) viável e crível no médio prazo. Do mesmo modo, sem os ajustes fiscais e/ou a materialização de consideráveis despesas não correntes, o governo irá provavelmente enfrentar desafios em cumprir a ‘Regra de Ouro’, que limita o endividamento do governo para financiar gastos correntes, em 2019 e adiante”, afirmou.

 

Perda do grau de investimento

 

Desde 2015, o Brasil perdeu o selo de bom pagador. O Brasil conquistou o grau de investimento pelas agências internacionais Fitch Ratings e Standard & Poor’s pela primeira vez em 2008. Em 2009, conseguiu a classificação pela Moody's.

 

A S&P foi primeira a tirar o selo de bom pagador do Brasil, em setembro de 2015, ação que foi seguida pela Fitch e Moody's.

 

Segundo analistas de mercado, historicamente, países costumam levar cerca de 5 a 10 anos para recuperar o selo de país bom pagador.

 

Entenda a classificação das agências


As agências têm uma longa escala de classificação, com mais 20 notas. Em resumo, são dois terrenos e uma muralha. Quem está a partir de um determinado nível tem o carimbo de grau de investimento.

 

Quanto mais longe do muro, mais eficiente, confiável, robusta é a economia e menor o seu risco. O triplo A, por exemplo, é a nota da Alemanha. Alguns fundos de investimento só colocam dinheiro em países desse terreno. Do outro lado é o grau especulativo. Países arriscados, com economia problemática e menos confiável. Os investidores pensam duas vezes antes de entrar.

 

Alguns fundos de pensão internacionais, de países da Europa ou os Estados Unidos, por exemplo, seguem a regra de que só se pode investir em títulos de países que estão classificados com grau de investimento por agências internacionais. Por isso, essa "nota" permite que o país receba recursos de investidores interessados em aplicar seu dinheiro naquele local.

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