09 de Maio de 2018 - 13h:26

Tamanho do texto A - A+

Brasil registra entrada de US$ 14,4 bilhões em abril, maior valor em quase 7 anos

Apesar disso, dólar avançou 6% no mês passado, a maior disparada mensal desde dezembro de 2016. Valorização é reflexo de corrida de investidores por proteção no mercado futuro

Por: Alexandro Martello, G1

O ingresso de dólares no Brasil superou a retirada em US$ 14,394 bilhões no mês de abril, informou o Banco Central nesta quarta-feira (9).

 

Trata-se do maior ingresso líquido de recursos na economia brasileira desde julho de 2011 - quando US$ 15,825 bilhões entraram no país.

 

A entrada de dólares favoreceria, em tese, a queda da cotação da moeda norte-americana em relação ao real. Isso porque, com mais dólares no mercado, seu preço tenderia, teoricamente, a recuar.

 

Entretanto, não foi isso o que aconteceu. No mês passado, o dólar subiu 6,03%, para R$ 3,5026 - a maior alta mensal desde novembro de 2016. Nesta quarta-feira, o dólar opera mais alto ainda: por volta de R$ 3,60 às 13h30 (algo que não acontecia em quase dois anos).

 

O ingresso de dólares se dá quando investidores enviam dinheiro ao Brasil para aplicações financeiras ou investimento em empresas, por exemplo.

 

O dólar sai quando esses investidores retiram recursos do Brasil e, normalmente, aplicam em outros países. Essas operações ocorrem por meio de remessas feitas por bancos contratados por esses investidores.

 

Investidores buscam proteção

 

Segundo Sidnei Moura Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora, o que motivou a alta do dólar no mês passado não foi o fluxo de recursos (entrada ou saída de valores do país), mas sim a busca dos investidores por proteção contra uma possível subida da moeda.

 

Ao contratarem o chamado "hedge cambial", que pode ser feito por meio de contratos de "swaps cambiais" ofertados pelo BC ou pela compra de dólares no mercado futuro, os investidores ficam protegidos contra uma eventual subida do dólar nos próximos meses, evitando perdas. Geralmente, esse contratos são feitos por quem possui dívidas em dólar.

 

"O pessoal estava muito desligado do problema do 'hedge' [proteção] porque o dólar estava baixo, estável, quando começou a ter o problema americano, com pressão inflacionária e alta dos juros. Com juros mais altos nos EUA, a tendência é o chamado 'flight to quality' [saída de emergentes e aplicação em títulos dos EUA]", disse Nehme.

 

Segundo ele, essa saída de recursos do Brasil para os títulos dos Estados Unidos (T-Bonds) ainda não começou a acontecer, mas tende a ser registrada nos próximos meses. Para evitar perdas com a possível alta futura do dólar, resultado da saída de recursos, ele explicou os investidores já começaram a contratar "hedge" - pressionando a cotação do dólar no mercado futuro e contaminando o mercado à vista.

 

O economista não vê problemas de falta de dólares na economia brasileira, uma vez que as reservas internacionais estão acima de US$ 380 bilhões (e podem ser usadas nos chamados "leilões de linha", ou seja, venda pelo BC com compromisso de recompra no futuro), mas avaliou que as eleições tendem a continuar pressionando o dólar nos próximos meses. Ele estima que a moda norte-americana pode chegar a R$ 3,75 em agosto, quando o cenário eleitoral estará mais acirrado.

 

Acordo EUA e Irã

 

Além da busca por proteção pelos investidores, a alta da moeda norte-americana, nas últimas semanas e dias, também está ligada ao cenário externo mais conturbado.

 

Nesta terça-feira (7), o presidente norte-americano, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã e anunciou sanções econômicas ao país. Isso alimentou temores de que a produção e exportação de petróleo iraniano sejam afetadas, o que elevaria os preços da commodity.

 

Preços mais caros de petróleo impactam a inflação e podem levar o banco central dos Estados Unidos, o Fed, a subir mais os juros no país. Com taxas mais altas, os EUA se tornariam um destino mais atraente para investimentos aplicados em outros mercados, como o Brasil, o que pode provocar fuga de dólares e gerar uma valorização da moeda americana.

 

Ao mesmo tempo em que há temores de que o Fed eleve ainda mais os juros nos EUA, há expectativa de que o Banco Central brasileiro reduza a taxa básica de juros, a Selic, na próxima semana para nova mínima histórica, a 6,25% ao ano. Com uma diferença maior entre as taxas, os investidores tendem a migrar para a maior economia do mundo atrás de rendimentos com baixíssimo risco.

 

Atuação do BC

 

Em entrevista à Globonews na terça-feira (8), o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, explicou que a alta do dólar é um movimento global e não exclusivo ao Brasil, mas garantiu que a autoridade está monitorando o mercado para seu bom fundamento e intervirá quando necessário.

 

Neste mês, o BC entrou com mais força no mercado de câmbio e, nesta sessão, realiza novo leilão de até 8,9 mil swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares, para rolagem do vencimento de junho.

 

 

Se mantiver e vender esse volume diário até o final do mês, o BC terá rolado integralmente os US$ 5,650 bilhões que vencem no mês que vem e terá colocado o equivalente a US$ 2,8 bilhões de adicionais.

VOLTAR IMPRIMIR