10 de Maio de 2022 - 14h:35

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Azul: Latam não está no nosso radar; respeitamos o processo deles, diz presidente

As duas empresas chegaram a travar uma disputa sobre o tema, mas a Latam tem conseguido sucesso nas negociações com credores, o que afastou a Azul de tentar uma compra via detentores de dívidas

Por: Valor Econômico

O presidente da Azul, John Peter Rodgerson, tem reduzido cada vez mais as falas no sentido de tentar comprar parte ou todo o negócio da concorrente Latam, que está em recuperação judicial (chapter 11) nos Estados Unidos. As duas empresas chegaram a travar uma disputa pública sobre o tema, mas a Latam tem conseguido sucesso nas negociações com credores, o que afastou o plano da Azul de tentar uma compra via acordo com os detentotres de dívidas da chilena.

 

Alexandre Malfitani, diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, destacou que todas as projeções divulgadas pela empresa hoje não consideram possíveis acordos de fusão ou aquisição, nem eventuais acordos de codeshare. Caso tais negócios aconteçam, o cenário para as projeções da empresa teria uma melhora.

 

Os executivos foram questionados sobre janelas para ampliar os acordos de codeshare, em específico com a United. Eles defenderam que há essa janela, mas que no momento a empresa não tem detalhes para compartilhar sobre o tema.

 

Demanda se mantém firme, mesmo com alta nos preços

A disparada no preço do bilhete aéreo, fenômeno que começou nos últimos meses do ano passado e ganhou corpo nesse ano com a alta do petróleo, não tem afastado o passageiro de voar, defendeu Rodgerson.

 

A flexibilidade que os trabalhadores de alta e média renda tem no trabalho acaba favorecendo as tarifas. “A flexibilidade ajuda muito. Antes, viajar na sexta-feira para o Carnaval era mais caro, mas na quinta era mais barato. Agora, com essa flexibilidade, temos conseguido boas tarifas também nos dias anteriores”, defendeu o executivo.

 

Sobre a resiliência da demanda diante da alta das passagens, Rodgerson disse que o que determina o preço não é o custo, mas sim a demanda. O executivo afirmou que pode até haver um limite para o bolso do brasileiro em termos de aumento de tarifa, mas disse que tais limites não foram atingidos e a curva futura de demanda segue elevada.

 

Rodgerson defendeu ainda que a crise econômica afeta de forma diferente o passageiro aéreo, que no Brasil é tradicionalmente da classe A e B. “O desemprego no país não aumentou, e o passageiro aéreo (que tem mais poder aquisitivo) não perdeu renda. Parte deles conseguiu reajuste da inflação”, disse.

 

O executivo foi questionado ainda sobre os debates para a retomada de gratuidade nas bagagens despachadas, algo encerrado no Brasil em 2016 por uma resolução da Anac. “Hoje, 60% dos clientes viajam sem bagagem. Voltar a gratuidade pode reduzir o preço da pessoa que viajava com mala, mas vai aumentar o preço de quem viajava sem”, disse.

 

Nesse cenário, Abhi Manoj Shah, diretor vice-presidente de receitas da Azul, defendeu que a empresa deverá atingir recorde nos seus indicadores de receita líquida e Rask no segundo trimestre deste ano. O dado, segundo ele, mostra a força da empresa e da retomada do mercado, que superará níveis históricos mesmo em um trimestre de baixa sazonalidade.

 

A empresa registrou um crescimento importante de receita, com recorde para um primeiro trimestre nos três primeiros anos deste ano. A expectativa é de mais avanços com a retomada do mercado corporativo, que hoje ainda está cerca de 30% abaixo do pré-pandemia. “Na demanda corporativa, o setor financeiro ainda não se recuperou”, disse, ponderando que o segmento tem começado a apresentar bons números.

 

Outro cliente que não está voando muito é o governo federal. A estimativa, entretanto, é que com as eleições as vendas de passagens para políticos e integrantes da máquina pública passem a crescer.

 

O executivo destacou que o cenário favorável para as tarifas continua. Em abril, segundo ele, a tarifa subiu cerca de 40% contra fevereiro. “Abril foi recorde em termos de reserva. Já a semana passada também foi uma semana recorde em reserva”, disse.

 

Já Rodgerson destacou que que a demanda de lazer atingiu em março o patamar de nove meses seguidos acima dos níveis de pré-pandemia. “Estamos emergindo da pandemia como uma aérea mais eficiente”, disse. “Vamos triplicar o Ebitda na comparação com os níveis do IPO”, disse. A empresa divulgou que pretende chegar em 2023 com um Ebitda de R$ 5,5 bilhões.

 

David Neeleman, presidente do conselho da aérea, lembrou que a empresa atingiu 151 destinos até março, adição de 35 destinos na comparação com o primeiro trimestre de 2019. “Com o tempo, esses e outros destinos vão sustentar nosso crescimento”, defendeu.

Neeleman apontou ainda que o mercado brasileiro tem oportunidades para manter a sustentabilidade de receita do setor, sobretudo com a força de segmentos como o agronegócio. “O Brasil será um mercado a continuar crescendo”, disse.

 

Encomendas de novas aeronaves

Rodgerson, presidente da Azul, destacou que a empresa espera receber neste ano oito aviões Embraer E2 como parte do seu plano de renovação de frota. “Vamos ver se a empresa (Embraer) vai conseguir entregar”, disse o executivo. O setor aéreo, assim como diversos outros segmentos, tem sofrido com a falta de componentes eletrônicos no mercado como consequência da pandemia.

Para além dos ganhos com a economia de combustível, o modelo tem 133 assentos, como 118 do E1.

 

A aérea encerrou o primeiro trimestre com uma frota operacional de 166 aeronaves de passageiros, contra 159 um ano antes.

 

Saúde financeira da companhia
Malfitani, diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Azul, defendeu que a aérea tem uma posição confortável de caixa. O executivo disse que dois dos vencimentos mais significativos da empresa (excluindo os arrendamentos) vão vencer apenas em outubro de 2024 e junho de 2026, que seriam dois “bonds” (captação externa).

 

“Não temos muitos débitos com bancos ou mercado de capitais”, disse. “[Os dois títulos] estão com vencimentos muito distantes. Podemos acessar o mercado em condições muito melhores”, disse o executivo.

 

Ele destacou que parte significativa da desalavancagem projetada para a empresa neste ano virá com a recuperação do Ebitda. O grupo projetou fechar 2022 com alavancagem medida pela relação dívida líquida sobre Ebitda na casa de 5 vezes, contra 7,8 vezes no primeiro trimestre.

 

 

 

Crédito imagem: Freepik

 

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