07 de Janeiro de 2020 - 17h:29

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Pedidos de recuperação judicial cresceram em número e volume

Por: Valor Econômico

Análise da consultoria Alvarez & Marsal com os dados das 20 maiores recuperações judiciais do país mostra que o volume de dívidas das empresas nessa condição atingiu R$ 242 bilhões, em outubro de 2019, superando em 62%, o valor de dezembro de 2018. Mesmo retirando da amostra a Odebrecht, o maior processo de todos, que envolve a renegociação de R$ 80 bilhões, o crescimento seria de 10%. Em 2018, o total de dívidas das 20 maiores empresas em RJ havia caído 5%.

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Ainda conforme o estudo, apesar da queda de 2% no acumulado total de pedidos de recuperações judiciais de janeiro a outubro de 2019, houve um incremento substancial, de 18%, no número de pedidos de maio a outubro de 2019 em relação a igual intervalo de 2018. A avaliação da consultoria é que o aumento de pedidos reflete a demora na retomada do crescimento econômico mais robusto.

 

Leonardo Coelho, diretor da Alvarez& Marsal, destaca como um ponto preocupante a concentração da amostra em empresas relacionadas à infraestrutura, dos setores de construção pesada e energia. O que mais preocupa, ele acredita, é o fato de as empresas ligadas à construção, casos de Odebrecht, OAS e UTC, estarem em situação de fragilidade no momento em que se espera pela retomada econômica no país.

 

“O crescimento tende a ser puxado pelo segmento de infraestrutura. No entanto empresas relevantes do setor ou estão em RJ ou ainda tentam reestruturar seus negócios. Elas não estão a pleno vapor para suportar essa expectativa”, afirma Coelho. “Nessa situação, grupos menores e os estrangeiros é que vão ter de dar conta de suportar o crescimento. Não existem grandes players brasileiros preparados hoje para a briga”, diz.

 

O executivo da Alvarez & Marsal mostra preocupação com essas empresas sobre a saída do processo de recuperação. Conforme o estudo da consultoria, os setores de construção e energia respondem por metade das 20 maiores RJs em andamento no país. E, em pelo menos 80% dos casos, há envolvimento de empresas e ou acionistas relevantes em investigações originadas pela Lava Jato. Para a Alvarez & Marsal, o modus operandi de obras superfaturadas criou um ambiente em que “competição e busca pela excelência operacional foram “anestesiados”:

 

“Removido – ou congelado – o mecanismo de geração de negócios escusos, as empresas perderam sua ‘ vantagem competitiva’ mais relevante”.

Para Coelho, além da questão de as empresas terem de remodelar seus negócios para trabalhar com obras privadas, uma vez que sempre operaram focadas no setor público, que hoje não se mostra mais disposto a fechar contrato com essas empreiteiras, existe a questão do acesso a crédito.

 

“Acho difícil tanto elas saírem do processo, quanto recuperarem o acesso a crédito no mercado. Estamos vendo planos com propostas de ‘haircut’ (corte no pagamento da dívida) muito agressivos, que acabam deteriorando o relacionamento com o mercado”, afirma.

 

Apesar de o segmento do agronegócio também ter sido atingido, Coelho acredita que este seria um problema menos complexo, porque se trata de um setor que tem garantias mais sólidas para oferecer e, portanto, tende a obter acesso ao crédito. “O segmento de infraestrutura é que tradicionalmente opera mais ligado a project finance”, diz Coelho.

 

Sete empresas do agronegócio, a maioria usinas de açúcar e álcool, figuram na lista de maiores recuperações judiciais em andamento. Por conta desses processo, empresas maiores, com mais diversificação de clientes e produtos, como Cosan e São Martinho, solidificaram a liderança no mercado. Já o setor naval, para o qual o Brasil não tem nenhuma vocação, avalia Coelho, tende a desaparecer. Três das 20 maiores RJ são empresas diretamente ligadas ao setor naval.

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