21 de Maio de 2007 - 14h:11

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Bancos ampliam financiamento dentro das cadeias produtivas

Por: Valor On-Line

Um novo modelo de concessão de crédito tem facilitado o acesso a recursos mais baratos para pequenas e médias empresas. Os bancos começaram a aproveitar o relacionamento com grandes clientes para fechar parcerias exclusivas e oferecer linhas de financiamento para os fornecedores dentro da cadeia produtiva dessas companhias.

A idéia resolve dois problemas para os bancos. Primeiro, substitui os ganhos com crédito para as grandes empresas pela prestação de serviços, já que elas encontram recursos na enorme liquidez do mercado de capitais e vêm reduzindo sistematicamente os empréstimos bancários.

Desde o ano passado, os grandes bancos intensificaram esse modelo e passaram a desenvolver serviços exclusivos para essas parcerias. O diretor do segmento de Pessoa Jurídica, do Unibanco, Marcos Massukado explica que os produtos tradicionais como o "vendor" e o "compror", que trabalham com o financiamento de cliente e fornecedores, não tinham potencial para avançar dentro da cadeia.

Com o novo enfoque, os bancos conseguem unir a prestação de serviços com a concessão de crédito. "Esse é um dos pontos que buscamos no banco, a integração do serviço de cash management (contas a pagar e receber) com a gestão de ativos", avalia o executivo.

Segundo ele, dentro de uma cadeia, como a de bebidas, por exemplo, a empresa chamada de âncora disponibiliza no próprio site todos os títulos que serão pagos no futuro. As empresas que irão receber esses recursos podem entrar na internet e escolher quais duplicatas querem antecipar, com taxas pré-acordadas.

O risco para o banco é da grande empresa, já que ela é quem deve arcar com o pagamento do título. Assim, a taxa para a média empresa cai consideravelmente. "Conseguimos dar taxas melhores porque sei a destinação do dinheiro. Quanto mais informação, melhor", explica. No primeiro trimestre, o segmento de pequenas e médias do Unibanco apresentou evolução de 5,8%.

Para o banco, a diferença, segundo Massukado, é a agilidade e a facilidade. "Não precisamos ter uma mesa para fechar essas operações e a própria empresa faz a divulgação do produto, que acaba sendo um canal mais barato e eficiente", avalia.

Já para as grandes empresas, a vantagem é que o capital é liberado para novos investimentos e não existe mais a preocupação com a administração dos recursos, explica a diretora do Banco Real, Lucimara Makhoul. Ela acredita que o relacionamento mais próximo com as empresas permite ainda a indicação da melhor modalidade de empréstimo para as pequenas e médias empresas, melhorando o fluxo de capital e a administração financeira dessas companhias.

O banco, que tem forte atuação nas cadeias de petroquímica e automotiva, busca as empresas fornecedoras ou compradoras para oferecer créditos como antecipação de compra e venda, além de serviços como cobrança e folha de pagamento. Nos últimos seis meses, o Banco Real apresentou saldo de R$ 250 milhões em empréstimos neste novo modelo de negócios.

"Por conhecer toda a cadeia, podemos ajustar os prazos e os preços com taxas mais atrativas. Antes, muitas dessas companhias usavam a conta garantida para realizar investimentos ou financiar importações, com custos mais altos", ressalta.

A executiva do Real avalia ainda que as pequenas e médias começaram a atrair a atenção dos bancos devido à própria evolução do mercado. "A saúde financeira dessas empresas melhorou. Elas saíram de estruturas mais pesadas e caras para entrar no mercado financeiro por ser tornarem parceiras de grandes empresas", acredita.

No Bradesco, que também aposta nessa modalidade, a carteira de pequenas e médias empresas foi a que mais cresceu nos últimos doze meses, 27,5%, atingindo R$ 29,85 bilhões de saldo, mesmo patamar das grandes companhias (R$ 30 bilhões).

"Descemos em toda a cadeia produtiva, desde as grandes empresas até os microempresários", afirma o diretor do Bradesco, Josué Augusto Pancini. O banco já possui mais de 180 convênios com cadeias produtivas, que vão desde material de construção e grandes redes de varejo até prefeituras, financiando os fornecedores públicos.

Em busca de novidades, o banco começou agora a desenvolver uma modalidade de financiamento para recebíveis futuros (ainda não performados) de até 36 meses. "Em parceria com usinas de álcool, arrendamos a terra e antecipamos o pagamento da cana", explica.

Segundo dados do Banco Central, até março, o saldo de empréstimos com recursos livres para pessoas jurídicas estava em R$ 268,6 bilhões, avanço de 22,7% em doze meses. O maior crescimento foi no capital de giro, 33%, para R$ 70,14 bilhões.

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