14 de Junho de 2011 - 15h:07

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Magazine Luiza compra lojas do Baú

Por: Valor Online

Depois de uma negociação relâmpago, que durou apenas três semanas, o Magazine Luiza anunciou ontem a compra dos 121 pontos de venda do Baú da Felicidade. A rede, que pertence ao Grupo Silvio Santos, estava à venda desde o fim do ano passado, quando o banco Panamericano, do grupo, revelou um rombo de R$ 4 bilhões.

O Magazine assinou um memorando de entendimentos vinculante com BF Utilidades Domésticas Ltda, BF Par Ltda e Silvio Santos na noite de sexta-feira. O preço, a ser pago em 31 de julho, quando a operação deve ser fechada, é de R$ 83 milhões. Esse valor inclui as 121 lojas, todas alugadas. Ficaram de fora os dois centros de distribuição do Baú, em São Paulo e Maringá, e também todo o passivo da empresa, que envolve dívidas fiscais (de R$ 237 milhões), com bancos, fornecedores e trabalhistas (R$ 35 milhões). Estas últimas, de R$ 35 milhões, já haviam sido negociadas pelo Grupo Silvio Santos para pagamento em cinco anos, a contar de 2009, data em que o grupo comprou a Dudony e deu origem à rede Baú da Felicidade.

"Nós compramos os pontos, não a empresa", disse ao Valor Marcelo Silva, superintendente do Magazine Luiza, deixando claro que a varejista não vai herdar qualquer passivo. Com a aquisição, o Magazine, que ocupa a segunda posição no ranking nacional do varejo de móveis e eletroeletrônicos, com receita líquida de R$ 5,7 bilhões, só atrás do Grupo Pão de Açúcar, salta para 732 lojas.

Em número de pontos de venda, porém, a empresa de Luiza Trajano ainda fica atrás da outra vice-líder, Máquina de Vendas - união das redes Ricardo Eletro, Insinuante e City Lar -, que soma 750 lojas e também vem avaliando ativos na região Sul, onde não está presente.

"Queremos fortalecer a nossa posição no Paraná, único Estado do Sul do país onde o Magazine não tinha presença tão forte", diz Silva. Em 2004, a empresa comprou a gaúcha Lojas Arno. No ano seguinte, foi a vez de explorar o mercado de Santa Catarina, com a compra das redes Madol, Kilar e Lojas Base (com pontos também no Rio Grande do Sul e Paraná).

Com a aquisição, o Magazine passa a ter 121 lojas no mercado paranaense (contando as 41 lojas da rede e as 80 do Baú). A operação deixa a varejista controlada por Luiza Trajano próxima da líder local MercadoMóveis, dona de 127 lojas no Estado. O superintendente da MercadoMóveis, Márcio Pauliki, tem interesse em alguns pontos de venda. "Vamos deixar claro desde já que somos candidatos", diz Pauliki, que também estava no páreo pela ex-rede de Silvio Santos. Os demais pontos de venda do Baú estão em São Paulo e Minas Gerais.

Segundo o fato relevante divulgado, "em função da sobreposição de algumas lojas em determinadas cidades, o Magazine Luiza poderá juntar, fechar, alienar ou transferir alguns dos pontos comerciais do Baú". "O Baú tem pontos menores, que vamos transformar em lojas virtuais [sem estoque, com venda por catálogo] e tem pontos importantes em São Paulo, onde queremos expandir", afirma Silva. Este ano, a rede está abrindo 25 lojas, a maior parte na região metropolitana de São Paulo e no Nordeste.

O Magazine vai assumir oficialmente as lojas do Baú em 1º de agosto. "Gostamos desse dia. Foi a mesma data que assumimos a Lojas Maia, no Nordeste", diz Silva, que também vai converter a bandeira para Magazine Luiza.

A negociação do Baú Crediário é a primeira feita a partir da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) do Magazine. Na operação, a varejista levantou R$ 886 milhões, sendo R$ 584 milhões em oferta primária, ou seja, recursos para a própria empresa.

O Baú não era uma rede cobiçada. Com muitos pontos pequenos, a rede de Silvio Santos assustava os pretendentes por conta do tamanho do seu passivo. O próprio grupo admitiu que a rede do Baú, que faturou R$ 415 milhões em 2010, trabalhava no vermelho. Desde o começo, segundo Silva, o Magazine deixou claro que queria apenas os pontos.

Na opinião do consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer, com a compra, o Magazine tentou barrar as investidas da concorrência. Ele reconhece que o Baú não era forte, mas tampouco "há fila de vendedores" no mercado. "Esse segmento do varejo está em franca consolidação e o tamanho da rede faz muita diferença", diz.

Para Eduardo Seixas, da Álvarez & Marsal, o valor de R$ 83 milhões representa 20% do faturamento bruto, um índice baixo em relação a negociações recentes do setor, "que costumam girar em torno de 30% a 50% do faturamento, dependendo da rentabilidade".

Francisco Kops, da Planner Corretora, concorda que o Magazine pagou pouco pela rede, levando-se em conta a absorção da carteira de 3 milhões de clientes. "Isso significa que cada um custaria R$ 27, valor pequeno em relação a todo o potencial a ser explorado pelo Luizacred", diz, referindo-se ao cartão do Magazine Luiza.

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