03 de Junho de 2011 - 14h:54

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JGP cria braço de crédito privado com sócios da Root

Por: Valor Online

De olho nos possíveis desdobramentos de um crescimento acelerado do crédito, a JGP - tradicional asset de fundos hedge com R$ 3,7 bilhões sob gestão - está criando um braço de negócios voltado exclusivamente para a gestão de direitos creditórios. Para a empreitada, contará com a parceria dos sócios-fundadores da Root Capital, gestora criada no ano passado com foco na recuperação de créditos podres.

Batizada de JGP Crédito, a nova empresa atuará no segmento de títulos problemáticos e de alto risco e rentabilidade. Mercado esse que deve render boas oportunidades de investimento, na visão do sócio-fundador e gestor responsável pela JGP, André Jakurski, dada a euforia do crédito brasileiro nos últimos anos. "As crises, em geral, são causadas por excessos de otimismo", pontua.

No país, um dos sinais de que o momento é oportuno para apostar no crédito, afirma Jakurski, é a expansão do endividamento. Segundo o executivo, tão logo a economia se desacelere, é possível que empresas, especialmente as de pequeno e médio porte que se alavancaram no período de crescimento, sofram pressões financeiras.

"Quando o crédito cresce rapidamente, a qualidade é afetada", acrescenta o sócio-fundador da Root Capital Rafael Fritsch. Na última década, relembra, o estoque total de crédito saltou de R$ 200 bilhões para R$ 1,7 trilhão, um crescimento de 20% ao ano. Em crédito vencido há mais de 90 dias, segundo ele, há cerca de R$ 130 bilhões, sendo que metade é corporativo. "Só vi esse crescimento em quatro países, Espanha, Irlanda, Islândia e Cazaquistão, e todos tiveram problemas de crédito."

Fritsch tem na bagagem a experiência de gerir créditos podres em diversas instituições, inclusive no exterior. Antes de fundar a Root Capital, comandou a gestão de fundos de créditos podres na Arrowgrass Capital Partners, em Londres, depois de ter passado pela vice-presidência do Deutsche Bank e do Bank of America na mesma área. Ele também passou pela área de fusões e aquisições do J.P. Morgan, em Nova York.

A criação da Root foi uma oportunidade que Fritsch viu de retornar ao país e ocupar uma lacuna no mercado de gestão de crédito privado com problema. Na empresa, ele é responsável por administrar R$ 920 milhões em dívida, considerando o valor nominal. Os recursos estão divididos em quatro fundos de recebíveis, entre eles o Union National de R$ 800 milhões, cuja gestão assumiu no lugar da Global Capital na tentativa de recuperar ao máximo o volume de crédito comprado pelo fundo de factoring, que entrou em processo de liquidação.

A Root vai continuar existindo em paralelo à JGP Crédito até que seus fundos sejam encerrados. Depois disso, todos os negócios e equipes ficarão concentrados na nova empresa, que será focada no segmento corporativo. Fritsch afirma que faltam no Brasil gestores de crédito privado de alto risco e rendimento que tenham estrutura. Nesse nicho de negócio, segundo ele, é preciso trabalhar com um comitê para aprovar operações, um time de profissionais para analisar e dar preço aos ativos e um departamento jurídico que funcione quando a teoria é colocada em teste.

"Quando há uma freada grande, os bancos se distanciam, as empresas não conseguem renovar seus créditos e muitas entram em recuperação judicial", argumenta. Nessas horas, as garantias são colocadas à prova, assim como a recuperação dos créditos. Jakurski lembra ainda que as operações de crédito dos últimos dois anos foram de qualidade inferior. "Como os bancos trabalham com margens astronômicas, estão dispostos a correr o risco estatístico", afirma o executivo, que foi diretor na área de crédito do Unibanco, além de sócio-fundador do Pactual.

Além de olhar títulos de crédito problemático e de alto risco, a JGP Crédito pode viabilizar empréstimos novos para empresas em dificuldade, se acreditar na sua recuperação. "Não somos um fundo abutre, nossa operação será sempre cooperativa, na tentativa de extrair valor", acrescenta Jakurski.

A JGP Crédito vai começar a operar com capital próprio de R$ 30 milhões para formar um histórico e, assim, atrair investidores. O veículo usado será um fundo de recebíveis não padronizado, que é voltado exclusivamente para o investidor superqualificado, com aplicação mínima de R$ 1 milhão. A ideia é ter várias classes, à medida que surjam novas oportunidades.

A expectativa é de que o retorno fique entre 150% e 200% do CDI, para remunerar o risco e compensar a menor liquidez. Os fundos serão distribuídos para clientes da casa, entre investidores private, fundos de pensão e estrangeiros. "Há uma demanda grande dos investidores por crédito", diz Jakurski. A JGP pretende, inclusive, criar uma distribuidora de títulos e valores mobiliários (DTVM) para fazer a distribuição.

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