31 de Maio de 2011 - 15h:49

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Retorno da Delphi às bolsas marca nova era em Detroit

Por: Valor Online

A Delphi Automotive PLC está prestes a se tornar novamente uma companhia aberta, encerrando uma odisseia de quatro anos na qual eliminou 83.000 empregos, demitiu dois presidentes executivos e fechou mais de 70 fábricas.

Uma sombra do que era, a fabricante americana de autopeças obtém agora a maior parte de sua receita fora da América do Norte. Mas seus lucros estão em alta e ela espera crescer tirando proveito de uma estratégia de baixo custo que inclui ter apenas 5% de seus trabalhadores nos Estados Unidos, em comparação com 27% seis anos atrás.

Desmembrada da GM em 1999, a Delphi, que tem sede em Troy, nos arredores de Detroit, foi uma megafabricante de autopeças com unidades em mais de 40 países e 184.000 funcionários.

A abertura de capital deve produzir ganhos para um grupo de fundos de hedge, liderados pela Silver Point Capital LP e pela Elliott Management Corp., que juntos investiram aproximadamente US$ 350 milhões em dívidas da Delphi e rechaçaram uma oferta de compra da ex-controladora dela, a General Motors Co., e da Platinum Equity. A oferta pública de ações pode render mais de US$ 1,5 bilhão, segundo uma pessoa a par do assunto.

A empresa fez o registro para vender até US$ 100 milhões em ações e usar os recursos para comprar equipamentos e quitar dívidas. O diretor-presidente da Delphi, Rodney O'Neal, não estava disponível para comentar e um porta-voz da empresa não quis especificar quando a oferta inicial de ações vai ocorrer.

O número de ações a ser oferecidas ou a faixa de preço não foram divulgados na documentação apresentada quarta-feira.

A empresa informou que seu foco será na produção e venda de produtos compatíveis com o que chama de "megatendências futuras" da indústria automotiva - segurança, preocupação com o meio ambiente e conexão à internet.

Seu portfólio de produtos terá eletrônicos, sistemas de motor e transmissão, cabeamento elétrico e sistemas para aquecimento e resfriamento.

Os preparativos para a volta da Delphi ao mercado de capitais marcam o fim de um dos períodos mais difíceis da indústria automotiva americana. A luta começou no início de 2005, quando o então diretor-presidente disse que a empresa não era mais viável diante da alta das commodities, dos altos salários de trabalhadores sindicalizados e de um declínio nos negócios. A GM, que na época respondia pela maior parte da receita da Delphi, estava cortando encomendas e exigindo cortes de preço.

Miller levou a empresa a um processo de recuperação judicial em outubro de 2005, depois de não conseguir convencer a GM a fornecer US$ 6 bilhões em financiamento ou o sindicato americano United Auto Workers a aceitar corte no salário de US$ 27,50 por hora e nos benefícios.

A Delphi estava para sair da recuperação judicial no começo de 2007, depois que um grupo de investidores, que incluía a Cerberus Capital Management LP e a Appaloosa Management LP, ofereceu US$ 3,4 bilhões em troca do controle da empresa. A Appaloosa estava preparada a fazer o negócio sozinha caso a Cerberus se retirasse.

Um tribunal de concordatas aprovou preliminarmente a compra, desde que a Delphi garantisse um financiamento adicional de US$ 6,1 bilhões. Mas o plano ruiu quando a economia americana entrou em recessão e a Delphi não pôde garantir o dinheiro adicional.

Em 2008, quando a indústria automotiva americana estava à beira do precipício, Miller estava encolhendo furiosamente a empresa, vendendo divisões e fechando fábricas. Uma dessas medidas foi a venda da divisão de volantes à GM, que um ano depois revendeu a operação à chinesa Pacific Century Motors.

No ano seguinte, com a GM e a Chrysler Group LLC em recuperação judicial, o governo americano articulou um acordo para que a GM e a firma de private equity Platinum Equity Partners comprassem a Delphi. O negócio, avaliado em US$ 3,6 bilhões, faria com que a Silver Point, a Elliott e o resto dos credores perdessem tudo.

Os fundos reagiram comprando mais créditos da Delphi e os usando para impedir a venda. As duas empresas converteram seus créditos em ações e as venderam a outros investidores, mantendo uma participação de 18%.

Os problemas da Delphi ajudaram a criar uma mudança permanente em Detroit: a criação de um sistema de duas faixas salariais para os trabalhadores e a transferência de custos previdenciários para fundos específicos.

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