14 de Janeiro de 2011 - 16h:12

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Inflação é o atual calcanhar de Aquiles do mundo, diz Barclays

Por: Francine De Lorenzo - Valor

O grande tema em discussão nas pastas de finanças de todo o mundo neste começo de ano é o avanço da inflação. A questão, na avaliação do economista-chefe para Brasil do Banco Barclays, Marcelo Salomon, deverá continuar sendo o foco das atenções, pelo menos, até o final do primeiro semestre, quando será possível averiguar os efeitos das medidas que já começaram a ser adotadas pelos governos ao redor do globo.

Um dos grandes riscos, aponta o executivo, está nos preços de energia. Nesta semana, a cotação do petróleo no mercado internacional voltou a beirar a casa dos US$ 100, atingindo o maior patamar dos últimos dois anos. "Entramos em 2011 com uma forte pressão das commodities e há a possibilidade de revivermos a disparada de 2008", disse Salomon, referindo-se à época em que o barril do óleo chegou a ser negociado a US$ 150.

A esperada recuperação da economia americana - pelos cálculos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que deve ficar entre 3% e 4% - tende a puxar os preços das matérias-primas, atenuando o efeito da redução de demanda por parte da China, que tem trabalhado para desacelerar sua economia .

Por outro lado, se a economia dos Estados Unidos cresce, o natural é o dólar subir e os preços das commodities, caírem. "Mas temos que considerar que, mesmo desacelerando, a expansão da economia chinesa ainda será muito forte. Além disso, há um processo inflacionário de curto prazo influenciado pelas alterações climáticas", complementou o executivo do Barclays citando como exemplo as enchentes na Austrália.

Com tantas variáveis, o futuro das commodities é um grande ponto de interrogação nas mesas de operações e nos gabinetes de governo. Os cenários que se desenham para 2011 devem exigir jogo de cintura das autoridades monetárias para equilibrar crescimento econômico e controle de preços.

A tendência para o Brasil, na visão de Salomon, é seguir o modelo da China. "Acredito que o aperto monetário não será feito só com juros. Haverá um aumento na Selic, mas outros instrumentos também devem ser usados, como o requerimento de capital sobre carteiras de crédito", disse.

Com medidas como essa, explicou o economista em encontro com jornalistas nesta sexta-feira, o governo poderá evitar bolhas, enquanto direciona os financiamentos para áreas que precisam crescer. "Isso também alivia a necessidade de alta nos juros.

Se o governo subir muito a taxa, pode acabar atraindo mais investidores estrangeiros, e isso provocaria maior desvalorização do dólar", complementou, destacando que a utilização da moeda como instrumento de controle da inflação por meio das importações tende a ter seu efeito minimizado no decorrer do tempo.

O Barclays projeta aumentos de 0,5 ponto percentual na taxa Selic nas próximas três reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Ao final de 2011, a expectativa do banco é de que os juros, hoje em 10,75% ao ano, se situem em 12,25% ao ano. Já o câmbio deverá oscilar entre US$ 1,65 e US$ 1,75 durante o ano.

Considerando essas premissas, a instituição projeta alta de 6,3% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011, com a taxa de janeiro subindo 0,65% e a de fevereiro, 0,75%. Assim como em 2010, a inflação dos alimentos deve continuar pressionando o indicador. A previsão é de aumento de 7% na categoria neste ano, influenciado pelo crescimento da demanda com a melhora nas condições de emprego e renda e pelo comprometimento da oferta em decorrência do mau tempo.

"Agora, resta saber se o governo vai tolerar um pouco mais de inflação. Eu acho que o Brasil vai se aproximar daquilo que tem sido feito em outros países, onde já se aceita mais inflação", comentou Salomon. Diante desta suposição, o economista não descarta o risco de o país estourar o limite da faixa de tolerância da inflação, que é de 6,5% no ano.

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