12 de Julho de 2010 - 15h:52

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Briga pela Vivo mostra relevância do Brasil

Empresas espanholas estão em 2º lugar no ranking das que mais remetem lucros para a matriz; remessas para Portugal aumentaram 1.320%

Por: Karla Mendes/ Fernando Nakagawa - O Estado de SP

A queda de braço entre Telefónica e Portugal Telecom pela Vivo - maior operadora de telefonia celular do País - revela o "peso de ouro" que o Brasil passou a ter para as economias da Espanha e de Portugal. Num momento em que os dois países enfrentam dificuldades econômicas, o Brasil, em franco crescimento, tornou-se estratégico para sustentar os resultados não só desses grupos de telecomunicações, mas também da economia dos dois países.

É por isso que a Telefónica está disposta a pagar mais de 100% de ágio para adquirir o controle total da Vivo e a Portugal Telecom resiste tanto em vender o ativo, usando inclusive o polêmico instrumento da golden share para impedir o domínio dos espanhóis na operadora brasileira - apesar de 74% dos acionistas terem votado a favor do grupo espanhol na assembleia realizada no último dia 30.

Hoje, as duas operadoras dividem o controle da Vivo.

Dados do Banco Central revelam que a dificuldade econômica europeia tem sugado lucros de multinacionais instaladas no Brasil, para cobrir prejuízos das matrizes. E o centro desse fenômeno envolve, justamente, os países que estão disputando a operador de celular Vivo.

Filiais brasileiras de companhias espanholas, por exemplo, aumentaram a remessa de lucros em 39% no último ano. Esse comportamento fez com que a Espanha ultrapassasse os Estados Unidos, ficando em segundo lugar no ranking de países que mais recebem lucros do Brasil. De janeiro a maio, esse valor cjegou a US$ 1,16 bilhão.

Em Portugal, a situação é semelhante: em todo o ano de 2009, o país ocupava a modesta posição de 16º destino das transferências brasileiras. Em 2010, o volume cresceu 1.320%, para US$ 142 milhões entre janeiro e maio. Com isso, Portugal já é o 11º destino das remessas.

"O Brasil já era importante para esses países. Mas o peso relativo cresceu porque a crise ainda está longe de ter solução e as matrizes dessas empresas estão em situação muito ruim", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas e analista da Tendências Consultoria, André Sacconato.

Esse recente aumento das remessas acontece como resultado de dois movimentos. No Brasil, a demanda interna aquecida aumenta as vendas. Já no exterior, em especial na Europa, a crise derruba o faturamento e aumenta a necessidade das matrizes em receber lucros das filiais.

Reviravolta. Para a Portugal Telecom, por exemplo, o Brasil já é mais importante que a própria operação portuguesa. No primeiro trimestre de 2010, o Brasil contribuiu com 51,7% das receitas globais da companhia. No mesmo período, a matriz respondeu por 45%. Um ano antes, a situação era inversa: 51% da receita foi gerada em Portugal e 45,8% no Brasil. Além da Vivo, a PT Telecom controla a Dedic, empresa de setor de call centers, no País.

Números tão expressivos explicam a resistência do grupo português em deixar o controle da operadora. E são um bom argumento para o governo português tentar impedir, a qualquer custo, a venda da fatia da PT na Vivo. É o que sustenta Julio Püshel, analista sênior da Informa Telecoms & Media.

"O governo português tem um argumento forte: a Vivo representa mais de 50% do faturamento da PT Telecom. Apesar de os acionistas receberem muito dinheiro nesse primeiro momento, isso não significa um aumento de receita no longo prazo, pois a principal fonte vai secar", afirmou Püschel.

É essa a razão dos rumores no mercado sobre uma negociação entre a PT Telecom e a Oi. Assim, o grupo usaria o dinheiro da venda da Vivo para manter operações no Brasil e garantir lucros oriundos do País. Mas como ao grupo português só interessa, no mínimo, dividir o controle da supertele brasileira, e, nos bastidores, o que se fala é que os controladores da Oi não estão dispostos a negociar, a Telefónica estaria arquitetando um plano B: fazer a fusão da Vivo com a Telefónica e oferecer aos portugueses uma participação.

Outro fator que pesa contra a associação com a Oi é a declaração polêmica do empresário brasileiro Carlos Jereissati em 2007, um dos controladores da Oi. Quando questionado sobre o interesse do grupo português em participar da supertele brasileira, ele afirmou que a PT "não tem musculatura" para entrar em uma grande empresa de telecomunicações. O empresário também afirmou que "se é para ter um sócio desnecessário, prefiro os anglo-saxões" ou os franceses, para acrescentar charme à companhia.

Fontes do governo lusitano sustentam que a Vivo e o Brasil têm uma importância afetiva para Portugal por facilitar os negócios de um mercado que fala a mesma língua. Representa também a resistência contra os rivais espanhóis.

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