11 de Junho de 2010 - 15h:25

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Entre o espírito de aventura e de empreendedorismo

Por: Colunista Lucia Faria - Portal Imprensa

Muitas matérias ressaltam o espírito empreendedor do brasileiro. Não sei bem se isso é um mérito ou consequência da falta de oportunidades vivida ao longo dos anos. Armar a barraca em qualquer esquina, abrir um salão de beleza na garagem ou atuar como "executiva de fronteira" (mais chique que sacoleiras, né?) não representa em nada o tal espírito. Há uma família amiga minha em que todos os filhos, formados em faculdade, seguem o discurso do pai e não querem ter chefes nem horários rígidos. Vivem financeiramente em condições complicadas, donos de botecos de periferia e cercados por bêbados infames. Ainda assim, acham melhor do que estar subordinados às regras empresariais.

Recentemente, uma jovem ainda universitária contou que pretendia abrir uma agência digital com amigos. Ela sequer saiu da faculdade. Outras pessoas com as quais trabalhei, com imensa dificuldade de elaborar um planejamento ou de redigir um texto com bom português, criaram sua própria estrutura. Evidentemente torço a favor desses corajosos empreendedores, quem sou eu para julgar? 

Mas o que vivencio cotidianamente é uma dificuldade imensa em tocar um negócio próprio. Alguns motivos:

1 - Networking. É disso que vivemos. Nem adianta abrir um negócio na nossa área se você circula pouco ou conhece número relativamente restrito de pessoas. Só depois de oito anos como editora do Meio & Mensagem e dois como gerente de Comunicação da Editora Globo é que me senti um pouco mais segura para sair em carreira solo. Nas áreas em que circulo pouco certamente fica difícil avançar na prospecção. Indústria farmacêutica, por exemplo. Tenho zero de conhecimento de pessoas. E nem adianta bater na porta dessas empresas, pois isso dá pouquíssimo resultado. O que vale mesmo é ser indicado. Não adianta confiar nos amigos dos seus pais, super-respeitados. Você é quem precisa conhecer gente e ser conhecido.

2 - Pagamento de impostos. Absolutamente insuportável esse item. Se você é correto, anda sempre na linha, prepare-se. Seu faturamento estará bastante comprometido com tanta conta para pagar. É faturar hoje para pagar o governo amanhã. Se você mantiver tudo em ordem, vai sobrar pouco, pode ter certeza. 

3 - Equipe. Ser líder não é para qualquer um. Dificílimo, embora muita gente ache o contrário. Não basta ser legal com a turma, tomar cerveja após o expediente e dar risadas juntos. Tenho confiança na minha liderança e, mesmo assim, escorrego às vezes. Peco por cobrar demais, por afrouxar demais, por ser legal ou por não ser. Tem de ter paciência, acima de tudo. Seria bom se, antes de abrir seu próprio negócio, você testasse sua liderança em algum cargo de chefia. O único dia em que assisti ao programa Aprendiz Universitário, com João Dória Jr., foi justamente na fase final. A ganhadora, que liderou a última prova e apresentou o melhor resultado no desafio, levou R$ 1 milhão, emprego, carro e duas viagens internacionais. Só que todos os colegas, com poucas exceções, elegeram o outro finalista como o mais indicado para ganhar a competição. Para refletir: ela apresentou o resultado esperado, fez o melhor trabalho, mas não foi admirada pela equipe. Qual será o perfil que as empresas preferem?

4 - Conhecimento de gestão. Se a pessoa não tiver noção de como gerenciar um negócio, recomendo fazer um curso no Sebrae antes de começar a aventura. A não ser que tenha um sócio capacitado nesse sentido, alguém que cuidará da administração. 

Aliás, eu disse sócio? Bem, essa decisão é mesmo com você. Nem todo amor um dia chega ao fim e alguns casamentos dão certo de verdade. Só que o papel de cada um deve estar bem definido para as chances de sucesso serem maiores.
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