07 de Junho de 2010 - 10h:13

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Empreende, entreprendre..., por Miro Hildebrando*

Por: A Notícia

Naturalistas, poetas e filósofos concluíram que somos ligados a uma época e lugar. A pretensão de alguns os faz afirmar não ter pátria, não pertencer a lugar algum; mas, tal como o ateu empedernido, ao menor sinal da presença inevitável da dor voltam-se a Deus e às origens, aos parentes, ao local onde nasceram, ao jazigo familiar. Se assim é, então estamos destinados a permanecer no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas, pensando e agindo da mesma maneira, certo? Errado. Não há nada que nos obrigue a tanto, e podemos estagnar ou ir adiante da maneira como quisermos. Nosso livre-arbítrio assim o permite e essa é, como diria um bom italiano, la belezza della vita, desfrutar da liberdade e das alegrias do recomeço.

Se você nasceu em um ambiente conservador, dificuldade terá cada vez que pensar fora dos moldes usuais; ouvirá que as decisões têm de ser sempre pautadas pela prudência e aversão ao risco; o garantido é sempre melhor, e a estabilidade é preferida em desfavor da dinâmica, da mudança e das dores do crescimento. Já ouvi que a estabilidade do emprego público é preferível aos riscos de uma demissão numa empresa privada; e até que o “particular” não merece confiança.

Do outro lado, do espectro e suas nuances temos o criador de negócios, o inovador que passamos a compreender com mais profundidade com Schumpeter, o pai da inovação, que nos ensinou que a economia avança com base na destruição criativa, a incessante busca pelo aperfeiçoamento e transformação e o abandono do ineficiente e obsoleto. Desta forma, invenções fundamentais se somam a progressos anteriores e modificam profundamente usos e costumes: o telex é substituído pelo fax e este pela imagem digitalizada; a máquina de escrever pela impressora; o LP pelo CD; a hélice pelo jato; a mecânica simples pela robotização.

Os exemplos são muitos e o futuro nos reserva muitas surpresas: carne artificial, viva e pulsante; abolição da maternidade; substituição do trabalho humano por robôs; o desaparecimento da contabilidade; a vida virtual; o controle e erradicação de muitas doenças, incluindo o câncer e a Aids; a regeneração dos músculos na velhice. Ainda nesta década, seremos surpreendidos por novidades absolutamente fantásticas e precisaremos ser competentes para administrar as mudanças enquanto povos mais educados, ricos e direcionados o fazem com eficácia e rapidez.

Alemães, italianos e outros povos resistiram ao uso do estranho termo entrepreneur criado pelos franceses, ao qual oportunisticamente foi adicionado o ship – anglicismo típico – para designar o empreendedorismo. A palavra “empreende” se origina da mesma raiz francesa entreprendre, da qual derivou “empreendedor” e até mesmo “empresário”.

Há alguns dias, num evento organizado pela Federação das Indústrias de Goiás, ouvi do economista Paulo Rabello de Castro a afirmação de que o Brasil tem sua China: o Estado de Goiás, cuja economia, segundo o IBGE, cresceu acima da média nacional em 2009, resultado da união de esforços bem-sucedidos do empresariado e da visão de longo prazo do setor público. Fontes autorizadas do governo estadual preveem um crescimento em 2010 entre 30% e 50% superior ao crescimento médio do PIB nacional – algo como 8% a 9%, decididamente coisa de tigre asiático.

Alguns governantes imaginam que descentralizar o poder é suficiente para corrigir desníveis econômicos; outros investem em infraestrutura e logística e assim aplainam o caminho para os empreendedores. Se fôssemos avaliar o temperamento schumpeteriano dos Estados, seria forçoso concluir que alguns deles se destacam e outros não – a inovação pode ser assustadora. Para quem ainda não conseguiu entender o segredo do sucesso com relação ao crescimento econômico, podemos parafrasear o que foi dito ao candidato numa campanha presidencial americana: “É o empreendedorismo, estúpido!”

vbrando@uniplac.net

*Doutor em economia

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