18 de Maio de 2010 - 18h:37

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Linha de produção em sala de aula

Empresas, escolas, universidades e voluntários estão formando parcerias com o propósito de incentivar a formação de novos empreendedores dentro de escolas e universidades. Projetos iniciados fora dos muros escolares estão atraindo jovens estudantes para o desafio de aprender a colocar em ação ideias arriscadas – a definição básica de empreender.

O foco nos estudantes não é mero acaso. De acordo com a última Pesquisa GEM (Global En­­trepeneurship Monitor), divulgada em abril deste ano, o empreendedorismo entre jovens está em alta. A população empreendedora brasileira, de acordo com a pesquisa que mediu o grau de empreendedorismo em 54 países, está concentrada entre os jovens, de idades entre 18 e 34 anos – do total de empreendedores, 20,8% estão na faixa de 18 a 24 anos, enquanto 31,7% têm entre 25 e 34 anos.

E é da sala de aula que estão saindo exemplos de futuros empreendedores promissores. Só em Curitiba, o projeto Junior Achievement (existente no Brasil desde 1994) incentivou a abertura de 20 miniempresas em escolas públicas e privadas neste primeiro semestre. Para a outra metade do ano está prevista a criação de outras 25.

À noite, após uma tarde inteira de estudos, 26 jovens do 2.º ano do ensino médio do Colégio Decisivo, em Curitiba, se reúnem duas vezes por semana para fazer funcionar a linha de produção da miniempresa criada por eles, a Memórias S.A. É assim que, durante seis meses, eles aprendem os conceitos básicos de empreendedorismo. Desde o começo as coisas devem funcionar como na vida real. Os jovens estudantes precisam fazer pesquisa de mercado para lançar o produto e até adquirir e vender ações para viabilizar a criação de uma miniempresa com funcionamento similar ao de uma Sociedade Anônima (S/A). As contas precisam passar por constante aprovação pelo conselho de acionistas e os sócios recebem salários e comissão pelas vendas.

Para entender todo o mecanismo de funcionamento de uma empresa, estes jovens contam com a ajuda de dois voluntários, profissionais atuantes no mercado de trabalho. No caso da Me­­mórias S.A., a ajuda vem do analista de contratos Lucas Pont, 31 anos, e do gestor de negócios Ricardo Inove, 35 anos. Os dois também comparecem na escola duas vezes por semana para orientar a garotada que tem uma meta audaciosa: lucro de 100% ao término do projeto. “Se eles continuarem neste ritmo de vendas, devem conseguir”, estimula Ricardo. Todos os “impostos” arrecadados por cada uma das empresas serão doados para uma instituição de caridade.

O porta-retratos e recados da Memórias S.A também tem características sustentáveis. São usados produtos recicláveis como garrafas pet e restos de papéis. As três inventoras do produto – Brenda Toledo, 16 anos; Geo­vanna Cravo, 16 anos; e Taís Por­tes, 15 anos – ressaltam que, quando pensaram no produto, queriam algo que vendesse. “Estávamos bem focadas nisso. Fizemos uma pesquisa de mercado dentro do próprio colégio”, ressaltou Geovanna. O grupo agora arregaça as mangas para dar conta das encomendas feitas após a exposição numa feira que ocorreu no início de maio, em um shopping da capital.

No currículo

O resultado da experiência para o grupo vai além do conhecimento técnico adquirido. “Muitos jovens daqui estavam sem saber o que fazer da vida e a participação no projeto trouxe um amadurecimento”, afirmou o voluntário Ricardo. Já Lucas ressalta que, se tivesse participado de uma atividade como esta em sua adolescência, teria tomado algumas decisões de maneira diferente em sua vida profissional. “Acredito que o empreendedorismo deveria ser um disciplina curricular”, afirma.

Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), desde 1998 o empreendedorismo faz parte da grade curricular nos cursos técnicos integrados ao ensino médio e nos cursos de graduação. Além disso, a UTFPR mantém outros programas de incentivo ao empreendedorismo, com a realização de palestras, eventos, submissão de projetos à agência de inovação, hotel tecnológico e incubadora. De acordo com a professora Vanessa Ishikawa Rasoto, reponsável pela Agência de Inovação, o objetivo é dar apoio aos alunos e ex-alunos da instituição. “Não só para a abertura de novas empresas, mas para a própria vida profissional”, ressalta. Em Curitiba, 5 empresas criadas por alunos da UTFPR estão incubadas (já têm CNPJ próprio e estão em funciomento) e outras 8, na fase de pré-incubação.

Serviço:

Júnior Achievement: www.japr.org.br

Desafio Sebrae: www.desafio.sebrae.com.br

Agência Inovação UTFPR: www.utfpr.edu.br/inovacao

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