23 de Março de 2007 - 14h:36

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Advogados dão lugar a administradores

Por: Valor Online

A era dos escritórios de advocacia formados e administrados exclusivamente por advogados chegou ao fim. Ao menos, é o que aponta a pesquisa divulgada ontem pela consultora Anna Luiza Boranga, especialista em administração legal. Um dos resultados do levantamento, realizado com o objetivo de identificar o perfil dos escritórios de advocacia brasileiros, é que 53,2% das bancas entrevistadas disseram que as atividades de gerente administrativo ou financeiro do escritório são executadas não por advogados, mas por profissionais com outras formações.

Os administradores de empresas representam 44% desse universo diferente do usual de alguns anos atrás. Os economistas e administradores vêm em terceiro lugar, com 12% deste universo cada. Apesar da profissionalização que estes números denotam, um dado que chamou atenção, negativamente, da pesquisadora foi quantos escritórios ainda têm sua gestão comandada pelas secretárias: 16% do universo dos que não têm advogados na administração.

Esses casos não são tão incomuns. "Recentemente, um escritório veio me pedir para contratar uma secretária executiva para cuidar da administração", relata Anna Luiza. Nesse caso que ela cita, os sócios manteriam o controle sobre a área financeira, de cobrar e receber dos clientes, o que Anna Luiza não recomenda. Outros 2,7% do grupo dos gestores de escritórios "não-advogados" são engenheiros.

Engana-se quem acha que o administrador é um mero departamento financeiro, que assina e recebe cheques. De acordo com a pesquisa, 33,9% dos ditos administradores profissionais participam de decisões sobre estratégias de investimento de vulto e 48,5% fornecem dados e participam de reuniões de planejamento estratégico com os sócios.

Anna Luiza defende que não é papel do administrador, no entanto, tomar decisões no lugar dos sócios, mas apenas subsidiar as decisões deles, no caso de escritórios de advocacia. Diferente do que se prega em companhias de grande porte ou de capital aberto, em que se valoriza a separação entre administrador e os sócios. Para aumentar a motivação destes profissionais, ela defende que a remuneração fixa seja acompanhada das bonificações para aumentar a responsabilidade do administrador sobre os gastos. Mas 33,3% dos administradores têm remuneração fixa, enquanto apenas 18,3% têm remuneração fixa acompanhada de participação nos resultados.

Com todas as mudanças de visão da advocacia, ela reconhece que ainda existem advogados que não têm visão empresarial. Prova disso é o perfil familiar que ainda resiste em alguns escritórios, 15% de acordo com a pesquisa, sendo que 13,5% são organizações familiares com projeto de profissionalização em andamento. Mas 38,5% informaram ser sociedades com contratos de associação (sócios menores) e 31,6% estariam com as cotas mais pulverizadas, distribuídas entre sócios diversos, não de uma família. Em 34% dos escritórios os sócios não titulares têm apenas uma cota, o mínimo exigido, o que demonstra que ainda há uma concentração no controle. Anna Luiza acredita na tendência de fusões e associações entre escritórios, predominando os médios e grandes escritórios.

Clemencia Beatriz Wolthers, da diretoria executiva do Centro de Estudos da Sociedade dos Advogados (Cesa), avalia que o preconceito contra a profissionalização dos escritórios é em parte devido à interpretação equivocada de que, se escritórios não poderiam ter não-advogados entre os sócios, também não poderiam contratar outros tipo de profissional para a administração. Mas o Provimento nº 112 da OAB, de 2006, permitiu claramente, no artigo 3º, a contratação de outros profissionais não advogados para fins específicos de administração. Ela entende que as decisões estratégicas devem continuar a cargo dos sócios.

 

A pesquisa foi realizada durante o mês de dezembro com 846 escritórios do país, e divulgada ontem no Conselho Regional de Administração de São Paulo, no âmbito dos preparativos para o Congresso e Exposição de Administração Legal para Advogados (Fenalaw 2007), no qual a pesquisa será divulgada.
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