28 de Dezembro de 2009 - 11h:40

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Grãos e carne em 2009

Por: Globo Rural

O agricultor brasileiro gastou boa parte do ano de 2009 administrando os reflexos da crise mundial.

O começo foi de muito nervosismo, mas as coisas se acalmaram aos poucos com o passar do tempo.

O repórter José Hamilton Ribeiro fez um balanço dos fatos que marcaram o ano na agricultura e na pecuária.

De todos os produtos que saem do campo, no Brasil, o que está mais espalhado por todas as regiões, e o que apresenta o maior faturamento é, ainda, o velho boi, o boi de corte.

O pecuarista não teve vida fácil em 2009. O boi foi um dos produtos mais atingidos pela crise. Caiu a exportação e para complicar o dólar fraco diminuiu o faturamento em reais. Resultado: mais carne no mercado interno e o preço da arroba em queda no final do ano.

O valor da arroba caiu perto de 15%, em relação a 2008. Foi um ano de sacrifício, diz o Presidente da Associação das Indústrias Exportadoras de Carne, Roberto Gianetti da Fonseca.

"Perdemos volume, preço, mas ao mesmo tempo foi um ano de recuperação e consolidação. Algumas indústrias tiveram dificuldade, estão passando por recuperação judicial, mas outras tiveram a capacidade de superar a crise, estão até comprando ou se associando a seus concorrentes e ganhando uma musculatura, uma dimensão internacional".

Nesse embalo, o frigorífico JBS, depois de incorporar a Swift e a Pilgrim´s, nos Estados Unidos, se associou no Brasil ao Bertin e se transformou no maior exportador de carne do planeta.

O ex-ministro Pratini de Moraes é hoje representante da JBS. Ele diz que esse é o jogo natural do mercado. "A tendência são as empresas industriais se consolidarem, continuarem crescendo para obter economias de escala e mais competitividade".

Mas a concentração do mercado deixou os pecuaristas de Mato Grosso de orelha em pé. "A preocupação maior é que ao ter uma concentração, eles estarão dominando o preço não só da compra do produto, como também da venda ao supermercado e aos consumidores", afirma o Presidente da Acrimat, Mário Cândia.

O frango seguiu os passos da crise. Começou mal, com exportação em queda, mas termina o ano com aumento de produção.

"Nós podemos comemorar, que nós vamos ter um recorde, vamos atingir todas as metas positivamente", diz o conselheiro do Sindicato dos Produtos Avícolas, Ciliomar Tortolla.

Quem lida com suíno, também passou por maus momentos. O criador Saulo Vieira, de Patos de Minas, faz um balanço.

"No início do ano, começamos a recuperar preço, depois veio o advento de outra crise, a gripe H1N1, que derrubou os preços e agora, recentemente, nós voltamos a recuperar margem".

No café, a temporada foi de safra menor. Com menos produção e preço baixo, a renda diminuiu. A esperança é a safra de 2010, que deve chegar bem carregada.

"Pelo que a gente pode perceber, a florada está muito boa, as condições climáticas são favoráveis e parece que vai correr tudo bem", acredita o agrônomo, Antônio Fidelis.

Leite: outro enrosco com o dólar e com o governo. As importações dobraram e fizeram cair o preço do litro na ordenha. No Rio de Janeiro, criadores protestaram e deram leite de graça para o povo.

"O dólar barato, está entrando muito leite. Tem leite da Europa, entra na Argentina, entra no Uruguai e vem através do Mercosul, para o Brasil, sem imposto, sem nada", explica o Presidente da Associação dos Produtores, Alexandre Brasil.

No final do ano, as importações começaram a diminuir por causa da alta no preço do leite no mercado externo.

"A nossa expectativa é que a partir do inicio de janeiro a gente tenha uma reversão do quadro e possamos ter uma oscilação melhor para o produtor, inclusive com recuperação de preço e da renda", afirma o Superintendente da Confederação das Cooperativas de Laticínios, Vicente Nogueira.

No caso da laranja, houve uma conta azeda: mercado retraído lá fora e dólar enfraquecido aqui dentro. Quando a moeda americana se desvaloriza, o produtor recebe menos reais pela caixa que é negociada em dólar.

"Foi uma situação muito apertada, devido ao preço imposto pelas indústrias abaixou o custo do nosso produto", explica o agricultor, Oscar Muller.

O trigo enfrentou muita chuva em agosto e a safra teve perda no volume e na qualidade, por causa do ataque dos fungos.

"Não é nem trigo, é uma mistura de trigo chuvado onde o PH dele caiu demais com a chuvarada da semana retrasada", diz o agricultor, Luís Kolarovic.

O produtor de milho também passou aperto. O faturamento caiu por causa do preço baixo e houve quebra na safra.

Os silos receberam um carregamento menor de grãos em 2009. A estiagem no sul derrubou a produção de soja e milho no primeiro semestre e perdemos quase dez milhões de toneladas em relação à safra do ano passado.

Com menor produção, o agricultor teve que suportar uma queda na renda. Em 2008, por causa da safra recorde e dos bons preços, a receita das fazendas brasileiras tinha chegado aos R$ 160 bilhões. Este ano, caiu para R$ 153 bilhões, 4% a menos.

Por causa da queda na renda e diante da falta de crédito, o governo lançou no meio do ano um plano de safra mais generoso. Aumentou em 42% o volume de crédito para a agricultura empresarial.

A Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária, Kátia Abreu comemorou: "os custos de produção caíram de fevereiro para cá em torno de 20%. Nós estamos mais otimistas com relação a esses valores serem suficientes para o plantio da safra 2009/2010, para resgatar a safra colhida anteriormente".

O custo menor e o aumento no volume de crédito não foram suficientes entretanto para estimular o produtor de milho. O pessoal reduziu a área da safra de verão por causa do preço baixo.

"Eu planto por causa da rotação grande que faz, mas a gente não quer plantar por causa das desvantagens, os preços caem e ninguém quer plantar o milho de verão", afirma o agricultor, Ângelo Celestino.

Já no caso da soja, o ânimo é outro. "A lavoura está vindo em uma condição muito boa, o clima está favorecendo e a gente está na espera de uma boa colheita", diz o Gerson Antoé.

O produtor preferiu reduzir a área de milho para investir na soja que tem melhor perspectiva de comércio e custo mais barato.

Mesmo com uma safra mais em conta, o agricultor ainda se preocupa com a taxa de câmbio. Como vai ficar o dólar em 2010? Como vai ser a renda? Mas, um fato é certo. A pior coisa que pode acontecer na vida do produtor é não ter safra e os sinais do campo indicam uma boa colheita para 2010.

Houve excesso de chuva em algumas regiões, mas para o milho e para a soja, o clima está ajudando.

As previsões para a próxima safra indicam uma produção de grãos em torno de 140 milhões de toneladas, 4% a mais que na colheita anterior.

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