18 de Dezembro de 2009 - 11h:10

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Bovespa fecha em baixa de 2,27%; dólar tem a maior alta em seis meses

Por: Vivian Pereira Nunes - O Globo

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou nesta quinta-feira em baixa de 2,27% a 67.067 pontos, com volume de negócios de R$ 7,4 bilhões, seguindo a tendência negativa internacional. O mercado digere a indicação de que o Fed (Federal Reserve), banco central americano, vai retirar linhas de crédito e financiamento em fevereiro de 2010, interpretado como um primeiro passo para a alta de juros nos Estados Unidos.

A percepção de redução da liquidez da moeda americana tem forte impacto no mercado de câmbio. O dólar sobe aos maiores patamares dos últimos meses contra o euro e outras moedas, inclusive o real. Com isso, as commodities perdem valor, o que tem grande impacto nas ações carro-chefe da Bovespa.

Frente ao real, o dólar fechou nesta quinta-feira em alta de 2,34% a R$ 1,791, o maior avanço desde 22 agosto, quando a moeda ganhou 2,58% a R$ 2,024, e a maior cotação desde o dia 29 de setembro, quando terminou o dia a R$ 1,793. O Banco Central (BC) realizou hoje mais um leilão para compra da moeda, a R$ 1,971.

Em Nova York, o índice industrial Dow Jones recuou 1,27%, enquanto o Nasdaq caiu 1,22% e o S&P500 perdeu 1,18%. As ações do Citigroup cederam mais de 7%, ficando em torno de US$ 3,20, depois de o governo americano ter adiado seus planos de reduzir sua participação de 34% no banco.

Como o Tesouro dos EUA pagou US$ 3,25 pelo papel, iria ter prejuízo, já que o banco está vendendo a ação ordinária por menos em uma nova emissão, feita para quitar parte da dívida de US$ 45 bilhões com os cofres públicos. Sendo assim, o governo americano avisou esta semana que a redução deve ser feita agora de forma gradativa, nos próximos 12 meses.

Para Décio Pecequilo, analista da TOV Corretora, a queda na Bovespa nesta quinta-feira, foi uma realização de lucros um pouco mais forte.

- Mas, é natural, afinal de contas estamos liderando o rendimento de aplicação em ações no mundo, então deveríamos esperar por isso. Nós temos em 2009 mais de 80% de alta do Ibovespa. O mercado que chega mais perto da gente é Xangai - disse.

Para o analista trata-se de uma boa oportunidade de compras de ações, já que os sinais macroeconomômicos são positivos.

- A Ata do copom viu hoje melhora no mercado de trabalho e expectativa de preço estável para a gasolina e outros combustíveis em 2010. Segundo os relatórios de bancos, a conclusão é que a economia cresce no mínimo 5% no ano que vem - afirmou.

Outro sinal positivo para o mercado de ações brasileiro, segundo Pecequilo, é que os grandes fundos globais continuam aumentando suas posições aqui. De acordo com o analista, o fundo Black Rock, por exemplo, tem 6,16% em Petrobras PN, 6,16%, 9,49% em Vale PNA e 5,84% em Usiminas, fora outras ações brasileiras.

Especulação diminui e real busca valor verdadeiro

Para o diretor de câmbio da NGO Corretora, Sidnei Nehme, a alta do dólar frente ao real reflete o grande volume de negócios no mercado à vista neste fim de ano e uma redução do interesse na moeda brasileira para a especulação.

- O real está buscando seu preço verdadeiro, sem exageros, que está em torno de R$ 1,80. O real foi a moeda que mais valorizou entre os emergentes, mas a diferença na variação do risco país no mesmo período mostra que despertou mais interesse dos especuladores - avalia.

Como influência internacional para a forte alta do dólar, Nehme cita a sinalização de que o governo americano deve retirar ajuda financeira do mercado, o que vai diminuir a liquidez. Entretanto, o diretor de câmbio destaca outros fatores específicos brasileiros.

- As empresas têm US$ 11 bilhões de exportações já recebidas e não colocadas no país, beneficiando-se da normativa que permite que este dinheiro fique até 750 dias fora do Brasil. Se o dólar voltar a R$ 1,80 e houver uma melhora no mercado interno, os exportadores vão colocar esse dinheiro aqui - explica.

Ele acrescenta ainda que o relatório do setor externo divulgado nesta sexta-feira elevou a previsão de déficit de conta corrente para US$ 40 bilhões em 2010, o que também aponta para uma valorização do real no próximo ano.

Procura maior por ações de menor liquidez no fim do ano

O avanço nos pedidos de seguro-desemprego nos EUA, apontado pelo Departamento do Trabalho do país, também influencia o mercado de forma negativa nesta quinta-feira. Na semana terminada no dia 12 deste mês, os novos pedidos de seguro-desemprego foram para 480 mil, na comparação com os 473 mil registrados uma semana antes. Alguns analistas previam recuo na procura pelo benefício.

Entre os principais ativos do Ibovespa, Petrobras PN perdeu 2,61% a R$ 36,87, Vale PNA recuou 3,42% a R$ 41,45, Bradesco PN se desvalorizou em 2,44% a R$ 36,28, ItaúUnibanco declinou 2,72% a R$ 38,52, Usiminas registrou queda de 0,97% a R$ 48,90 e BMF&Bovespa teve variação negativa de 0,98% a R$ 12,04.

Fora do Ibovespa, destaque para a estreante Fleury, que subiu 14,06% a R$ 18,25 nesta quinta-feira, com 5.858 negócios e volume de R$ 163 milhões. A rede de laboratório chegou ao Novo Mercado com uma oferta primária de ações que resultou na captação de R$ 548 milhões. O preço de emissão foi de R$ 16 por papel, no centro da faixa estimativa.

Ainda fora do Ibovespa, estiveram entre as maiores oscilações do dia as das ações da Parmalat (MILK11) e da rede de Hotéis Othon, com avanço de 17,64% a R$ 1 e ganho de 28,33% a R$ 0,77, respectivamente. Os investidores esperam que seja anunciada em breve a saída da Parmalat da recuperação judicial.

Já os recibos da Agrenco, que chegaram a subir 10% durante o pregão, depois de fechar ontem com alta de mais de 35%, terminaram o dia com valorização de 5,11% a R$ 2,67. O ritmo de alta arrefeceu depois que a trading do agronegócio divulgou uma nota afirmando que não está realizando nenhum negócio no momento. Mas segue a expectativa de que a empresa seja comprada assim que sair da recuperação judicial.

De acordo com o analista da Souza Barros Luiz Monteiro, é comum a procura por papéis com pouca liquidez no fim do ano, quando o volume de negócios diminui.

- É uma busca baseada em boatos, impulsionada pelo pessoal do giro - diz.

Europa e Ásia em queda

Na Europa, o setor financeiro puxou as perdas, com o aumentos dos temores de prejuízos com a Grécia, cujo rating soberano foi rebaixado por mais uma agência de risco na quarta-feira, a Standard & Poor's (S&P). Sua 'nota' da dívida passou de "A-" para "BBB+".

O FTSE-100, de Londres, declinou 1,93%, em Frankfurt, o Xetra-DAX devolveu 1%, e em Paris, o CAC-40 perdeu 1,16%.

Perdas também na Ásia, onde a Bolsa de Tóquio fechou a quinta-feira com desvalorização de 0,13%, Seul caiu 0,99%, e Xangai e Hong Kong caíram 2,34% e 1,22%, respectivamente.

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