18 de Novembro de 2009 - 09h:52

Tamanho do texto A - A+

Depois da tempestade

Uma das primeiras a se beneficiar com a nova Lei de Falências em Ribeirão, Cory retoma produção

Por: RAISSA SCHEFFER - Gazeta de Ribeirão

A história de dificuldades e falta de organização financeira, que para muitas empresas foi contada na Justiça por meio de processos de recuperação, teve um final feliz para a indústria de alimentos Cory, com fábrica em Ribeirão Preto. A empresa, uma das primeiras da cidade a se beneficiar com a chamada nova Lei de Falências, teve sua Recuperação Judicial finalizada no mês passado —após cinco anos nos tribunais inclusive com o fechamento de sua unidade— e agora inicia sua retomada de mercado com a geração de 600 empregos diretos e boas perspectivas para 2010.

Em 2003, por erros de gestão, a fabricante de famosas marcas como as balas Ice Kiss e os biscoitos infantis Hipopó, começou a sofrer financeiramente. “Ampliamos nossa atuação com a compra de uma rede de lojas de vestuário, mas não deu certo”, disse o presidente da Cory, Nelson do Nascimento Castro.

De acordo com o empresário, 85% da dívida era com bancos, o que fez a indústria entrar em concordata. Em 2004, foi decretada a falência e a indústria ficou fechada por quatro meses. “Lutei na Justiça e conseguimos reverter a falência.” A empresa, que possuía 1,2 mil funcionários, voltou a operar com 15 executivos e 200 colaboradores.

O empresário conseguiu se beneficiar com a mudança na antiga Lei de Falências e teve seu pedido de Recuperação Judicial aprovado em março de 2006. “Com a mudança na lei em 2005, as empresas não precisavam mais encerrar suas atividades, e sim continuar a funcionar e gerar recursos para pagar a dívida”, disse o economista Pedro Afonso Gomes, especialista em recuperação de empresas do Conselho Regional de Economia de Ssão Paulo (Corecon-SP).

Em dois anos e meio de pagamentos aos credores, a Cory conseguiu que o juiz Francisco Câmara Marques Pereira desse por encerrado o processo de recuperação. “A recuperanda cumpriu com todos os compromissos assumidos no decorrer do longo trâmite desses autos”, relatou a sentença assinada no mês passado.

“A Cory construiu uma visão de futuro, com boas expectativas para os próximos anos, e devemos agradecer aos fornecedores e clientes pela retomada. Mas, sem a mudança da lei, não teríamos conseguido”, disse Castro.

Lei facilita retomada de confiança

A retomada de confiança do mercado é um dos principais desafios de uma empresa, como a Cory, que passou por processos judiciais de recuperação. “A nova Lei de Recuperação Judicial já mudou a mentalidade. Pois um processo como esse não significa que a empresa está parada, pelo contrário, ela atua para pagar os credores. Além de tudo tem o acompanhamento do juiz. Mas existe a fase de retomada também”, disse o advogado Antonio Carlos Porto Araújo, especializado em processos de recuperações da Trevisan Consultoria. Para o presidente da Cory, Nelson do Nascimento Castro, além da confiança, o fim da recuperação pode significar acesso ao crédito, que foi restrito com os problemas. “Durante o processo, tivemos a confiança de fornecedores e parceiros. Agora, faremos um planejamento mais tranquilo para 2010.” (RS)

Fábrica começou como padaria sem forno em 69

O presidente da Cory, Nelson do Nascimento Castro, comemora a recuperação e os 40 anos da empresa, que hoje tem a gestão mais livre. “Sem o acompanhamento do juiz, estamos mais confortáveis para administrar a empresa”, disse o empresário, que escreveu um livro sobre a história da Cory, “O Voo Hipopótamo”, lançado há dois anos.

Antes de se tornar presidente de uma indústria que hoje é case para palestras sobre recuperações financeiras, Castro começou com uma padaria —sem forno— em 1969 na cidade de Lins. “Comprávamos o pão de outras padarias e revendíamos”, disse ele, que destaca a criatividade como segredo de sucesso nos negócios.

Com a expansão dos negócios em Lins, em 1974 veio a oportunidade de comprar uma fábrica em Ribeirão. Oito anos depois, o carro-chefe em vendas da empresa, a bala Ice Kiss, foi lançada. “Em 1984 já éramos líderes de mercado nacional com a Ice Kiss, e em 1990 lançamos a marca de biscoitos Hipopó, também líder no segmento infantil. Enfim, estávamos em plena ascensão”, disse Castro. Com todos os problemas superados, o empresário considera a confiança nas pessoas, íntegras e criativas, o principal fator para reerguer o negócio. “Quando voltamos, após a falência, tive a confiança de pessoas que já estavam empregadas em outros lugares. Todo o processo foi difícil, mas temos orgulho da nossa história.”

VOLTAR IMPRIMIR