16 de Novembro de 2009 - 10h:51

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Eucatex recupera o fôlego

Como a empresa da família Maluf se tornou a primeira a sair do processo de recuperação judicial

Por: Tatiana Vaz - Istoé Negócios

Uma sensação de alívio tomou conta da família Maluf na segunda-feira 9. Naquela manhã, na 3ª Vara da Comarca da cidade de Salto, no interior paulista, foi aprovado o término do processo de recuperação judicial da indústria Eucatex, controlada pelo clã. A companhia já havia sido a primeira do Brasil a migrar do processo de concordata para recuperação judicial, conforme lei instituída em 2005 com o objetivo de assegurar a sobrevivência de empresas em dificuldades.

Pela nova legislação, durante dois anos a corporação se compromete a cumprir suas obrigações fiscais e trabalhistas. Em troca, tem seus ativos preservados até que a empresa consiga pagar suas dívidas, de acordo com um plano negociado com os credores. Entre todas as grandes companhias que adotaram o novo modelo, a Eucatex foi também a primeira a sair.

"Trabalhamos muito neste tempo, cortamos gastos e, principalmente, investimos em produtos de maior valor agregado", diz Flávio Maluf, filho mais velho de Paulo Maluf, principal acionista da companhia. A notícia fez os papéis da Eucatex dispararem na Bolsa de Valores de São Paulo. No dia em que comunicou o fim da recuperação judicial, as ações preferenciais da companhia fecharam o pregão com alta de 12,73%.

Segundo Maluf, antes mesmo do anúncio, alguns fundos de investimentos nacionais e estrangeiros procuraram a empresa para estudar a viabilidade de adquirir parte do negócio. "Isso nos faz pensar numa provável nova emissão de ações no futuro", diz o executivo. Em 2007, quando recorreu à nova lei, as dívidas da Eucatex somavam R$ 485 milhões e os prejuízos no balanço eram frequentes.

Num período de apenas dois anos, o montante do endividamento foi reduzido para R$ 82,4 milhões. Melhor ainda : no primeiro semestre de 2009, a empresa obteve lucro de R$ 17 milhões (leia quadro). Para colocar as contas em dia, a companhia promoveu um corte radical de gastos. Primeiro, diminuiu o número de fábricas de cinco para três, para concentrar as operações nos ativos que geram maior lucro operacional.

Assim, o espaço da unidade de Barueri foi alugado para terceiros. Já a fábrica de Paulínia, que concentrava os negócios na área mineral, com a produção de substratos agrícolas, como adubo e sementes, foi desativada em agosto e colocada à venda. "Vamos deixar esse segmento de lado para focar nossa atuação em construção civil e indústria moveleira", afirma Maluf.

Os gastos administrativos e de produção também diminuíram em 25% de 2007 para cá, com cortes de mão de obra. O número de diretorias, por exemplo, vem caindo gradativamente. "Em 1997 a empresa tinha 23 diretores. Hoje tem cinco. Além de reduzir custos, isso tornou as tomadas de decisão mais rápidas", diz o empresário.

Outro caminho trilhado pela companhia para voltar a operar no azul foi ampliar a presença de seus produtos  pontos de vendas. As tintas e vernizes da empresa, por exemplo, passaram a ser vendidas em um número de lojas 60% maior.

"Além disso, em vez de reduzirmos os preços de produtos, melhoramos a qualidade e expandimos nosso portfólio com novos itens", afirma Maluf. Uma das novidades da Eucatex é a produção de portas para o setor de construção civil. O produto, que foi comercializado pela empresa até 2003, voltou ao catálogo em 2009 e atualmente é uma das prioridades da companhia.

Os resultados começaram a aparecer. Apenas de janeiro para cá, a Eucatex ficou com 2% deste mercado. Até 2012, a meta é conquistar 12%. Apesar de todos os cuidados de gestão da companhia, o estancamento da sangria financeira ocorreu graças, sobretudo, à lei de recuperação.

Segundo Eduardo Munhoz, conselheiro da TMA, associação especializada em recuperação jurídica, se a companhia continuasse em concordata, não poderia ter emitido debêntures nem vendido imóveis para pagar os credores. "Essa opção facilitou muito, mas é bom ter cautela. Apesar de ter saído do vermelho, não podemos esquecer que a Eucatex não pode pedir uma nova recuperação nos próximos cinco anos", afirma Munhoz.

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