10 de Setembro de 2009 - 15h:50

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Credores aprovam plano de recuperação da Casa & Vídeo

Por: Paola de Moura - Valor Econômico

Com direito à claque de mais de cem pessoas vestidas de amarelo, a bolo de parabéns e a vídeos dos funcionários pedindo que as empresas votassem sim, a assembleia de credores aprovou ontem o plano de reestruturação da Casa & Vídeo. A festa era tanta que até o dono da empresa, Luigi Fernando Milone, fez sua primeira aparição pública desde novembro, quando foi preso pela Polícia Federal. Passado o sufoco, os planos são grandiosos: se tornar a maior empresa de varejo do país, afirmou Milone.

Já o novo presidente da companhia, Flávio Carvalho, que era advogado do escritório Alvarez e Marçal responsável pela estruturação da rede de lojas, é mais cauteloso. " Nosso objetivo primeiro é terminar a reestruturação da empresa, equalizar a operação. Mas claro, nós queremos ser os maiores " , confirmou Flávio Carvalho.

Além disso, o novo presidente afirma que, com a estrutura atual pode administrar 120 lojas, o dobro do que tem hoje, 61 lojas. " Nada como uma crise para levar eficiência à empresa " , diz. Hoje, segundo Carvalho, é possível elevar o faturamento aumentando as vendas, sem precisar contratar mais pessoas. Enquanto em janeiro, no auge de sua crise, a empresa faturou R$ 35 milhões, hoje fatura R$ 70 milhões. No entanto, no início de 2008, esse número chegava a R$ 100 milhões.

Dos 540 credores presentes, que representam R$ 280 milhões em dívidas, 488 votaram a favor e 44 contra. Como o que pesa na aprovação é o volume de crédito, a reestruturação foi aprovada por 74,54% dos credores. No entanto, grandes companhias, como Motorola, Sony Ericsson e Philips votaram contra.

Luigi Milone, vestido de amarelo, cor da Casa & Vídeo, da cabeça aos pés, era o mais exultante. Em seu discurso disse que estava planejando uma forma de voltar à operação da empresa, embora a lei de recuperação judicial impeça o acionista majoritário de participar da nova companhia saneada. " Descobri que sou substituível " , lamentou em tom de brincadeira.

A partir de agora, será constituído um fundo de investimento em participação, o FIP Controle, gerido pelo Bank of New York Mellon, para capitalizar a nova empresa e reduzir sua dívida. Esse fundo terá uma oferta inicial de R$ 43 milhões a investidores qualificados e a credores do banco. Cerca de R$ 23,4 milhões virão dos credores com dívida de mais de R$ 1,5 milhão que terão ainda deságio de 50%. Como serão participantes de um fundo, não estarão na gestão da empresa.

Com a estruturação do fundo, a empresa passará ser auditada, como se fosse uma companhia aberta e vai divulgar balanços semestrais. Além disso, adotará governança corporativa nos níveis do Novo Mercado da BMF & Bovespa, promete Carvalho.

A empresa pagará aos outros credores em até 30 anos. Primeiro recebem aqueles que detêm créditos de até R$ 80 mil. O pagamento será em 12 vezes com desconto de 40%. Os credores maiores que concordaram com um abatimento de 30%, chamados de classe A, receberão em 16 parcelas semestrais a partir de julho de 2012. Já aqueles que quiserem ter a dívida paga integralmente terão a devolução em 32 semestrais, também a partir de julho de 2012.

O plano ainda criou um sistema parecido com o de milhagem de companhias aéreas, chamado de plano de aceleração de pagamentos. A cada R$ 100 em vendas com 45 dias de prazo, o fornecedor ganha um ponto, que equivale a R$ 1 em antecipação. No entanto, os pontos só poderão ser descontados quando o Ebtida for positivo.

A dívida fiscal fica com a Casa & Vídeo Licenciamentos. Segundo Carvalho, são R$ 100 milhões concentrados em quatro anos. O dinheiro será repassado pela empresa fluminense. Ele explica que o repasse será feito em quatro anos, já que a dívida com o Fisco foi parcelada durante a crise, e devolvida em 15 anos.

Milone ainda responde a processo criminal, que corre em segredo de Justiça. Ele foi preso em novembro, com outras 12 pessoas, na operação " Negócio da China " da Polícia Federal, acusado de sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e contrabando.

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