01 de Julho de 2009 - 12h:49

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‘Crises’ derrubam abates

Por: Mariana Peres - Diário de Cuiabá

Mato Grosso reduziu em 11,10% o volume de abate de bovinos no primeiro trimestre deste ano em comparação com os números do mesmo período do ano passado. Nos três primeiros meses de 2008 foram abatidos 989,464 mil cabeças, já neste ano, o período acumula 879,583 mil.

A retração em Mato Grosso, como aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é idêntica à observada em nível Brasil e fruto da crise econômica mundial que dificultou o giro de capital aos frigoríficos, que em vários estados brasileiros suspenderam e ou paralisaram as atividades. Mato Grosso, maior produtor de bovinos do País, com um rebanho estimado em mais de 26 milhões de cabeças, foi o mais prejudicado, já que do segundo semestre do ano passado até agora, contabilizou o fechamento de 15 unidades e o encerramento das operações do grupo Independência em cinco plantas espalhadas pelo interior estadual.

O mesmo levantamento do IBGE divulgado ontem, que é o primeiro do ano, revela que Mato Grosso, apesar da retração, é o principal estado brasileiro em abate de bovinos, respondendo por 13,6% dos abates de toda a produção nacional feita pelos estabelecimentos fiscalizados e detém o Serviço de Inspeção Federal (SIF). A seguir, destacam-se as produções de São Paulo (13,3%), Mato Grosso do Sul (12,2%) e Goiás (9,2%).

O superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, explica que os números refletem duas crises que abateram o segmento da pecuária, uma seguida da outra. Primeiro foi a crise interna que restringiu a oferta de animais acabados, prontos para o abate. “Nosso rebanho de boi gordo não é mais o mesmo de 2006 e 2007. A falta de rentabilidade obrigou o pecuarista a se desfazer das fêmeas e a venda das matrizes inibiu a expansão dos rebanhos, já que a vaca abatida não gera bezerros. O que começou lá atrás veio refletir no ano passado. E também, no ano passado houve a crise financeira mundial, que deixou escasso o crédito aos frigoríficos e que agora deságua numa enxurrada de pedidos de recuperação judicial”.

Apesar da retração da atividade, Vacari aposta que ao final de 2009 o Estado estará contabilizando um volume total de abates de 4 milhões de cabeça “número muito próximo do que registramos em 2008”. Mesmo com 38% da capacidade de abate reduzida no Estado, por conta da desativação de 15 plantas, ele explica que a proximidade de números tem uma explicação lógica: “O boi gordo tem de ser abatido. Não dá pra segurar no pasto por muito tempo”.

IMEA – O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), também acompanha a movimentação do mercado de abate de bovinos, mas, diferentemente do IBGE, que só contabiliza o SIF – plantas habilitadas para processar carnes com destino a outros estados e países –, o Imea monitora o abate geral, incluindo além do SIF plantas com certificação estadual e municipal, os chamados selos Sise e SIM, respectivamente.

Neste conjunto de avaliações, a retração trimestral apontada pelo Imea ao Estado é de 7,9% na comparação entre os trimestres de 2008 contra 2009. Já os cinco primeiros meses mostram queda de 10%, sendo abril, mês prejudicado pelos inúmeros feriados em Mato Grosso, o de pior desempenho até o momento: -28%. Em maio, houve pequena recuperação, ao fechar com crescimento de 2%. Como explica o analista de pecuária do Instituto, Otávio Celidonio, o monitoramento do Imea tem como base as Guias de Trânsito Animal, as GTAs.

CRISE – Segundo balanço da Acrimat, a crise começou no final do ano passado com o fechamento dos primeiros frigoríficos. Das 38 plantas habilitadas a exportar (SIF), 15 estão paralisadas e isso afetou 40% da capacidade de abate de bovinos. A dívida dos frigoríficos somente junto aos pecuaristas de Mato Grosso é de R$ 120 milhões. O efeito dominó foi inevitável: 4,8 mil funcionários foram demitidos diretamente, sendo que o impacto social, no entanto, é muito maior, chegando a atingir quase 40 mil pessoas. Além disso, R$ 4,2 bilhões deixaram de girar na economia mato-grossense, uma situação que pode representar, em 2009, redução de cerca de 20% do total que o Estado arrecadou em 2008 com o ICMS dos frigoríficos.

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