03 de Março de 2009 - 17h:36

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Independência é o sexto frigorífico a pedir recuperação judicial

Por: Último Segundo

Com um prejuízo operacional diário de cerca de R$ 2,8 milhões e uma dívida acumulada de US$ 1,2 bilhão, o frigorífico Independência entrou na última sexta-feira com pedido de recuperação judicial. No mesmo dia, a empresa entrou nas cortes dos Estados Unidos com um pedido de extensão da proteção da lei de recuperação naquele país, o chamado capítulo 15.
O Independência é o sexto frigorífico a entrar com pedido de recuperação judicial desde o final do ano passado. Com a queda nas exportações e dificuldade de obtenção de crédito, o Independência segue os passos de Margen, Estrela, Arantes, IFC e Quatro Marcos.

Um dia antes de entrar com pedido de recuperação em Cajamar (SP), onde fica a sede da empresa, o frigorífico anunciou a interrupção dos abates em todas as suas dez unidades em operação no País. A interrupção das atividades e o pedido de recuperação surpreenderam o mercado, que via no Independência um grupo sólido e capitalizado. Em novembro, a empresa recebeu uma injeção de capital de R$ 250 milhões do BNDESPar, o braço de participações em empresas do BNDES.

A empresa contava com um segundo aporte de R$ 200 milhões para março, mas o banco decidiu não liberar. "O segundo aporte de capital estava previsto para ocorrer neste mês de março e estava condicionado ao cumprimento de determinadas condições, as quais não se verificaram", disse, em nota, o BNDES. O banco disse ainda que, no momento do primeiro aporte, "a companhia apresentava confortável posição de caixa, conforme verificado no fechamento de outubro de 2008".

A deterioração da situação financeira da companhia também fez o grupo suspender uma operação de recompra de bônus emitidos na Europa, com vencimento em 2015 e 2017, no valor de US$ 525 milhões. A empresa chegou a tomar um empréstimo com o Santander e o Citi para fazer a recompra, mas cancelou a operação na segunda-feira de carnaval. Segundo fontes ligadas à empresa, a operação com o Santander e o Citi foi desfeita e o dinheiro está sendo devolvido aos bancos.

Uma vez aprovado o pedido de recuperação judicial, os detentores de papéis da empresa nos EUA e na Europa terão de reclamar seus créditos dentro do processo no Brasil. Conforme declarado pela empresa no pedido de extensão dos efeitos da recuperação às cortes americanas, o restante da dívida, aproximadamente US$ 575 milhões, foi contraída com bancos e fornecedores no Brasil.

Em conversa com analistas internacionais na tarde de ontem, o presidente do Independência, Roberto Russo, explicou que a situação da empresa se deteriorou de forma dramática desde janeiro. "A combinação de falta de capital de giro, excesso de oferta, queda na demanda e preços em queda afetou nosso negócio de forma severa", disse Russo, que é suplente de senador pelo PL do Mato Grosso do Sul. "São problemas estruturais e precisamos fazer ajustes profundos na companhia." De acordo com o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Tobias Bremer, a empresa também sofreu com a inadimplência de parte de seus compradores externos, porcentual que chegaria a 20%.

As exportações de carne brasileira tiveram uma queda de 34% desde setembro. O Independência, assim como os demais frigoríficos, contava com uma recuperação das vendas externas em janeiro, o que não aconteceu. Pior, os frigoríficos recorreram ao mercado doméstico e, com a oferta em alta, os preços internos caíram. "O caixa estava sendo drenado numa tal velocidade que tínhamos que tomar uma atitude", disse Bremer.

Apesar das margens apertadas neste início de ano, o executivo sinalizou com a possibilidade de o frigorífico retomar as suas atividades operacionais nos próximos meses.

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