13 de Fevereiro de 2009 - 13h:08

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Ministro defende um "afrouxamento fiscal"

Por: Valor Econômico - Sérgio Leo

Instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial terão de mudar seus métodos e relaxar suas exigências de controle fiscal para ajudar países em desenvolvimento a superar a crise mundial, defendeu ontem o emissário do governo britânico para preparar a reunião das economias mais influentes do mundo, o chamado G-20 financeiro - que se realizará em abril, em Londres. 

A reunião do G-20 deve, em seu comunicado final, conclamar o a essas instituições para mudarem suas metodologias de empréstimo, e pode criar condições para retomada das negociações de liberalização do comércio na organização Mundial do Comércio (OMC) ainda em julho, comentou, otimista, lorde Mark Malloch-Brown. ministro para a África, Ásia e Nações Unidas do ministério britânico das Relações Exteriores, em café da manhã com analistas de política internacional, ontem, em Brasília. 

Para Malloch-Brown, a retomada da chamada rodada Doha da OMC não será possível no primeiro semestre, devido a questões políticas em dois dos principais negociadores, os Estados Unidos, com um governo recém-eleito, e a Índia, que terá eleições em maio. Mas há interesse dos países e, com esforço, seria possível a volta dos negociadores à discussão a partir do segundo semestre, acredita ele, que espera também instruções concretas para a retomada das negociações. É preciso ir além das declarações, como o compromisso contra medidas protecionistas adotado na última reunião do G-20, disse ele. 

O ministro britânico foi enfático ao defender, para os especialistas, a necessidade de incluir grandes potências emergentes, como China e Brasil, no esforço de solução da crise. Em relação à China, Malloch-Brown desdenhou das propostas habituais de pressão para que o país desvalorize sua moeda, e defendeu que os chineses sejam estimulados a fortalecer seu mercado interno, como forma de reduzir os desequilíbrios provocados pelos enormes superávits da China no comércio e nas transações financeiras com o resto do mundo. 

Um dos maiores desafios dos integrantes do G-20, entre eles o Brasil, está na tendência de todos os governos de buscar soluções locais para uma crise que é global, analisou Malloch-Brown, que, ontem, esteve com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e das Relações Exteriores, Celso Amorim. O governo britânico espera que, na reunião, os governos concordem com regras comuns para enfrentar problemas como a falta de crédito, as dificuldades dos bancos e as perdas de empregos, que sirvam de referência a todos, sem provocar novos desequilíbrios, como os criados pelo protecionismo. 

Os bancos multilaterais, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano d e desenvolvimento, terão um papel fundamental em assegurar a volta da liquidez e do crédito, e terão de ser pressionados para garantir recursos aos países que necessitam. Malloch-Brown notou que, em seus contatos com governos asiáticos e africanos, estes, com razão, acusam os países ricos de descumprirem todas as regras que instituições como o FMI exigiram das nações da Ásia afetadas pela crise financeira da década de 70, como maior ajuste no orçamento e políticas monetárias apertadas. 

O relato do emissário britânico foi recebido com ceticismo pelos acadêmicos com quem conversou em Brasília. "Sem liderança nem consenso de participação não há como ter a ação cooperativa que esperam", prevê o professor da Universidade de Brasília, Carlos Pio. Ele duvida que o governo dos Estados Unidos, seja capaz de assumir os compromissos de ajuste em seus padrões de consumo e de renda necessários para superar a crise sem uma escalada protecionista. Ele tem dúvidas se os apelos para mudanças no FMI e Banco Mundial e traduzirão em votos favoráveis de sua diretoria e diz que as propostas põem expectativas exageradas na cooperação da China, que tem sua própria agenda. 

"O que mais preocupa é a dificuldade na condução das propostas", comenta o também professor da Universidade de Brasília Alcides Vaz, para quem as sugestões de enfrentar a crise ainda se prendem à ideia de restabelecer o crédito e a questão da queda no emprego fica subordinada a soluções nacionais voltadas aos respectivos mercados internos. 

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