30 de Janeiro de 2009 - 13h:21

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Margem da soja se recupera e já beneficia os agricultores

Por: Valor Econômico - Patrick Cruz

A colheita da soja, principal produto da pauta de exportações do agronegócio brasileiro, está apenas no início nesta temporada 2008/09, mas o mercado da oleaginosa, ao menos neste momento, mostra sinais de que a situação para os produtores não está tão catastrófica quanto se previa na ocasião do plantio. Margens, prêmios e demanda estão em patamares bem mais favoráveis do que o que se desenhava em julho, início do ano-safra, ou em setembro, quando a crise global ganhou tons mais sombrios. 

O caso das margens é, possivelmente, o mais emblemático. Há apenas um mês, a margem média projetada para a soja em Sorriso (MT) era de 4% para vendas até fevereiro, número que foi a 22% em 23 de janeiro, segundo a Agência Rural. Em um intervalo de 30 dias, o produtor, que esperava obter uma receita líquida média de R$ 64 por hectare, já vê terreno para uma renda de R$ 350 por hectare. 

A melhora das margens não é exclusividade mato-grossense. Para a soja de Rio Verde (GO), a expectativa em dezembro era de margem de 18%, na média, para comercialização até fevereiro, número que passou a 52% neste mês. Cascavel, no oeste paranaense, manteve a expectativa de margem de 49%, mesmo com a seca. Para esse pólo, a produtividade da soja deve cair de 50 para 40 sacas por hectare em virtude da estiagem. 

A corpulenta melhora das margens está diretamente ligada à nova temporada de recuperação dos preços da soja. Na bolsa de Chicago, referência internacional para a formação de preços da commodity, os contratos de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) subiram 24,20% entre 5 de dezembro e esta quinta-feira. A sessão de 5 de dezembro marcou o piso de preços do grão em Chicago depois que, em julho, ele alcançou sua maior cotação na história. Nesta quinta, os papéis que vencem em maio caíram 12,25 centavos de dólar, para US$ 9,7775 por bushel. 

A alta do câmbio também personifica o novo momento do mercado de soja. Entre setembro e esta quinta-feira, o dólar (segundo a média diária Ptax) subiu 18,90%. "Tão importante quanto a alta do dólar é sua estabilidade. Se ele ficar entre R$ 2,20 e R$ 2,40 está ótimo", diz o executivo de uma grande esmagadora de grãos ouvido pelo Valor. Se em outubro e novembro a taxa Ptax subiu mais de 10%, ela avançou apenas 0,17% em dezembro e, em janeiro, recua 2,61%. 

Ao contrário do ocorrido em janeiro de 2008, os prêmios para exportação estão positivos neste mês. Para entrega em março, o prêmio ficou entre 40 e 50 centavos acima do preço em Chicago na última quarta-feira, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Eles também já estão positivos para as entregas entre abril e maio, auge do escoamento da produção, quando normalmente os prêmios são negativos. 

Existe a ressalva de que nem todos os produtores conseguirão fazer negócios com esse pano de fundo. Mesmo os que conseguirem não o farão com toda a soja a ser colhida. Há também a insegurança com a duração da recente onda de alta dos preços, sustentada pelos problemas climáticos, especialmente na Argentina, e pela ainda aquecida demanda chinesa. 

"Os chineses estão claramente repondo estoques, e ninguém sabe até quando isso vai durar", diz Daniele Siqueira, analista da Agência Rural. Sinal de que a demanda está dependente das compras chinesas é que o esmagamento de soja foi de 4,24 milhões de toneladas em dezembro nos Estados Unidos, volume 14% menor que o do mesmo mês de 2007, segundo informou nesta quinta-feira o U.S. Census Bureau. 

Outro porém é que a comercialização permanece lenta. "As vendas chegaram a 38% [da produção prevista] até janeiro, mas deveriam estar em 70%", diz Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja). "O endividamento continua alto e o financiamento da safra 2009/10 deverá ser ainda mais difícil em virtude do aperto do crédito". Há preocupações, mas também há uma mudança de cenário a ser registrada. "A previsão era de prejuízo, e agora há a expectativa de que o produtor ao menos não feche a safra com prejuízo", diz. (Colaborou Fernando Lopes) 

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