09 de Janeiro de 2009 - 13h:57

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Mercado já resiste aos números ruins

Por: Valo Econômico - Daniele Camba

Petróleo em queda, número de desempregados em níveis históricos nos EUA, desempenho ruim das redes americanas de varejo em dezembro, redução nas estimativas de lucros no quarto trimestre de 2008 da gigante varejista Wal-Mart e a taxa de juros da Inglaterra no menor nível desde que o Banco Central daquele país foi criado, há mais de 300 anos. Em outros momentos da atual crise financeira internacional, a junção de todos esses acontecimentos negativos seriam mais do que suficientes para desencadear quedas significativas nos mercados de todo o mundo. O que ocorreu ontem foi bem diferente. As bolsas seguraram bem as pontas, algumas caindo pouco, outras até subindo e subindo bem. É o caso da brasileira, em que o Índice Bovespa subiu 2,87%, aos 41.990 pontos. 

Qual é a explicação para que a crise e a desaceleração econômica mundial não estejam mais batendo tão fundo nos mercados? Os analistas têm algumas respostas. Uma delas é que, depois de um período de uma situação econômica tão ruim, os indicadores que saem, por mais negativos que sejam, já não surpreendem mais, pois as expectativas já foram todas revistas para baixo. "Existem alguns dados que até vêm abaixo das projeções, mas dificilmente é uma diferença de cair o queixo, já que todo mundo sabe a gravidade da situação", diz o sócio de uma administradora de recursos independente. 

O fato de ser o início de um novo ano também contribui para que os mercados estejam mais resistentes a cair, lembra esse gestor. Com a piora do mercado nos últimos meses de 2008, os gestores preferiram manter os fundos que administram em ativos os mais conservadores possíveis, como os títulos do Tesouro americano, para não comprometer os seus bônus e nem os seus empregos. "Passado 2008, agora esses profissionais zeram o velocímetro e começam, aos poucos, a colocar o pé no mercado, tirando os recursos da renda fixa para colocá-los em ativos de maior risco/retorno", diz o gestor. 

Dentro dessa escolha de onde voltar a investir, o Brasil, por conta de seus bons fundamentos macroeconômicos, tende a levar a melhor entre outros países emergentes, como Índia e Rússia. O fluxo de estrangeiros na Bovespa comprova essa preferência. Só nos dois primeiros pregões do ano (dias 2 e 5), o saldo líquido (diferença entre compra e vendas) de investidor estrangeiro na bolsa está positivo em R$ 750,5 milhões. Pelos cálculos de profissionais que acompanham de perto essa movimentação, a cifra já ultrapassa a casa do R$ 1 bilhão se for incluído o pregão do dia 6.

"Apesar de o aumento da participação da pessoa física, ainda são os estrangeiros que definem o rumo do mercado", diz o sócio da Um Investimentos José Roberto Giancoli. "Nesse momento em que eles estão voltando, acredito que seja muito mais arriscado estar vendido (vender sem ter o papel) do que comprar ações, apostando na alta", afirma. Depois de subir 16% durante seis pregões seguidos (entre 26 de dezembro e 6 deste mês), o Ibovespa caiu 3,5% na quarta-feira e ontem retomou a alta. "Mesmo com gordura, a queda foi pequena, o que é um bom sinal", completa o sócio. 


Daniele Camba é repórter de Investimentos 

E-mail: daniele.camba@valor.com.br 

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