29 de Dezembro de 2008 - 12h:15

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M&E cria indicador que vai medir a sustentabilidade

Por: Valor Econômico - Daniele Camba

A grande reclamação de analistas e investidores com relação à sustentabilidade é que não existe uma forma objetiva de se mensurar o retorno que tais práticas podem trazer para as empresas. Percebendo essa lacuna, a consultoria espanhola Management & Excellence (M&E), especializada no assunto, está criando o "Return On Sustainability" (ROS), que será o primeiro índice no mundo que vai medir os ganhos das companhias com iniciativas socialmente responsáveis.

As metodologias de cálculo do ROS estão sendo elaboradas e o índice deve ser lançado oficialmente no Brasil em meados de março, segundo a diretora da M&E no Brasil, Angélica Blanco. O indicador já foi usado em fase experimental numa companhia européia e agora a consultoria está fazendo o mesmo numa empresa brasileira, que a diretora não quis revelar o nome. 

Assim como outros índices, como o Return On Assets (ROA, que mede o retorno do capital) e o Return On Equities (ROE, que mede o retorno sobre o patrimônio), o ROS será expresso em percentual e será o resultado da soma dos ROS de cada um dos projetos da companhia nas áreas social, ambiental e de governança corporativa. "É importante ter o indicador de cada projeto para que a própria companhia saiba quais as iniciativas estão ou não dando o retorno que se esperava", diz Angélica. 

O índice será o resultado da diferença entre os investimentos e os custos de cada projeto e os retornos obtidos. Todos esses números devem ser fornecidos pelas próprias companhias. É aí que começam os problemas. Muitas empresas não possuem um levantamento organizado desses dados, primeiro por falta de hábito e também porque não há uma regulamentação que exija a divulgação desse tipo de iniciativa. "Diferentemente dos números financeiros, não há uma regra para a divulgação das práticas sustentáveis, o que dificulta a padronização das informações", diz Angélica. 

Uma outra dificuldade é que parte do retorno das iniciativas socialmente responsáveis é intangível, como a melhora de imagem ou na reputação da sua marca perante os consumidores. 

A diretora da consultoria ilustra como será feito o cálculo. Num projeto com funcionários para reduzir acidentes de trabalho, calculam-se os custos de implementação, como os gastos com novos sistemas e processos, e os retornos, como a queda no número de acidentes e no absenteísmo, além da redução de multas e indenizações em processos trabalhistas. 

Exatamente pela ausência de informações organizadas e objetivas sobre os custos e os retornos, inicialmente, a M&E fará o cálculo do ROS apenas das companhias em que a consultoria já faz o "rating" de sustentabilidade, que é um dos serviços que presta no Brasil e na Europa. "Nesse trabalho de classificação, analisamos entre 300 e 400 critérios, portanto, muito provavelmente teremos os dados necessários para calcular o ROS da companhia", diz a diretora. 

Para o diretor da consultoria na Espanha William Cox, a criação do índice deve ser o pontapé inicial para analistas e investidores começarem a considerar a sustentabilidade na escolha das melhores ações. "Até hoje, os analistas olham essas práticas, mas elas praticamente não entram nos cálculos de preço-alvo das ações simplesmente porque não há como mensurá-las", diz Cox. Ele acredita que o índice também irá permitir a comparação de desempenho entre as empresas, algo que não era possível até então 

"Assim como o P/L (preço/lucro, que dá uma idéia do tempo para o investidor ter retorno), as pessoas poderão comparar o ROS das empresas antes de decidir quais ações irão comprar", diz o diretor da consultoria, que esteve no Brasil para fazer uma palestra para estudantes de economia sobre as lições de sustentabilidade com a quebra do banco americano Lehman Brothers. 

Segundo ele, apesar da dificuldade de se detectar os graves problemas financeiros do banco americano, uma análise mais detalhada sobre a sustentabilidade apontaria falhas importantes da instituição. "O fundo de pensão dos funcionários, por exemplo, estava em nome do banco, e boa parte do patrimônio aplicado em ações do próprio Lehman Brothers", diz Cox. "Isso já era suficiente para mostrar que algo estava errado." Ele afirma que os bancos brasileiros estão entre os que possuem as melhores práticas. 

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