Os números de novembro do Banco Central mostram para quem quiser ver os sinais de ampliação no aperto do crédito no Brasil. Se forem observadas as novas concessões, a queda é de 8,5% no mês, levando a variação anual dos 6,5% positivos em outubro para 1,6% negativos em novembro. O tombo foi maior no crédito às pessoas jurídicas, com novas concessões 9,2% menores em novembro, enquanto os consumidores receberam 7% de crédito a menos no mês passado. Com isso, o estoque de crédito, incluindo o leasing, passou a crescer menos, 34% em termos nominais no ano até novembro na comparação com o ano passado. Até outubro, o estoque havia crescido 36,4%. Enquanto isso, o spread cobrado pelos bancos teve aumento de nada menos do que 800 pontos básicos no acumulado em 2008. Só em novembro, a puxada foi de 190 pontos. Os prazos médios do crédito se reduziram em novembro, 8 dias para a pessoa física e 5 dias para a jurídica. No financiamento imobiliário para pessoas jurídicas, a redução de prazo médio foi de 143 dias no mês e de 215 dias no acumulado em 12 meses. O capital de giro teve redução de 24 dias de prazo neste ano, segundo os dados do BC.
A crise externa já vinha provocando aumento no custo de captação dos bancos no Brasil desde o início deste ano. Mas foi a partir do dia 15 de setembro, com a quebra da Lehman Brothers, que o crédito em dólar secou mesmo para países emergentes e o fluxo de recursos ao Brasil se reverteu, com saídas líquidas. Os bancos brasileiros colocaram o pé no freio e as concessões de novos créditos tiveram sua primeira retração em outubro. Desde então, o BC liberou R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios para estimular as instituições financeiras a emprestar, dos quais um total de R$ 32,3 bilhões em novembro. O custo de captação dos bancos caiu: de 106% dos Depósitos Interfinanceiros em outubro para 104% em novembro. Mas em meio a um aperto de liquidez internacional crescente e perspectivas de atividade econômica mais fraca no Brasil e no mundo em 2009, com conseqüente aumento provável da inadimplência, as instituições financeiras têm decidido manter mais recursos em caixa e emprestar menos.
Os números do final de ano têm contribuído na percepção de que a recessão nos países ricos é maior do que o esperado. Os dados do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos no terceiro trimestre mostram o tamanho da contração: 0,5%, a maior queda desde a recessão de 2001. O declínio nos gastos com consumo real pessoal foi o destaque: 3,8%. Isso apesar do crescimento de 3% real nas exportações e de aumento de 5,8% nos gastos do governo. Os dados das vendas de novas moradias para famílias nos Estados Unidos não foram nada alentadores: a queda foi de 35%, para os menores níveis desde 1991. O pior é que aparentemente a situação não chegou ainda ao piso: os estoques continuam em níveis recorde de alta. Não foi à toa que os preços do petróleo despencaram para baixo dos níveis de US$ 38 o barril para entrega em fevereiro - a queda no consumo do maior mercado do mundo reduz a demanda pelo óleo.
Também no Brasil a inflação vem desacelerando por causa da atividade econômica mais fraca. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) aumentou 0,61% na terceira medição de dezembro, taxa 0,12 ponto percentual menor do que a verificada na apuração anterior, de 0,73%, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou.
Sem trégua no fluxo cambial
Os números da semana do dia 15 a 19 de dezembro mostram que continuou forte a saída de recursos do país. Somente no dia 16 deixaram o Brasil US$ 2,176 bilhões, dos quais US$ 2,147 bilhões no segmento financeiro. Isso mostra que não apenas a especulação e as notícias consideradas ruins pelos investidores têm pressionado a cotação do dólar, mas também um fluxo líquido de fuga de capitais. No acumulado do mês até o dia 19, as saídas totais são de US$ 4,098 bilhões, menores do que os US$ 7,15 bilhões de novembro. Mesmo em dias fracos em movimento no mercado como os dias 23 e 24 de dezembro, o Banco Central teve de vender dólar de forma a não permitir que oportunistas se aproveitassem do baixo volume de negócios para puxar as cotações para níveis desejados. No dia 23, o mercado calcula que tenham sido vendidos US$ 439 milhões. No dia 24, o dólar terminou a R$ 2,378.
Cristiane Perini Lucchesi é repórter de Finanças.