27 de Dezembro de 2008 - 15h:02

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Natal de aperto no crédito no Brasil

Por: Valor Econômico - Cristiane Perini Lucchesi

Os números de novembro do Banco Central mostram para quem quiser ver os sinais de ampliação no aperto do crédito no Brasil. Se forem observadas as novas concessões, a queda é de 8,5% no mês, levando a variação anual dos 6,5% positivos em outubro para 1,6% negativos em novembro. O tombo foi maior no crédito às pessoas jurídicas, com novas concessões 9,2% menores em novembro, enquanto os consumidores receberam 7% de crédito a menos no mês passado. Com isso, o estoque de crédito, incluindo o leasing, passou a crescer menos, 34% em termos nominais no ano até novembro na comparação com o ano passado. Até outubro, o estoque havia crescido 36,4%. Enquanto isso, o spread cobrado pelos bancos teve aumento de nada menos do que 800 pontos básicos no acumulado em 2008. Só em novembro, a puxada foi de 190 pontos. Os prazos médios do crédito se reduziram em novembro, 8 dias para a pessoa física e 5 dias para a jurídica. No financiamento imobiliário para pessoas jurídicas, a redução de prazo médio foi de 143 dias no mês e de 215 dias no acumulado em 12 meses. O capital de giro teve redução de 24 dias de prazo neste ano, segundo os dados do BC. 

A crise externa já vinha provocando aumento no custo de captação dos bancos no Brasil desde o início deste ano. Mas foi a partir do dia 15 de setembro, com a quebra da Lehman Brothers, que o crédito em dólar secou mesmo para países emergentes e o fluxo de recursos ao Brasil se reverteu, com saídas líquidas. Os bancos brasileiros colocaram o pé no freio e as concessões de novos créditos tiveram sua primeira retração em outubro. Desde então, o BC liberou R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios para estimular as instituições financeiras a emprestar, dos quais um total de R$ 32,3 bilhões em novembro. O custo de captação dos bancos caiu: de 106% dos Depósitos Interfinanceiros em outubro para 104% em novembro. Mas em meio a um aperto de liquidez internacional crescente e perspectivas de atividade econômica mais fraca no Brasil e no mundo em 2009, com conseqüente aumento provável da inadimplência, as instituições financeiras têm decidido manter mais recursos em caixa e emprestar menos. 

Os números do final de ano têm contribuído na percepção de que a recessão nos países ricos é maior do que o esperado. Os dados do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos no terceiro trimestre mostram o tamanho da contração: 0,5%, a maior queda desde a recessão de 2001. O declínio nos gastos com consumo real pessoal foi o destaque: 3,8%. Isso apesar do crescimento de 3% real nas exportações e de aumento de 5,8% nos gastos do governo. Os dados das vendas de novas moradias para famílias nos Estados Unidos não foram nada alentadores: a queda foi de 35%, para os menores níveis desde 1991. O pior é que aparentemente a situação não chegou ainda ao piso: os estoques continuam em níveis recorde de alta. Não foi à toa que os preços do petróleo despencaram para baixo dos níveis de US$ 38 o barril para entrega em fevereiro - a queda no consumo do maior mercado do mundo reduz a demanda pelo óleo.

Também no Brasil a inflação vem desacelerando por causa da atividade econômica mais fraca. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) aumentou 0,61% na terceira medição de dezembro, taxa 0,12 ponto percentual menor do que a verificada na apuração anterior, de 0,73%, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou. 

Sem trégua no fluxo cambial 

Os números da semana do dia 15 a 19 de dezembro mostram que continuou forte a saída de recursos do país. Somente no dia 16 deixaram o Brasil US$ 2,176 bilhões, dos quais US$ 2,147 bilhões no segmento financeiro. Isso mostra que não apenas a especulação e as notícias consideradas ruins pelos investidores têm pressionado a cotação do dólar, mas também um fluxo líquido de fuga de capitais. No acumulado do mês até o dia 19, as saídas totais são de US$ 4,098 bilhões, menores do que os US$ 7,15 bilhões de novembro. Mesmo em dias fracos em movimento no mercado como os dias 23 e 24 de dezembro, o Banco Central teve de vender dólar de forma a não permitir que oportunistas se aproveitassem do baixo volume de negócios para puxar as cotações para níveis desejados. No dia 23, o mercado calcula que tenham sido vendidos US$ 439 milhões. No dia 24, o dólar terminou a R$ 2,378. 


Cristiane Perini Lucchesi é repórter de Finanças.

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