27 de Dezembro de 2008 - 14h:58

Tamanho do texto A - A+

Um ano ruim, mas sem ofuscar os bons

Por: Valor Econômico - Daniele Camba

Este sem dúvida é um ano para ser esquecido, pelo menos para grande parte dos investidores em ações. Não houve um mercado na face da Terra que conseguiu passar ao largo da crise financeira que assolou as economias. Mas algumas bolsas sofreram mais e a brasileira se inclui nesse grupo. No ano, até terça-feira, o Índice Bovespa acumula uma queda em dólar de 57,57%, um dos piores desempenhos entre os principais mercados. Em reais a desvalorização é de 42,91%. Para se ter idéia, o Índice Dow Jones, da bolsa americana, onde está o epicentro da crise, tem uma baixa de 36,53% e o Índice Standard & Poor's (S&P-500) de 41,22% . 

A grande liquidez do mercado brasileiro e a concentração de ações de commodities são dois motivos que levaram a Bovespa a ter um ano ruim. Como muitas ações brasileiras são bastante líquidas, elas são as primeiras que os investidores estrangeiros vendem quando precisam de dinheiro, algo recorrente nos últimos meses. Já as ações de commodities tiveram quedas significativas com o fim do ciclo de alta das matérias-primas e acertaram o Ibovespa em cheio já que representam cerca de 50% do índice.

"A liquidez e a concentração de commodities foram decisivas na alegria e na tristeza; assim como fizeram a bolsa cair em 2008, também foram as responsáveis por ela subir nos cinco anos anteriores", diz o sócio da Modal Asset Management Alexandre Póvoa. A queda da Bovespa este ano, apesar de significativa, se torna tímida quando comparada com a alta dos últimos anos. Entre 2003 e 2007, quando a bolsa subiu os cinco anos seguidos, o Ibovespa se valorizou em dólar 1.031% - saiu dos 3.189 pontos na moeda americana no início de 2003 para os 36.067 pontos no último pregão de 2007. "Dificilmente alguma outra bolsa teve uma alta igual ou superior a essa, não há o que reclamar do mercado brasileiro", diz Póvoa. 

Os ganhos ainda são importantes, mesmo considerando a queda da bolsa este ano. De janeiro de 2003 até terça-feira, o Ibovespa acumula uma valorização em dólar de 380%, um percentual nada desprezível. De qualquer forma, vale destacar o tombo que o índice teve este ano: dos 36 mil pontos em dólar de 2007 para 15.305 pontos na terça-feira.

No momento em que as economias começarem a se recuperar, a bolsa brasileira tem grandes chances de ser uma das que mais devem se recuperar, acredita Póvoa. Primeiro porque os fundamentos econômicos locais continuam consistentes. Além disso, há um enorme potencial de ingresso de recursos das pessoas físicas. "Diferentemente dos países desenvolvidos, a maioria dos brasileiros ainda está fora da bolsa." Por mais difícil que seja prever a recuperação dos mercados, é possível afirmar com alguma segurança de que o primeiro trimestre de 2009 será ainda mais complicado do que os últimos meses deste ano. "O cenário ainda deve piorar mais antes de melhorar", completa Póvoa. 


Daniele Camba é repórter de Investimentos 
E-mail:
daniele.camba@valor.com.br 

VOLTAR IMPRIMIR