11 de Dezembro de 2008 - 13h:46

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Fundos ficarão mais seletivos com a crise

Por: Valor Econômico - Ana Paula Ragazzi

A captação dos fundos de participações não deve repetir a performance dos últimos quatro anos, quando cresceu, em média, de 50% ao ano. Por causa da crise, o setor receberá menos recursos e será mais seletivo. "Mas ainda assim o crescimento será de dois dígitos em 2009", disse Luiz Eugenio Figueiredo, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), que realizou evento ontem em São Paulo para discutir oportunidades no ramo imobiliário. 

No Brasil, a indústria tem US$ 26, 65 bilhões em capital comprometido, sendo que US$ 11 bilhões estão disponíveis nos fundos para serem investidos. Em tempos de ofertas de ações paralisadas e crédito muito caro nos bancos, esses fundos devem substituir os bancos de investimentos nos próximos anos. 

Especificamente para o setor imobiliário, Figueiredo acredita que o Brasil possui necessidades elevadas de financiamento, não só por conta do déficit habitacional, mas pela verificação de que ainda há demanda por prédios comerciais, por conta dos aluguéis ainda estarem em alta. 

"Antes da crise, várias companhias eram administradas em velocidade de cruzeiro, com os comandantes querendo seguir sozinhos. Agora o quadro mudou e muitas podem optar por associações", diz. Para Figueiredo, os fundos de participações podem ajudar na consolidação. 

Eduardo Ferreira Machado, diretor do fundo Carlyle, avaliou o momento como desafiador e cheio de oportunidades, diante da queda dos preços, mas se mostra pouco otimista para 2009. 

"O segmento de construção é muito sensível a expectativas. Imagino que a crise, para o Brasil, tende a se agravar ano que vem e atingir o emprego. Sem trabalho, as expectativas mudam e afetam diretamente o segmento", disse. 

O Carlyle tem US$ 40 bilhões para investir pelo mundo, sendo US$ 1 bilhão para Brasil e México - que serão divididos entre compras de controle de empresas e o ramo imobiliário. "Vamos investir sem pressa e com muita disciplina. O desafio é escolher as opções corretas", disse. 

Fernando Magesty Silveira, gerente nacional da gestão da carteira habitacional da Caixa Econômica Federal (CEF), afirmou que nunca foi tão procurado por investidores estrangeiros como nos últimos meses. Segundo Silveira, eles compraram ações de construção e agora querem saber se elas terão algum tipo de problema de financiamento. 

O executivo tem procurado tranqüilizar os investidores. Afirma que a Caixa tem, para 2009, R$ 25 bilhões para destinar ao setor imobiliário. E este ano, até agora, desembolsou R$ 22 bilhões. 

"Ano que vem, diante da diminuição de demanda, tanto por parte de construtoras quanto dos clientes em razão da crise, nem deveremos usar toda a quantidade de recursos disponíveis", disse. Ele lembrou também que a Caixa pode usar até R$ 3 bilhões para assumir riscos maiores na concessão de crédito e financiar, por exemplo, capital de giro. 

"A intenção é, por exemplo, evitar paralisação de obras que afete a confiança do consumidor. Se houver problema com inadimplência, teremos recursos para reforçar o capital de giro." Ainda conforme o executivo, já há R$ 3 bilhões em propostas para obter esse crédito por parte de incorporadoras. Mas ele avalia que nem todas necessitam, de fato, de dinheiro no curto prazo. 

Silveira também não espera problemas de inadimplência. "É grande o comprometimento com a prestação da casa própria." 

Figueiredo, da ABVCAP, diz ainda que os negócios dos fundos estão paralisados neste semestre porque os empresários só agora começam a aceitar que os preços elevados de 2007 não mais voltarão. Ele também espera que algumas empresas abertas tenham seus controles adquiridos por fundos de participações e sejam até mesmo deslistadas. 

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