10 de Dezembro de 2008 - 15h:08

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Em meio à turbulência, cuidado com os palpiteiros

Por: Valor Econômico - Eduardo Winston

Caros leitores, como planejador financeiro tenho recebido um número muito grande de consultas de pessoas querendo saber como se comportar perante a atual crise financeira. A maioria das pessoas que me procura colocou grande parte de suas economias na bolsa de valores durante o último ciclo de alta. 

Além de estar na origem da atual crise financeira, este atípico ciclo gerou uma série de distorções. Uma delas, bem sutil, foi no comportamento dos investidores. A alta prolongada e praticamente sem solavancos gerou extraordinários retornos para todos aqueles que aceitaram tomar algum risco. Em verdade, durante um bom tempo, quanto maior o risco tomado pelo investidor, maior foi o retorno obtido. Com isso, criou-se a sensação de que a bolsa de valores seria um lugar para ganhar dinheiro fácil. Não foram poucas as pessoas que se sentiram ao menos tentadas a largar tudo e investir na carreira de investidor profissional. 

Então, veio a crise e muitos destes novos investidores profissionais assistiram atônitos à dramática perda de valor de seus ativos. Na verdade, para muitos neófitos da bolsa, esta crise foi o primeiro teste de fogo e, infelizmente, a maioria falhou no teste. Um dos motivos é que, quando o assunto são os investimentos pessoais, nem sempre as pessoas se comportam de forma racional e existem alguns mitos no mercado que pioram esta situação. 

O primeiro comportamento se caracteriza por uma verdadeira paralisia em momentos de queda. Alguns investidores decidem simplesmente esperar a recuperação do valor de seus ativos sem que haja qualquer fundamento que indique esta recuperação. É como se o mercado estivesse devendo este dinheiro a eles. Estes investidores não aceitam a perda e mantêm posições que, no fundo, nem eles acreditam. 

Por traz deste comportamento, há uma espécie de mito que ronda os mercados financeiros. Existe uma frase famosa que diz que para ganhar dinheiro em bolsa de valores o investidor deve comprar na baixa e vender na alta. A frase é verdadeira, mas baixa e alta devem ser comparações com a cotação da ação no futuro e não no passado. Só falta mesmo, esclarecer como saber a cotação de qualquer ativo no futuro. 

Outra grande confusão que percebo em alguns investidores refere-se ao prazo do investimento. Muitos resistem em rever suas posições e defendem-se dizendo que são investimentos de longo prazo. Esta questão de longo prazo merece ser bem esclarecida, pois tem causado bastante confusão. Pense o seguinte: o longo prazo nada mais é do que uma sucessão de curtos prazos. Faz sentido? 

Digamos que ano após ano, uma carteira de investimentos apresente resultados ruins. Ao final de dez anos, o resultado da carteira seria simplesmente péssimo. 

Antes que me crucifiquem, vou explicar. É verdade que o horizonte de investimento em ações deve ser mais longo. Isto se deve ao fato de que este tipo de ativo, em geral, apresenta alta volatilidade e os movimentos de curto prazo não necessariamente guardam relação com os fundamentos do papel. Assim, mesmo ações de empresas que apresentem fortes fundamentos e estejam em nítidas trajetórias ascendentes podem apresentar pequenas desvalorizações ocasionadas por eventos pontuais. Neste sentido, é recomendável que o investidor tenha a possibilidade de manter seus investimentos por um período mais longo de forma que este movimento pontual seja revertido e o papel volte a trajetória esperada. 

Isto, porém, não significa que o investidor deve ficar refém de seu investimento, ainda que veja uma forte deterioração de seu valor. Pelo contrário. Aconselho que o investidor esteja sempre acompanhando e reavaliando sua carteira, atento a eventuais mudanças de cenário. O investidor tem todo o direito de questionar seu gerente de banco ou mesmo a equipe de sua corretora de valores quanto ao desempenho e expectativa de sua carteira. Caso a resposta não seja convincente, sugiro que procure outra instituição que preste atendimento de melhor qualidade. 

Por fim, outro mito curioso é aquele que se refere à realização de perdas. Muita gente se defende dizendo que não perdeu nada, pois não realizou. Imagine a seguinte situação: você acaba de comprar um carro novo e sai com ele da concessionária sem seguro. Após alguns metros, sofre um acidente e o carro fica totalmente destruído. Sua alternativa é vendê-lo para o ferro velho por aproximadamente 1% do valor que pagou no carro. Alguém em sã consciência consideraria a alternativa de não vender os destroços para o ferro velho acreditando que, desta forma, estaria evitando o prejuízo? 

Novamente, o meu conselho, no que se refere às finanças pessoais é cuidado com os palpiteiros! 


Eduardo Winston é gestor independente, ministra treinamentos sobre planejamento financeiro e possui a certificação Certified Financial Planner (CFP) 

E-mail: eduardo@megasurgical.com.br 


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