04 de Dezembro de 2008 - 14h:18

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A importância dos índices de referência na gestão

Por: Valor Econômico - Javier Estrada

Os índices de valor têm papel importante na gestão ativa e passiva de carteiras. Esses indicadores são ponderados por valor corrente, lucros, receita, vendas, dividendos e emprego. Há também os índices de fundamentos, que são normalmente ponderados em função da capitalização da empresa na bolsa. Na grande maioria dos casos, os índices de referência são ponderados em função da capitalização.

Estudos recentes nos mercados americanos demonstraram que os índices ponderados por fundamentos - insensíveis aos preços como valor corrente, lucros, receita, vendas, dividendos e emprego - superaram em rentabilidade os ponderados por capitalização na bolsa entre 1992 e 2004. Este dado representa uma oportunidade, mas também coloca uma pergunta importante: como os investidores podem aplicar este método em uma carteira diversificada internacionalmente? 

Uma carteira baseada em um índice por fundamentos não é nem um índice nem um índice de referência, pois precisa reequilibrar-se periodicamente e não reflete a rentabilidade do investidor médio. 

Curiosamente, como é necessário o reequilíbrio, muitas vozes na comunidade de gestores de recursos afirmam que, apesar da grande disponibilidade existente para os investidores (como os fundos cotados na bolsa), os índices por fundamentos são na realidade produtos sob gestão ativa, que se fazem passar por índices. 

O problema é a confusão de papéis. Como explica Tom Coyne em "The Index Investor", estes produtos "não passam de uma estratégia de gestão de ativos quantitativa e de custo relativamente baixo, colocada inteligentemente em um resumo de índices para aumentar sua atratividade." 

Como estratégia de investimento, os índices por fundamentos têm vantagens e desvantagens. Do lado positivo, registram maior rentabilidade do que os índices por capitalização na bolsa, em parte por não estarem sujeitos à carga de dar um peso maior aos títulos supervalorizados. Somam esta vantagem ao fato de conservarem muitos dos aspectos atraentes dos fundos em índices tradicionais, como uma ampla participação nos mercados de valores, liquidez e a alta correlação com os rendimentos dos mercados de valores. 

Seus aspectos negativos têm origem na dúvida sobre se é acertado considerar essas carteiras como um produto indexado. Deixando de lado a semântica e os debates acadêmicos, trata-se de um problema muito real para os investidores, pois não se pode acreditar com facilidade que esses fundos sejam produtos indexados mais econômicos, quando, lá fora, exigem custos maiores em transações e impostos, além de ter um perfil de risco diferente do mostrado por produtos indexados. 

Embora possam ser uma opção de investimento atraente, é importante que os investidores possam tomar decisões bem informados e conhecendo todos os prós e contras. 

Para avaliar índices por fundamentos em termos de rentabilidade, foi examinada a evolução de três carteiras de valores globais entre 1973 e 2005: um índice por capitalização na bolsa (CWI); um ponderado por dividendos (DWI) reequilibrado mensalmente; e o índice de mercado mundial Datastream (WOR), como índice de referência. 

O fato de os índices por fundamentos com base nos dividendos terem dado bons resultados levantou a possibilidade do rendimentos de índices por fundamentos com base em outras ponderações serem ainda mais altos. 

Foram analisadas duas variações: uma carteira na qual todos os valores tinham o mesmo peso (EWI) e outra equilibrada a partir dos rendimentos por dividendo (DYWI). As duas variações superaram todos os índices anteriores, com 15,8% e 14,6%, respectivamente, incluindo o índice ponderado por dividendos, que teve ganhos anuais de 14,1%. 

A estratégia global por fundamentos estudada aqui - baseada em dividendos por ação, uma variável fundamental transparente, objetiva e insensível ao preço - superou em rentabilidade e em retorno ajustado ao risco, uma estratégia de ponderação por capitalização em bolsa. Mas esta estratégia, porém, é superada por outra mais simples e de custo menor, tanto em rentabilidade, por 1,7% ao ano, como em retorno ajustado ao risco. 

Se os investidores estão dispostos a abandonar as carteiras de valores ponderados por capitalização em bolsa podem existir outras possibilidades melhores do que a indexação por fundamentos. A estratégia considerada neste artigo, baseada nos rendimentos por dividendos, oferece não só uma rentabilidade superior, como pode ser seguida com facilidade com fundos indexados e fundos cotados em bolsa. 


Javier Estrada é professor de Gestão Financeira da IESE Business School 

E-mail: jestrada@iese.edu 

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