25 de Novembro de 2008 - 16h:15

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Caixa das petroleiras vai garantir investimentos

Por: Valor Econômico - Cláudia Schüffner

Em um momento de preocupações com o ritmo e a duração do atual patamar de preços do petróleo, que na semana passada foi comercializado abaixo de US$ 50 e com queda de 66% desde julho - os menores preços em três anos - as companhias de petróleo estão com muito dinheiro em caixa. 

Levantamento realizado pelo Valor Data e Bloomberg, com base no último balanço trimestral de vinte companhias de petróleo, mostra que, em setembro, a soma das empresas analisadas acumulava um caixa de US$ 107 bilhões. O montante não inclui a totalidade de companhias existente no mundo e considera apenas as abertas, que divulgam balanço. O valor é maior que o Produto Interno Bruto (PIB) de alguns países, como Paquistão (US$ 106,3 bilhões), Kuwait (US$ 103,4 bilhões), Bangladesh (US$ 70,6 bilhões), Islândia (US$ 19,52 bilhões) e Bolívia (US$ 12,8 bilhões), para citar alguns. 

Maior petroleira integrada do mundo, a ExxonMobil era a mais líquida, com US$ 36,6 bilhões em caixa, quase o dobro do caixa da francesa Total, que tinha US$ 18,6 bilhões. Entre as mais líquidas aparecem a Chevron, Shell, a inglesa BP e a norueguesa StatoilHydro . Logo atrás vem a brasileira Petrobras, que fechou o trimestre com US$ 5,6 bilhões em caixa. 

Para as menos endividadas, essa liquidez vai permitir uma posição confortável para enfrentar a crise global com possibilidade, inclusive, de adquirir petróleo e reservas de outras companhias por meio de fusões e até aquisições. Todo esse dinheiro permite imaginar que os investimentos planejados no curto prazo vão continuar, até porque o plano de negócios das empresas leva em conta a rentabilidade de projetos por prazos de 30 anos e ninguém toma como base preços correntes (estejam eles muito altos ou baixos) para decidir se vale à pena ou não produzir petróleo em uma ou outra região. 

Por outro lado, o caixa avantajado, em alguns casos, é fruto de investimentos menores nos últimos anos, como é o caso da Exxon. Agora, todas as empresas vão administrar seu caixa com cuidado, de olho nos próximos anos, o que pode levar até à paralisação de investimentos programados. 

"No momento é preciso projetar o preço nos próximos 12 meses e ver quanto vai entrar de dinheiro, especialmente em um momento em que não se pode recorrer ao crédito. Isso significa que esse caixa tem de sustentar os projetos em andamento. E supondo que, por exemplo, a queda de preços se estenda por dois anos, o caixa tem de segurar dois anos", explica um graduado executivo de uma grande empresa de petróleo com operações no Brasil. 

Com US$ 3,14 bilhões no caixa, o presidente da OGX , Rodolfo Landim, explica que a companhia já tem detalhados os planos para alocação dos recursos. Cerca de US$ 2 bilhões serão gastos no pagamento de levantamento sísmico e perfuração de poços. Outro US$ 1 bilhão vai garantir o desenvolvimento da produção de petróleo. 

Entre todas as listadas, talvez a Petrobras seja a que tem maiores investimentos programados. A empresa pretende investir no próximo ano no mínimo R$ 50 bilhões, mas esses valores não incluem, ainda, projetos para desenvolver a produção no pré-sal e nem as novas refinarias que ela pretende construir para exportar derivados. Com tantos projetos, é fácil imaginar que o atual caixa não será suficiente. 

É visão corrente que o novo patamar de preços pode inviabilizar investimentos para a produção de petróleo em áreas mais caras, como o pré-sal brasileiro, as areias betuminosas no Canadá e a faixa do Orinoco, na Venezuela. Isso traria consequências na oferta futura, já que sem produção nova e considerando uma queda natural de 5% a 6% da produção a cada ano, mais à frente o preço subirá quando o consumo voltar ao normal e as economias mais afetadas pela crise se recuperarem. De novo, a questão é saber quanto tempo um novo ciclo de altas vai demorar a acontecer. 

O economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), prevê que o novo ciclo de preços baixos não vai durar doze anos, como aconteceu depois do segundo choque do petróleo, em 1979, levando os preços a um patamar baixíssimo, entre 1986 e 1998. "Vamos ter um novo ciclo de preços baixos, não tenho dúvida, mas agora a oferta de petróleo é menor e por isso a situação não deve durar tanto tempo", pondera Pires. 

Landim aposta em um tempo mais curto, que não soube precisar. "Necessitaria consultar uma bola de cristal", afirma. "O que se fala é entre 18 e 24 meses. Mas ninguém sabe ao certo." 

O petróleo voltou a subir ontem. Na Nymex, o contrato para janeiro subiu US$ 4,57, para US$ 54,50 o barril. Em Londres, o contrato também para janeiro do Brent teve alta de US$ 4,74, para US$ 53,93.

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