17 de Novembro de 2008 - 17h:20

Tamanho do texto A - A+

Bancos reduzem juro para autos

Por: Valor Econômico - Fernando Travaglini

A oferta para financiamento de automóveis apresentou leve melhora nas últimas duas semanas. Puxadas por maciças ofertas dos bancos de montadoras e por uma pequena redução nas taxas de juros do bancos comerciais, as vendas se recuperam lentamente da dramática situação vista em outubro. No segmento de usados, no entanto, o compasso ainda é de espera, com queda dos empréstimos estimada em 40%. 

Nos primeiros dias de novembro, muitas concessionárias receberam tabelas novas com taxas de juros mais baixas. O patamar atingido no auge da crise, cujo preço médio para linhas de novos e seminovos pulou de 1,5% ao mês para quase 2,5% ao mês, recuou para um nível pouco superior a 2% ao mês (equivalente a 27% ao ano). Em alguns segmentos de mais alta renda, como de carros importados, a diminuição foi um pouco mais acentuada. 

De acordo com Félix Cardamone, diretor-executivo do Santander e responsável pela financeira do grupo, a Aymoré, confirma que o mês começou num cenário de juros "um pouco mais baixo", mas ainda em patamar mais alto do que vinha até setembro. 

"Tivemos um período de alta volatilidade. Todas as instituições elevaram o prêmio de risco para esterilizar essa oscilação. Havendo estabilidade maior na precificação do funding e dos juros futuros, o preço tende a se estabilizar, mas não nos patamares de setembro, pois os fundamentos estão em outro nível." (Há pelo menos dois meses, as financeiras do Banco Real e do Santander já utilizam a mesma estrutura operacional).

Adalberto Savioli, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) relata que os bancos começam a reduzir as exigências. "Se antes pediam 30% de entrada, agora pedem 20%. Os juros futuros também começam a recuar, depois da sinalização do Banco Central ao manter a Selic inalterada". 

Os juros futuros, que servem de base para a precificação do crédito bancário, apresentaram grande oscilação desde o agravamento da crise, em meados de setembro (ver gráfico), mas recuaram em novembro. Os contratos com vencimento em janeiro de 2010, por exemplo, os mais líquidos, pularam do patamar ao redor de 14,5% para mais de 16,75% nos últimos dias de outubro. Para janeiro de 2012, chegaram a bater 17,8%. 

Como os bancos precisam de alguns dias para fechar um contrato, e com a volatilidade dando o tom no mercado futuro, eles preferiram o conservadorismo, colocando os juros nas alturas. "Em outubro, as taxas mudavam todos os dias. Aprovávamos a ficha do cliente e tínhamos de mandar logo porque corríamos o risco de mudar a taxa. Antes, a mesma tabela era mantida por quase um mês e quando era alterada, era para baixo", relata Mauro Cogo, gerente da concessionária Viamar. 

Os prazos, no entanto, continuam encolhidos. Caíram dos 60 meses para cerca de 36 meses, em média. Também não há mais linhas sem entrada, conta Savioli. "Era muito comum financiar 100%, mas se perdia uma variável importantíssima na avaliação da operação. O que mais discrimina o crédito é a entrada". 

Além disso, com prazo menor, o cliente precisa ter mais renda para comprar o veículo. Essas novas condições, somadas à divulgação contínua da crise, já tem aumentado o conservadorismo da população, que começa a adiar as compras. Mas as revendas já perceberam uma melhora no humor do consumidor nas últimas semanas. 

Mariana Vieira, gerente do Grupo Eurobike, espera que as vendas voltem a crescer depois da queda dos dois últimos meses, já que cerca de 60% dos negócios são realizadas por meio de financiamento. "O susto já passou, e os bancos voltaram a reduzir os juros". 

Colaborou, também, especialmente nas expectativas dos agentes financeiros, os R$ 8 bilhões em linhas interbancárias para os bancos de montadoras oferecidos por Banco do Brasil e Nossa Caixa. "Os recursos ajudam a manter as taxas, mas não haverá queda imediata. Os custos totais estão maiores e o que foi liberado é pequeno perto da necessidade total", afirma Sérgio Diniz, diretor do Banco GMAC. 

Os bancos de montadoras estão com taxas melhores até do que tinham antes da crise para alguns carros, entre 1,3% e 1,4% ao mês, como forma de incentivar as vendas. Em promoções e nos chamados "Feirões de Fábrica", os juros estão abaixo de 1% ao mês. 

De acordo com o diretor do Banco GMAC, a instituição era responsável por 25% das vendas, mas agora a participação aumentou. "Tentamos ampliar a oferta para cobrir a fatia que mercado deixou", afirma Diniz. Em geral, o crédito é responsável por cerca de 70% das vendas no segmento de veículos leves para pessoas físicas. Desse total, quase dois terços ficam a cargo dos bancos de montadora. 

Antes da crise, os bancos de varejo chegava a oferecer taxas ainda melhores do que as montadoras, por conta da forte concorrência. Hoje, isso mudou. As instituições de montadoras são responsáveis por escoar as vendas de carros zero e buscam parcerias com os grandes bancos para financiar os seminovos, como é o caso da Aymoré com a GM, conta Cardamone. 

Apesar da melhora, ainda há um grande problema no segmento de carros usados. Entre outubro e novembro, estima-se que a queda nos financiamentos superou os 40%. Responsável por quase dois terços do mercado, os carros mais antigos são financiados por bancos de médio porte e financeiras, justamente os mais afetados pela crise de liquidez. Sem recursos, essas linhas ficaram praticamente inviáveis. A situação se agravou quando os bancos cortaram as linhas sem entrada, responsável pela maior parte das vendas nesse nicho, entre 60 e 70%. 

VOLTAR IMPRIMIR