06 de Novembro de 2008 - 15h:48

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Setor de seguros fica mais concentrado

Por: Valor Econômico - Altamiro Silva Junior

Os bancos estão tomando conta do setor de seguros. Apenas dois grupos, o Bradesco e o banco resultante da fusão do Itaú com o Unibanco, detêm 40% do mercado, que vai movimentar históricos R$ 100 bilhões este ano. Com o aumento da concentração, as cinco maiores seguradoras já respondem por 62% dos prêmios, incluindo o seguro saúde. Os 38% restantes estão distribuídos entre as mais de 40 empresas do setor. 

Apesar de aumentar a concentração em um mercado que já era concentrado, os especialistas acham que a fusão do Itaú com o Unibanco vai trazer mais benefícios do que prejuízos para o setor de de seguros, que vem atraindo novos competidores internacionais após a abertura do mercado de resseguros, em abril. "Nasce um grupo capaz de competir mundialmente", diz João Elísio Ferraz de Campos, presidente da Fenaseg (a federação das seguradoras). 

Helio Novaes, sócio da Quórum Corretora e ex-presidente da SulAmérica, avalia que a fusão vai criar uma seguradora com maior poder de negociação, inclusive no mercado de resseguros, graças a maior capacidade de retenção de riscos. Os dois bancos são fortes na área de grandes riscos. O Unibanco é o líder no segmento e foi por dois anos segurador da apólice da Petrobras, hoje com Itaú. 

O Grupo Bradesco de Seguros e Previdência permanece na liderança do setor. Excluindo o seguro saúde, área forte no Bradesco, a distância entre os dois concorrentes se reduz. Com isso, a conquista de uma grande apólice pode fazer o Itaú e Unibanco terminarem o ano em primeiro lugar, considerando apenas o ranking da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Levantamento da consultoria Siscorp Sistemas Corporativos, mostra o Bradesco com 21% do mercado e as duas instituições que se juntaram com 20%. 

Flávio Faggion, diretor presidente do Siscorp, avalia que o mercado vem passando por mudanças e, de um setor fechado, passou para um mercado com forte crescimento, que deve continuar atraindo investidores. "O mercado vem dando bons resultados. Novos negócios podem ocorrer." Um das últimas operações foi a compra da Minas Brasil pela Zurich. A compra recebeu anteontem sinal verde da Susep. 

Na avaliação de Luiz de Campos Salles, sócio da Lecs Estratégia Consultoria, e ex-diretor da seguradora do Itaú, os dois bancos juntos têm cacife para crescerem consideravelmente no mercado de seguros. "A fusão, na pior hipótese, vai gerar uma seguradora mais eficiente", diz ele. 

Com os bancos dominando o mercado, os executivos das seguradoras acreditam que dois movimentos tendem a se acelerar. A especialização das seguradoras em nichos não atendidos por bancos - que preferem produtos de vida, previdência e capitalização - e o reforço de seguradoras com atuação regional. "Bancos não querem consertar carros", afirma Campos Salles, dizendo que eles preferem os chamados produtos de acumulação, como o VGBL, onde podem administrar os recursos aplicados. 

Análise do consultor Luiz Roberto Castiglione mostra que o Itaú vem tendo melhor desempenho no setor de seguros este ano que o Unibanco. Considerando apenas o mercado de seguros (sem o VGBL), o Itaú teve crescimento de 13,1% até setembro, enquanto o Unibanco avançou só 1,2%. Mas a seguradora do Unibanco foi destaque no VGBL, com expansão de 71% nas vendas (enquanto o Itaú ficou com 22%). A seguradora que surgir da fusão terá uma sinistralidade de 42,4%, menor que a do mercado, de 52,7%. "Nasce um gigante", diz Castiglione. 

Das cinco maiores do mercado, apenas a Porto Seguro é totalmente independente. A SulAmérica tem associação com o grupo financeiro holandês ING e participação nas seguradoras do Banco do Brasil, o quinto colocado no ranking. Os especialistas acreditam que as outras seguradoras independentes, de menor porte e que atuam em vários ramos, vão passar por um processo de consolidação, como ocorreu com a Minas Brasil e a Indiana, vendida para o grupo americano Liberty. 

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