05 de Novembro de 2008 - 11h:49

Tamanho do texto A - A+

Banco de fomento ganha importância contra crise

Por: Valor Online - Francisco Góes e Rafael Rosas

Os bancos de desenvolvimento estão ganhando destaque pela capacidade que têm de desempenhar um papel anticíclico em crises financeiras como a atual. O protagonismo contrasta com a situação de dois anos atrás quando havia excesso de liquidez e predominava o ceticismo sobre a importância das entidades que emprestam dinheiro a longo prazo. "Nem tanto nem tão pouco", disse Francisco de Paula Coelho, diretor para a América Latina e Ásia do Banco Europeu de Investimento (BEI).

Na visão de Coelho, os bancos de desenvolvimento vão desempenhar seu papel na crise colocando à disposição do mercado todos os recursos que puderem angariar. "Nessa conjuntura, os bancos de desenvolvimento não podem ser a panacéia para resolver por si todos problemas", avaliou Coelho. A crítica anterior também era exagerada, de acordo com o executivo. "Algo como se as pessoas se queixassem que os bombeiros não servem para nada quando não há incêndios", comparou. 

Coelho foi um dos palestrantes, ontem, do IV Encontro de Entidades de Crédito Especializadas em Médio e Longo Prazos da América Latina e Europa. O evento, promovido pela Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras para o Desenvolvimento (Alide), começou ontem e termina hoje na sede do BNDES, no Rio. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que participou da abertura do seminário, disse esperar que os bancos privados retomem em breve o fluxo de crédito para o setor produtivo de forma a desafogar a instituição de fomento. 

"A gente espera que o setor privado possa reagir mais rapidamente e que nos dispense de ter que fazer esse esforço", disse Coutinho. De acordo com ele, o sistema bancário brasileiro não deveria contrair os créditos nos mesmos moldes do registrado nos países desenvolvidos, uma vez que, segundo ele, os bancos brasileiros não têm os mesmos níveis de alavancagem das instituições internacionais. 

"Então elas (as instituições) podem e devem voltar a emprestar, fazer com que o crédito flua normalmente", afirmou. Coutinho ressaltou que, em função dessa contração do crédito privado, o BNDES registrou em outubro um "desembolso firme" para compensar a retração do crédito privado. Para Coutinho, o BNDES deverá fechar o ano com desembolsos superiores a R$ 85 bilhões. "O momento não era esperado e está nos cobrando uma maior atividade e possivelmente nós passaremos os R$ 85 bilhões", projetou. 

Coelho, do BEI, disse que houve um pedido de suplementação no montante de 30 bilhões de euros aos Estados membros da União Européia para reforçar a atuação da instituição de fomento no período 2008-2011. Desse total, 15 bilhões de euros estão previstos para serem utilizados em 2009. 

Os recursos permitirão ampliar entre 10% e 15% as operações do banco em 2009 na comparação com 2008, quando o BEI deverá desembolsar cerca de 50 bilhões de euros. O banco europeu tem 2,8 bilhões de euros para empréstimos na América Latina até 2013. 

Segundo ele, os bancos de desenvolvimento têm vocação para encontrar soluções inovadoras, sobretudo em períodos de crise de liquidez. Neste momento os bancos de desenvolvimento saberão, segundo ele, identificar formas e mecanismos adequados, sobretudo nos setores mais atingidos pela crise, que são as pequenas e médias empresas, afirmou. 

Coelho avaliou que há uma mensagem de empenho e algum otimismo das instituições financeiras, mas será preciso limitar o que se pode esperar dos bancos de desenvolvimento. Os recursos, em alguns casos como o do próprio BEI, vêm do mercado de capitais. Significa que as instituições de fomento têm limitações para captar recursos no mercado de capitais em meio à crise de liquidez internacional. 

Enrique Villarreal, diretor geral técnico do Instituto de Crédito Oficial (ICO), da Espanha, disse que é preciso inovar mas não a partir de produtos sem controle como ocorreu nos últimos anos. 

"O que se demonstra é que os bancos públicos têm novamente um protagonismo e que as medidas (a serem tomadas) precisam ter caráter internacional. Vamos ter de suportar o ajuste (que virá da crise) mas o papel dos governos e dos bancos públicos será determinante para recuperar a confiança das pessoas nos mercados financeiros", previu. 

Para o presidente da Alide, Luis Rebolledo, Estado e empresas privadas "têm que dar as mãos" para superar a turbulência internacional. Segundo ele, os bancos de desenvolvimento dos países emergentes devem buscar parcerias com as instituições privadas para o financiamento de projetos, como forma de reduzir os efeitos da crise financeira internacional. 

"Nos anos 90, o mercado era Deus e antes o Estado era Deus. Hoje as pessoas se dão conta de que nem o setor privado, nem o Estado podem cumprir todos os papéis. Há que se buscar alianças para financiar projetos de maneira conjunta", disse Rebolledo. Ele mostrou-se otimista em relação à América Latina, que se encontra em situação diferente da existente em outras crises. Para ele, um dos desafios dos bancos será a criatividade para continuar sustentando o crescimento das economias emergentes. 

"Temos que aplicar a nossa criatividade para ter inovação financeira, sustentar o investimento em infra-estrutura e os programas de inclusão social", ressaltou. "As políticas anticíclicas dos governos e o impulso aos bancos de desenvolvimento são fundamentais para superar essa crise, que é a maior desde os anos 30", comparou. 

VOLTAR IMPRIMIR