24 de Outubro de 2008 - 14h:45

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Itaminas coloca à venda reserva de minério

Por: Valor Econômico - Ivo Ribeiro

O grupo Itaminas, controlado pelo empresário Bernardo Melo Paz, vai pôr à venda nos próximos dias seu principal ativo, uma mina de ferro com reservas superiores a 1,3 bilhão de toneladas. O negócio integra um plano de reestruturação financeira, fiscal e tributária das empresas que compõem o conglomerado mineiro, que atua em mineração, produção de ferro-gusa e reflorestamento. Para coordenar a operação, de venda e liquidação dos passivos, Paz contratou há um mês a assessoria da Winbros Participações e Empreendimentos, de Belo Horizonte. 

O primeiro passo no processo já foi dado, informou ao Valor, por telefone, Wilson Brumer, um dos sócios da Winbros, especializada em reestruturação, aquisições e fusões de empresas. Segundo ele, advogados e firmas especializadas acabaram de fazer uma ampla auditoria nos passivos fiscais, trabalhistas e tributários das mais de dez empresas que formam o grupo Itaminas. O processo demorou cerca de seis meses. Ele explica que o objetivo da venda do negócio de minério de ferro, cuja mina fica em Sarzedo, na região do quadrilátero ferríferro mineiro, é equacionar toda a dívida da Itaminas, que é relevante, e fortalecer as demais empresas do grupo. A Itaminas tem plano de manter o negócio de ferro-gusa. 

A operação de minério de ferro é tocada pela Itaminas Comércio de Minérios S.A., que produz atualmente 3,5 milhões de toneladas e tem em curso investimentos para chegar a uma capacidade de 5 milhões em março do próximo ano. "São aportes nada expressivos na área de beneficiamento do minério, já em andamento, que ampliam a capacidade da mina imediatamente", disse Brumer. 

O mandato exclusivo à Winbros permite que Brumer e seu sócio Romeu Scarioli tracem a melhor modelagem de venda da Itaminas. O processo será iniciado desde já, recebendo propostas de grupos interessados. Segundo Brumer, não faria sentido vender esse ativo e não equacionar completamente a situação de todos os passivos do grupo comandado por Bernardo Paz. O objetivo é buscar a melhor forma de agregar valor à mina e suas reservas, que está entre as poucas de médio porte que ainda restam em Minas Gerais. 

Com o boom da siderurgia mundial, puxado pela China, as matérias-primas e insumos do aço, como minério de ferro e carvão, ganharam destaque mundo afora. No Brasil, particularmente em Minas, foram comprados vários ativos por grupos como Anglo American, MMX, ArcelorMittal, Usiminas e há poucos dias 40% da Namisa/CSN por um consórcio nipo-coreano que inclui Nippon Steel, JFE e Posco. 

Brumer informa que as reservas da mina, que fica por rodovia a 8 quilômetros dos trilhos da ferrovia da MRS Logística, são suficientes para desenvolver um projeto de até 25 milhões de toneladas futuramente, incluindo uma usina de pelotização de 7,5 milhões de toneladas. "Isso já está previamente estudado e poderemos aprofundar durante o processo de venda com os candidatos que fizerem a "due diligence" dos ativos e avançarem nas negociações." 

Para o executivo, ainda se justifica o investimento de grupos, principalmente siderúrgicos, mesmo no atual cenário de crise financeira e econômica mundial. "Os preços do minério e das commodities não irão voltar aos patamares de anos atrás depois das expressivas altas que tiveram". Para Brumer a tênue linha que separava mineradoras e usinas de aço desapareceu com os aumentos de preços elevados praticados por Companhia Vale do Rio Doce, Rio Tinto e BHP Billiton, as três gigantes do minério de ferro. 

Fundado no fim dos anos 50, a Itaminas sempre foi de controle familiar e nos seus bons tempos esteve entre as maiores produtoras de ferro de minas, atrás de Vale e das antigas MBR, Samitri e Ferteco e no mesmo porte da Socoimex. Todas vendidas para a Vale. Até maio deste ano, Bernardo Paz dividia o controle do grupo com as acionistas Vilma Pires, Suely Pires e Gracie Pires. Esse acerto societário, que deu a Paz quase 99% do controle, permitiu o início de um plano de reestruturação. 

Em Sete Lagos e Itatiaiuçú, o grupo opera três produtoras de ferro-gusa, insumo do aço que já enfrenta os efeitos da crise americana - Itasider, São Sebastião e MGS. Controla também a reflorestadora Replasa. Como muitas guseiras do país, as da Itaminas enfrentaram denúncias de agressão ao meio ambiente, integrando a chamada "Lista suja" do setor. 

Bernardo Paz, na casa dos 55 anos, recentemente voltou-se para o mundo artístico e cultural. O empresário montou, em 2004, em uma de suas fazendas situada em Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte, o Museu de Arte Contemporânea Inhotim, com 450 obras de artistas brasileiros e estrangeiros. É conhecido, por essa atitude "visionária" , de o Fitzcarraldo mineiro. 

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