02 de Outubro de 2008 - 15h:48

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Em cada crise surgem oportunidades de compra

Por: Valor Econômico - Werner Roger

Crise, palavra mais ouvida ultimamente e que afeta todos que possuem investimentos no mercado financeiro. A palavra crise origina-se do grego "krisis", que significa decisão. De acordo com o dicionário Aurélio, encontramos entre outros significados: "Estado de dúvida e incerteza; momento perigoso ou decisivo; ponto de transição entre uma época de prosperidade e outra de depressão, ou vice-versa; fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos fatos, das idéias." Creio que estas definições se aplicam ao atual momento. 

Fazendo uso da palavra crise, voltamos um pouco na história para verificar os efeitos das crises na economia do Brasil e nas bolsas de valores. Provocamos os leitores a refletirem sobre o que se passou na economia do país nos últimos 28 anos e a pensarem a respeito de seus investimentos no longo prazo. 

Na década de 70, durante o Milagre Econômico, o Brasil teve taxas de crescimento comparáveis às da China atual, 8,8% de crescimento médio anual do PIB entre 1971 e 1980. No último ano do "milagre", o país cresceu 8,0%. Naquele ano, a lista das dez maiores empresas negociadas na Bovespa tinha valor de mercado de US$ 9,7 bilhões, com o Banco do Brasil na liderança, com US$ 2,3 bilhões. Desta lista faziam também parte por ordem de valor: Petrobras, Eletrobrás, Cesp, Bradesco, Itaú, Vale, Souza Cruz, Light e Pirelli. 

Mergulhamos, então, na década de 80, conhecida como Década Perdida. De 1981 a 1983, o PIB caiu cumulativamente 4,2%. De 1986 a 1990, vários foram os planos econômicos fracassados como Cruzado, Bresser, Verão, Collor I e II, provocando crises devido a fragilidade dos fundamentos econômicos do país. 

Entre 1993 e 1998, enumeramos novas crises, desta vez vindo de fora - México em 1993; Ásia em 1997; e Rússia em 1998. Em janeiro de 1999, nova crise, com forte ataque contra a moeda brasileira culminando com a desvalorização da moeda em 30% e adoção do câmbio flutuante pelo Banco Central. Em 2001 nova turbulência dos mercados após o evento de 11 de setembro. Em 2002, crise com fuga de capitais, a moeda brasileira se desvalorizando fortemente, economistas estrangeiros prognosticando a quebra do país devido ao temor do candidato Lula eleger-se sucessor do presidente FHC. 

Mas desde a eleição do presidente Lula, o país vem apresentando um processo gradativo de recuperação econômica e social, com o presidente alcançando índices de popularidade invejáveis que o levou a reeleição em 2006, culminando com duas agências classificadoras de risco elevando o Brasil ao tão cobiçado grau de investimento em 2008. 

Se considerarmos uma carteira hipotética de US$ 10 mil no fim de 1980 com Banco do Brasil, Petrobras, Vale, Eletrobrás, Bradesco, Itaú e Souza Cruz, com 20% de alocação individual para as três primeiras e 10% para as demais, esse portfólio teria um valor atual de mercado de US$ 574 mil, ou um ganho anual de 15,6% ao longo de quase 28 anos, excluindo os ganhos com dividendos. Devemos considerar que partimos de um ponto que pode ser considerado como pico, último ano do Milagre Econômico. Nada mal para uma poupança de longo prazo. Se ajustarmos o valor do dólar pela inflação americana (CPI) de 154% no período, ou 3,4% ao ano, ainda assim teríamos ganho bastante razoável, já ajustado pelo poder de compra da moeda. 

A história e os dados aqui relatados nos ensinam que mesmo após sucessivas crises e com o Brasil tendo sua economia estabilizada apenas na metade dos últimos 28 anos, investimentos nas principais empresas negociadas na Bovespa trouxeram ganhos substanciais no longo prazo. O Milagre Econômico dos anos 70 produzido de forma artificial deixou-nos como legado a maior dívida externa do mundo, duas moratórias, o maior déficit em conta corrente, um dos maiores déficits públicos em relação ao PIB e uma das maiores inflações do mundo no decorrer de quase quinze anos seguintes. 

Atualmente, o Brasil possui estabilidade política, condições econômicas favoráveis jamais vistas na história recente, apesar de uma das maiores taxas de juros real do mundo. O Brasil caminha ainda num processo gradativo de melhora na distribuição de renda, possui auto-suficiência energética e é dos poucos países com possibilidade de aumentar a oferta de alimentos e biocombustíveis, sem falar do potencial da indústria petrolífera. Temos também inúmeros problemas e deficiências. O momento é de crise financeira mundial, mas acreditamos que surge mais uma janela de oportunidade de se ganhar com a crise. Em cada crise, surge oportunidade de compra de ativos a preços atraentes. 

Werner Roger é gestor da Victoire Finance Capital 
E-mail
werner.roger@victoire capital.com.br 


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