30 de Janeiro de 2007 - 18h:40

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Juros em operações para pessoa jurídica caem menos que para física

Mesmo com o crescimento da importância das pequenas e médias empresas para os bancos em 2006, os spreads nas operações de crédito para pessoa jurídica caíram em ritmo muito menor que para pessoa física.

Por: DCI

Mesmo com o crescimento da importância das pequenas e médias empresas para os bancos em 2006, os spreads nas operações de crédito para pessoa jurídica caíram em ritmo muito menor que para pessoa física. De acordo com dados do Banco Central, a diferença entre o custo de captação e a taxa final cobrada do cliente chegou a 13,5% ao ano em dezembro do ano passado, contra 13,8% ao final de 2005, uma queda de 0,3 pontos percentuais. Já para as pessoas físicas, essa margem bruta dos bancos caiu de 42,8% em 2005 para 39,6% ao final de 2006, queda de 3,2 pontos.

Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a diferença se justifica pelo nível de risco. “Além do risco maior, estas empresas também aceitam pagar um pouco mais para ter acesso ao crédito, o que torna a operação mais rentável para o banco.”

Para o professor Alcides Domingues Leite, da Trevisan Escola de Negócios, a queda maior nas operações para pessoas físicas é conseqüência de um ajuste. “O spread estava muito alto para este segmento, o que permite um corte mais rápido. No entanto, as margens nas operações com empresas também são muito altas ainda, e devem cair nos próximos anos”, projeta.

Para Leite, o próprio aumento no volume emprestado para companhias de médio e pequeno porte farão com que os juros caiam para estes clientes. “Com um crescimento dos empréstimos feitos, os custos da operação para os bancos também vão caindo, o que vai permitir um corte no spread sem que para isso o banco comprometa seus lucros”. De acordo com estudo feito pelo Banco Central, somente os custos administrativos correspondem a cerca de 25% da margem bruta dos bancos nas operações.
Por causa destes ganhos maiores, e também pela opção das grandes companhias de recorrerem a fontes alternativas de financiamento, os bancos esperam um crescimento vigoroso do crédito para o segmento de pequenas e médias empresas em 2007. Muitos bancos projetam aumento da carteira próximo ao de pessoa física. “Não acredito em um crescimento menor do que 30% para este ano no crédito para empresas de pequeno e médio porte”, afirma Milto Bardini, vice-presidente do BicBanco.

Em 2006, a carteira do banco, composta principalmente por este segmento, conhecido como middle market, cresceu 60%. “Não tenho dúvidas que 2007 será o ano do crédito. Os juros vão continuar caindo, e as condições econômicas são favoráveis para que tenhamos um crescimento vigoroso novamente”, afirma.

Entre os setores empresariais, o que apresentou maior crescimento em 2006 foi o de serviços, chegando a um saldo de R$ 121,2 bilhões em dezembro. Um incremento de 22,2% em relação a dezembro do ano anterior, quando o setor era responsável por um saldo de R$ 99,1 bilhões em crédito nos bancos. “Este é um setor que tem uma importância muito grande na composição do Produto Interno Bruto (PIB), e por isso a demanda tem aumentado muito”, explica o professor Leite.

Crédito x PIB

Em 2006, o saldo de crédito chegou a 34,3% do PIB, contra 31,2% em dezembro de 2005. Para os especialistas, ainda é muito pouco, mas o cenário deve melhorar nos próximos anos. “Acredito que possamos chegar próximo aos 40% até o final deste ano”, afirma Oliveira, da Anefac. “Ainda é muito baixo, longe do ideal. Mas se levarmos em consideração que, no início do governo Lula, a relação estava em 25%, tivemos um grande avanço”, completa.

Para Leite, a relação crédito/PIB deve chegar aos 50% até o final do atual governo. “Acredito que os juros precisam cair mais ainda, e é agora que vamos começar a sentir o efeito dos cortes feitos no ano passado. Nossa meta é igualar a relação conseguida pelo Chile, de cerca de 60%. Mas acredito que vamos demorar para atingir este patamar.”

O financiamento habitacional é considerado fundamental para que estes objetivos sejam atingidos. “Esta é uma modalidade que vai crescer muito, tem um potencial enorme. Com o cadastro positivo, e se for possível contratar crédito consignado para compra de imóveis, o incremento será ainda mais significativo”, afirma o professor Leite. Em 2006, o financiamento habitacional cresceu 22,7%, de acordo com os dados do Banco Central.

Os bancos defendem, há muitos anos, a diminuição dos encargos tributários e do depósito compulsório para que os juros cobrados do tomador também caiam. “Acho que um item que deveria ser discutido pelo governo é a extinção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Esta medida resultaria em uma diminuição dos custos para o tomador”, afirma Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco.

Para Miguel de Oliveira, da Anefac, o mais importante é a diminuição do compulsório. “Acho que o nível exigido hoje pelo Banco Central é exagerado. Nos tempos de hiperinflação, se justificava pela necessidade de evitar que os bancos não emprestassem e ganhassem mais com títulos públicos. Hoje, os bancos precisam emprestar, e este dinheiro a mais faria com que a oferta fosse maior”, afirma.

Atualmente, os bancos precisam recolher 45% dos depósitos à vista para o Banco Central, e estes recursos não são remunerados. Já a alíquota do IOF sobre as operações de crédito é de 1,5% do valor total contratado.
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