29 de Julho de 2008 - 15h:32

Tamanho do texto A - A+

Governo admite que a situação das Aerolíneas Argentinas é crítica

Por: Folha Online

O governo argentino admitiu nesta terça-feira que a situação da empresa de aviação Aerolíneas Argentinas, cujo controle foi retomado pelo Estado há uma semana da espanhola Marsans, é crítica.

A declaração foi feita pelo secretário de Transporte, Ricardo Jaime, diante da continuação dos atrasos e cancelamentos de vôos domésticos e internacionais por falta de aviões disponíveis e overbooking.

No entanto, apesar disso tudo e de um passivo de 890 milhões de dólares que a coloca à beira da falência, o secretário negou a possibilidade de permitir que a companhia aérea feche as portas.

Jaime declarou ainda que confia na normalização paulatina das operações.

"Dentro da gravidade, a situação já está um pouco melhor", afirmou.

"Se outras empresas oferecerem para trasladar os passageiros nesta conjuntura, será bem-vinda", acrescentou.

Para Ricardo Cirieli, secretário-geral da Associação de Pessoal Técnico Aeronáutico (APTA), não um excedente de passageiros e sim uma falta de aviões.

"O problema é a falta de investimento na área da manutenção, é ter 60% da frota parada porque o grupo Marsans não comprou reposições", criticou.

Diego Sierra, do sindicato que reúne os pilotos da subsidiária Austral, assegurou que a colaboração é total par enfrentar a a reprogramação de emergência feita para tirar a empresa do atoleiro.

Novos atrasos de vôos continuavam prejudicando o trânsito de milhares de passageiros em Buenos Aires, numa situação que teve início neste fim de semana.

O problema afeta os estrangeiros que se encontram no país em férias e dependentes das conexões domésticas. Os vôos para o Brasil e a Europa são os mais prejudicados pelos atrasos e cancelamentos.

"Houve uma excessiva venda de passagens ante a escassez de aviões disponíveis para a temporada de inverno", informou neste domingo o novo presidente das Aerolíneas Argentinas-Austral, Julio Alak, designado na semana passada pelo governo de Cristina Kirchner.

Entre os passageiros retidos no aeroporto de Ezeiza estão muitos turistas brasileiros, que se queixam da falta de informação e, principalmente, das dificuldades de acomodação e alimentação.

O ministro do Planejamento, Julio de Vido, acusou a Marsans de querer fazer caixa vendendo passagens além do número de aviões e tripulação de bordo disponíveis.

Os vôos domésticos também sofrem com o caos generalizado e que atinge também o aeroparque "Jorge Newbery". O início do recesso escolar de inverno faz com que muitas famílias aproveitem para viajar para centros de esqui.

Os problemas que alteraram o programa dos vôos começaram em meados da semana passada, apesar de, num primeiro momento, terem sido atribuídos à neblina e a certas interferências de radioemissoras clandestinas nas comunicações entre a torre de controle e as aeronaves.

O governo argentino assinou na segunda-feira da semana passada o acordo de reestatização das companhias Aerolíneas Argentinas (AA) e Austral, em crise depois de sete anos em poder do grupo espanhol, com um passivo de 890 milhões de dólares.

A iniciativa de voltar a estatizar soma-se às empreendidas durante o governo do presidente peronista social-democrata Néstor Kirchner (2003-2007), com as empresas de água potável, correios e estradas de ferro, entre outras.

A privatização das AA e Austral havia sido uma das mais polêmicas dos anos 90, quando o presidente peronista liberal Carlos Menem (1989-1999) as cedeu à espanhola Iberia, apesar de um aluvião de denúncias judiciais por corrupção presumível.

A Ibéria se retirou do negócio em 2001 e deixou um passivo de 700 milhões de dólares, quantia com a qual teve que arcar o erário público argentino para transferir a posse ao grupo espanhol Marsans que, por sua vez, pagou um preço simbólico de um euro.

Durante o ano, o gerenciamento da Marsans fracassou e o Estado teve que pagar os 9.000 assalariados das empresas.

Ambas controlam 80% do mercado de cabotagem, paralelamente às rotas internacionais administradas pela AA.

Apenas 32 dos 56 aviões da frota total de ambas as companhias estão em condições de voar, segundo o sindicato da Associação de Pilotos, que denunciou um processo de esvaziamento.

da France Presse, em Buenos Aires

VOLTAR IMPRIMIR