22 de Julho de 2008 - 18h:10

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Eucatex fecha acordo com os credores e sai da recuperação judicial

Por: ISTOÉ DINHEIRO

Nos últimos anos, o nome da família Maluf freqüentou tanto as páginas policiais como as econômicas da imprensa brasileira. Na primeira, Paulo e seu filho Flávio Maluf eram acusados de evasão de divisas e sonegação de impostos, entre outras irregularidades. Nas econômicas, o assunto não era mais ameno. A Eucatex, controlada pelo clã, sufocada por um pesado endividamento, buscara abrigo na Lei de Recuperação Judicial. Dias atrás, pelo menos da enrascada empresarial os Maluf haviam se libertado. Com voto favorável de 100% dos credores, o plano de recuperação apresentado pela Eucatex foi aprovado, quatro anos e meio depois do pedido de concordata. Dela, sai uma organização mais magra, mas aparentemente mais saudável. Hoje, o endividamento da empresa soma R$ 98,7 milhões, algo em torno de uma vez a geração de caixa anual da empresa. Há um ano, a dívida atingia mais de R$ 360 milhões. A Eucatex não parcelou sua dívida – ela a pagou. Mas o preço pago alterou o próprio desenho acionário da companhia e reduziu seu patrimônio. Parte dos débitos foi paga com terras – sete fazendas de reflorestamento, num total de quase nove mil hectares. Os credores receberão também R$ 60 milhões em dinheiro ao longo de dez anos e ficarão com uma parcela do capital da Eucatex. Assim, Bradesco, credor de 29% das dívidas, Unibanco (28%), Petros (27%) e Grupo Itaú (16%) tornaram-se sócios dos Maluf no negócio. Juntos, eles passaram a deter 7,5% das ações. A família Maluf fica com 21,7% do capital total, mas, com 59,8% das ordinárias, mantém o controle da companhia. “Com esse acordo, nos livramos de uma camisa-de-força”, afirma José Antonio Goulart de Carvalho, vice-presidente executivo e diretor de relações com investidores da empresa. “Essa pendência sempre deixava um ponto de interrogação na cabeça de nossos fornecedores e dos agentes financeiros.”

A comemoração de Carvalho poderia ter ocorrido há cerca de um ano, quando uma assembléia de credores aprovou o plano de recuperação. A Petros, porém, não aceitou os termos propostos – a Eucatex sugeria que a totalidade de debêntures em poder do fundo de pensão fosse convertida em ações. O caso foi parar nos tribunais. Uma negociação entre as duas partes estendeu para a Petros as condições oferecidas para os demais credores. “Era uma boa proposta”, defende Carvalho.

“Na ocasião, as ações da Eucatex estavam cotadas a cerca de R$ 1,3. Hoje, estão no patamar de R$ 8,4.” Ao longo do período de recuperação, a Eucatex manteve alguns investimentos, que, segundo Carvalho, permitirão à empresa acompanhar o explosivo crescimento do setor de construção civil. Cerca de seis mil hectares de florestas de eucaliptos foram plantados. Isso garante o atendimento do dobro do consumo atual da empresa para a fabricação de placas de madeira. A empresa também se tornou autosuficiente na geração de biomassa, a partir de resíduos de madeira, para suas fábricas. No setor de tintas imobiliárias, a Eucatex, quinta maior fabricante do País, estima uma expansão de 50% em 2007, depois de registrar um crescimento de 30% no ano anterior. Além disso, a empresa prepara a estréia em outros campos de atuação, diz Carvalho. O estoque de terrenos em diversas cidades, sobretudo em São Paulo, será utilizado para a construção de empreendimentos imobiliários, sempre em parceria com outras empresas do setor. Isso deverá gerar um acréscimo de R$ 100 milhões às receitas do grupo nos próximos cinco anos. “Entramos em nova fase”, diz Carvalho.

Joaquim Castanheira

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