25 de Junho de 2008 - 14h:42

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Credores acionam BenQ na Justiça

Por: Valor Online

Os principais credores da fabricante de celulares BenQ Eletroeletrônicos começaram a acionar a empresa na Justiça numa tentativa de recuperar pelo menos parte dos mais de R$ 250 milhões que a empresa deve. Dois pedidos de falência foram feitos na Justiça do Amazonas, pelo Banco Safra e pela Sanyo da Amazônia, e uma série de execuções judiciais tiveram início neste mês de junho, em São Paulo. Nomes de bancos importantes - como Unibanco e Morgan Stanley - estão por trás desses processos. A situação da empresa é crítica e desconhecida de muitos credores, que sequer sabem, por exemplo, que o controle foi transferido em março deste ano para o brasileiro Bianco Arrighi.

A BenQ era a fabricante de celulares Siemens que faliu na Alemanha e por isso entrou em crise também no Brasil. Ela foi adquirida em meados do ano passado pelos acionistas da griffe Zoomp, Enzo Monzani e Conrado Will, que tinham um projeto de vender celulares fashion. Hoje a BenQ se chama Jutaí 661 Equipamentos Eletrônicos e está instalada em Manaus. Apesar de terem transferido o controle para Bianco Arrighi, Monzani e Will constam como parte de todos os processos de execução que correm na Justiça de São Paulo. Alguns credores menores, que iniciaram a jornada mais cedo, já descobriram, entretanto, que esta é uma estratégia que não traz grandes resultados. Os dois executivos não possuem nada em suas contas bancárias.

A pressão de alguns credores ao iniciar a execução é tentar pelo menos recuperar os bens que foram dados em garantia, como maquinário da fábrica de Manaus. Com a execução da dívida, é possível determinar um depositário judicial dos bens, que pode ser preso caso não zele pelo patrimônio. O fundo em direitos creditórios America Multicarteira, que tem como cotista um fundo do Morgan Stanley, entrou com o pedido de execução de uma dívida superior a R$ 17 milhões na semana passada. O Unibanco cobra cerca de R$ 40 milhões. Em algumas execuções iniciadas em maio, como as promovidas pelo IGC Partners Assessoria Empresarial e o Banco Industrial, o oficial de Justiça informa que não teve como notificar a empresa, pois não possui mais o escritório em São Paulo.

O ex-diretor financeiro da BenQ, Claudio Laranjeiras, é atualmente uma espécie de consultor que ajuda na transição do controle da empresa, segundo sua própria definição. Ele diz que a empresa está hoje melhor do que há dois meses. Está operando e pagando salários dos 120 funcionários que ainda fazem parte dos quadros da empresa. A produção está focada basicamente em "pen-drives" e o atual comandante, Bianco Arrighi, tenta conseguir parceiros, segundo conta Laranjeiras. Um destes parceiros é uma empresa chamada Caribbean Telecom. Uma empresa chinesa também estaria interessada em participar da recuperação.

Segundo informações da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), a empresa hoje não pode fazer importações de matéria-prima com os benefícios oferecidos pela Zona Franca porque não renovou o seu cadastro. Laranjeiras diz que, de fato, a empresa não pode usufruir dos benefícios, mas que isso não tem atrapalhado o andamento das atividades. Por mês, o faturamento tem ficado em torno de R$ 1,5 milhão, segundo o ex-diretor financeiro. Ele afirma ainda que a empresa vai contestar os pedidos de falência e que vai apresentar um plano de recuperação que mostra a capacidade da empresa. "A foto de hoje da empresa é muito melhor do que de dois meses atrás", diz Laranjeiras.

O Valor tentou entrar em contato com o atual comandante da empresa, Bianco Arrighi, mas a ligação para seu telefone celular não foi completada. Os ex-donos da BenQ, Enzo Monzani e Conrado Will, também foram procurados e não retornaram as ligações. Enzo Monzano e Conrado Will são os principais alvos dos credores. Os dois estão desacreditados no mundo da moda: tiveram que entregar a Zoomp para um dos credores, o Global Capital, que colocou a saída deles da administração da empresa como condição para que um novo aporte de recursos. Além disso, tinham acordos a serem fechados ou já fechados com outras grifes famosas como Fause Haten e Alexandre Herchcovitch. Este último anunciou o fim do acordo durante a São Paulo Fashion Week, que terminou nesta semana na capital paulista.

Enzo Monzani e Conrado Will são egressos de uma administradora de recursos chamada Patrimônio Private Equity. Segundo investigação feita por alguns credores, os dois se especializaram em comprar empresas quebradas e sem recursos próprios. Em 2002, Monzani tentou conseguir uma licença da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para administrar um fundo de investimento que se chamaria Biomassa Fundo Mútuo de Empresas Emergentes, mas não conseguiu o registro. Segundo consta do processo da CVM, Monzani prestou informações falsas: disse que tinha se graduado em engenharia, mas não tinha o curso superior completo.
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