10 de Março de 2008 - 16h:05

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Em ano da soja, cana ganha terreno no MT

Arrendamentos de terras são usuais, mas, no caso do Mato Grosso, o plantio de cana também passou a ganhar espaço em lavouras antes ocupadas pela soja

Por: Valor On Line

Safra com soja em preços ascendentes, melhor acesso ao crédito, presença da ferrugem asiática mais controlada e demanda crescente pelo grão significaram aumento generalizado da produção e da produtividade no Mato Grosso. Não para todos os produtores. Mesmo em um cenário bem mais favorável para a cultura, houve quem preferisse arrendar terras e afastar-se das oscilações do mercado.

Arrendamentos de terras são usuais, mas, no caso do Mato Grosso, o plantio de cana também passou a ganhar espaço em lavouras antes ocupadas pela soja. Na região de Alto Taquari, no extremo sul do Estado, próximo das divisas com Mato Grosso do Sul e Goiás, a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco) está plantando cana em áreas arrendadas. São 35 mil hectares. A empresa anunciou no ano passado o projeto de construção de uma usina no município.

O investimento desloca um pouco o eixo canavieiro do Mato Grosso, concentrado especialmente nos pólos de Nova Olímpia, Barra do Bugre e Tangará da Serra, a noroeste de Cuiabá. A ocupação de terras de soja também altera o perfil da cana no Estado, onde predomina o plantio em terras próprias ou ligadas a cooperativas. "O pessoal preferiu arrendar terra a ter dor de cabeça com a soja", afirma o agrônomo Luciano Perozzo, da Agro Amazônia, que atua na região.
Arrendamentos de terras de soja para o cultivo de cana são raros no Estado, atesta Jorge dos Santos, diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado de Mato Grosso (Sindalcool-MT). "Até 2004, 2005, 100% das terras de cana no Estado era das próprias usinas", afirma.
A mudança não faz sombra à soja - na safra 2007/08, a oleaginosa deve ocupar 5,6 milhões de hectares e a cana, 225 mil hectares, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) -, mas rememora o passado canavieiro do Estado. A pioneira Usina de Itaici, construída em 1896 e desativada em 1957, é creditada como o primeiro consumidor de energia elétrica do Mato Grosso.
Ainda que, em comparação com outras culturas, a cana ocupe pequena área no Estado, arrendamentos e projetos de novas usinas estão inaugurando uma nova etapa para o setor, afirma o diretor-executivo do Sindalcool. A primeira fase foi protagonizada exclusivamente pela Itaici. Nos anos 60, entrou em operação a Usina Jaciara, no município de mesmo nome. Outras dez usinas entraram em operação depois dela, e o número de 11 usinas permanece o mesmo.
O arrendamento de terras ocupadas pela soja ajudará a ampliar a participação da cana no agronegócio mato-grossense. Há apenas duas safras, o volume de cana moída foi de 12,4 milhões de toneladas. No próximo ciclo, o número ficará próximo de 16 milhões de toneladas, de acordo com o Sindalcool - a projeção é de 15,8 milhões de toneladas.
Os empregos nas indústrias sucroalcooleiras já somam 2,9 mil e, no campo, 12,2 mil - com os empregos indiretos, são mais de 80 mil trabalhadores ligados à cadeia, segundo o sindicato. Ao contrário da projeção da Conab, que aposta queda na produção de açúcar no Estado, o Sindalcool prevê 536,2 mil toneladas na safra 2007/08, volume 7,1% maior que o da safra anterior.
A safra da soja está bem mais promissora, mas não foi o suficiente para evitar o arrendamento de boa parte dos 6 mil hectares da colônia russa localizada em Primavera do Leste. Quase todos os membros da colônia, composta por 21 famílias, arrendou as terras e agora vende mão-de-obra.


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