06 de Dezembro de 2016 - 15h:07

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Proposta de reforma da Previdência é 'muito dura', dizem analistas

Por: G1

Desvinculação de pensões e auxílios ao salário mínimo divide opiniões. Para especialistas, texto foi elaborado pensando em margem de negociação.

A proposta de reforma da Previdência Social surpreendeu até mesmo defensores de mudanças nas regras das aposentadorias. Para economistas e especialistas em Previdência ouvidos pelo G1, o texto foi elaborado pensando em uma boa margem de negociação no Congresso para conseguir a aprovação de um assunto tão polêmico e que mexe diretamente com o futuro dos brasileiros.

“É bem dura. Estão pegando pesado. Estão jogando muito mais pra cima para conseguir alguma coisa mais pra baixo. É estratégia de negociação, é normal, faz parte do jogo", avalia o economista-chefe da Gradual Invest, André Perfeito. A presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, Jane Berwager, considerou a proposta "muito radical" e se disse surpresa pela possibilidade de a idade mínima para aposentadoria ser ainda maior do que 65 anos. A reforma prevê ainda um mecanismo de ajuste automátivo da idade mínima de acordo com o aumento da chamada "sobrevida" da população brasileira. "Veio além da dose, muito muito radical. Penso que o Congresso precisaria amenizar isso e achei muito cruel a questão da desvinculação do salário mínimo de benefício assistencial, que são pessoas idosas e deficientes. É é realmente uma coragem muito grande", diz.

Pela proposta apresentada pelo governo, nenhum aposentado receberá menos que um salário mínimo. O texto prevê, entretanto, a desvinculação de pensões e auxílios ao salário mínimo. A mudança é polêmica, mas permitirá redução dos gastos com a Previdência já no curto prazo. "Seria interessante se tivesse outro tipo de desvinculação nessa regra, mas atingir pensão e auxílios isso já ajuda, é importante e deverá ter um impacto relevante", afirma o economista Fabio Klein, da Tendências Consultoria.

O governo informou que estima que deixará de gastar cerca de R$ 740 bilhões em 10 anos, entre 2018 e 2027, com as mudanças propostas por meio da reforma da Previdência Social. Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, a desvinculação é importante para reduzir o rombo da Previdência e sinalizar um compromisso de curto, médio e longo prazo. "Esse tipo de medida ajuda a antecipar o efeito no caixa. E tem também impacta nas expectativas, pois hoje o Brasil é uma questão de expectativa. É preciso mostrar para o investidor que não vai ter calote lá na frente. E isso é importante hoje para estabilizar a economia", destaca.

Outro ponto elogiado foi a inclusão do funcionalismo público sob as mesmas regras. “[a reforma] vai colocar incluir o regime próprio dos servidores públicos, incluindo inclusive políticos. Isso é fundamental, não tanto pelo impacto fiscal, mas pelo efeito simbólico de que todo mundo vai entrar na conta”, afirma Klein.

Perfeito alerta, entretanto, para o quadro político mais conturbado, com escândalos recentes envolvendo aliados do presidente Michel Temer e agora com o astamento de Renan Calheiros da presidência do Senado, o que provoca incertezas quanto ao ritmo de avanço de medidas no Congresso. "Estou com dúvida em relação a dinâmica política. Está tudo muito ofuscado", diz o economista lembrando que com o afastamento de Renan que assume a presidênciad o Senado é o senador Jorge Viana (AC), do PT. Para Zeina Latif avalia, porém, que o debate sobre a reforma da Previdência deve se impor independente quadro político "mais difícil". "O que percebo é que há uma postura um pouco mais flexível. Tem central [sindical] falando que é muito dura essa proposta, mas ao menos parece estar aceitando discutir. Pelo menos agora já é um debate muito mais maduro. Então, acredito que temos condições de aprovar algo importante mesmo com o quadro político difícil, mesmo porque como sociedade não temos muita opção", afirma.

Rombo da Previdência

A expectativa do governo é que o texto seja aprovado no primeiro semestre do próximo ano pelo Congresso Nacional. Por se tratar de uma mudança na constituição, tem de passar pelos plenários da Câmara e do Senado, em duas votações, com maioria de 3/5 dos parlamentares, além de sessões do Congresso Nacional. O objetivo do governo ao propor uma reforma da Previdência é tentar manter a sustentabilidade das contas públicas, diante de um déficit crescente do sistema previdenciário brasileiro – que resulta de regras atuais mais benéficas do que no resto do mundo, de um envelhecimento da população brasileira e de queda na taxa de natalidade no país. A proposta de reforma da Previdência visa evitar um crescimento ainda maior, no futuro, do rombo da Previdência Social - cuja previsão é de R$ 230 bilhões para 2017, englobando trabalhadores do setor privado, público e as pensões de militares, o equivalente a 3,46% do PIB. Os números constam na proposta de orçamento do ano que vem.

O déficit do sistema previdenciário é pago por toda sociedade, com recursos obtidos por meio da arrecadação de impostos. Neste ano, o déficit dos sistemas de Previdência Social do país deve ficar em cerca de R$ 200 bilhões (3,2% do PIB). Com isso, a previsão é de um aumento de cerca de 15%, ou de R$ 30 bilhões, no rombo dos sistemas previdenciários em 2017.
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